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ESPIÓES DA MÁFIA

Esquadrão Suicida da vida real? Governo contratou mafiosos para matar Fidel Castro

Divulgação/Paramount+

Espiões da Máfia volta aos anos 1960 para contar história real que renderia uma ótima ficção

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LUCIANO GUARALDO

luciano@noticiasdatv.com

Publicado em 17/7/2024 - 18h00

Às vezes, histórias da vida real são tão surreais que mais parecem uma ficção. É o caso de Espiões da Máfia, série documental que estreia nesta quarta-feira (17) no Paramount+. A produção volta aos anos 1960 para contar um momento inusitado da história mundial: quando a CIA, órgão máximo de inteligência do governo norte-americano, se aliou a mafiosos e encomendou que matassem Fidel Castro (1926-2016).

Ao longo de seus seis episódios, Espiões da Máfia apresenta os personagens e as motivações de todos os lados. Para os agentes da CIA, o socialismo de Castro representava uma ameaça direta ao capitalismo e ao American way of life que o governo dos Estados Unidos tentava espalhar pela América Latina.

Para a máfia, o revolucionário era um obstáculo à manutenção dos cassinos que a organização criminosa havia implantado em Cuba durante o governo do corrupto Fulgencio Batista (1901-1973). Com interesses em comum, embora em lados opostos da lei, as duas partes criaram uma aliança que desafia qualquer lógica --em uma espécie de Esquadrão Suicida da vida real.

Showrunners de Espiões da Máfia, Tom Donahue e Ilan Arboleda admitem que até eles ficaram chocados com as descobertas que fizeram enquanto desenvolviam a produção baseada no livro homônimo de Thomas Maier (autor também da obra Masters of Sex, que gerou a série de ficção homônima).

"Tem algumas coisas insanas! No primeiro episódio, há uma cena de sexo entre [o ex-presidente] John Kennedy [1917-1963] e duas prostitutas, com os mafiosos observando tudo através de um espelho falso. E, no terceiro, é formado um triângulo amoroso que eu ainda acho inacreditável", provoca Donahue em entrevista exclusiva ao Notícias da TV.

É tudo tão inacreditável que o produtor Danny Strong (da minissérie Dopesick) havia comprado os direitos do livro de Maier justamente para adaptá-lo como uma série de ficção. Porém, ele acabou convidando os amigos Donahue e Arboleda para tocarem a adaptação como um documentário mesmo.

"Nós lemos o livro e ficamos loucos. Aceitamos na hora. Ele tinha tudo o que buscamos em um projeto! Depois, fomos para a Paramount, que comprou a ideia rapidamente", diz Arboleda à reportagem. "Foi até fácil, de certa maneira."

Muito mais difícil para a dupla foi encontrar personagens dispostos a falar. Afinal, mafiosos, agentes da CIA e cubanos da época de Castro não são exatamente conhecidos por abrirem a boca. Ou por aceitarem que mexam em seus passados. "Eu estou em um esconderijo agora", brinca Donahue.

"Foi um processo interessante, porque nós fizemos a série de maneira rápida. Os primeiros depoimentos vieram de quem já tinha falado para o livro, e eles nos levaram a outras pessoas. Como tudo aconteceu nos anos 1960, a maioria das pessoas já morreu. Então, fomos atrás de especialistas, os melhores de cada área, para nos ajudar a contar essa história", fala Arboleda.

"E nós queríamos construir tudo em cima de fatos, e nossos entrevistados foram muito claros em uma exigência: 'Se você colocar essa ou aquela pessoa, eu não vou falar'. Eles não queriam conspiracionistas, porque isso tiraria o valor do trabalho que eles desenvolvem há décadas. E nós não queríamos isso também. Por isso, baseamos nosso trabalho em documentos da CIA, do FBI, em frases tiradas de depoimentos oficiais", valoriza Donahue.

A dupla também conseguiu falar com cubanos que participaram da revolução de Castro. "Acho que é a primeira vez que um documentário norte-americano tem acesso a essas pessoas", diz Arboleda. "Temos depoimentos das crianças que estavam na Invasão da Baía dos Porcos [1961], conseguimos um material muito raro para um projeto dos Estados Unidos", completa Donahue.

Dedo na ferida

Espiões da Máfia também não tem medo de colocar o dedo na ferida e apontar a tentativa frequente de interferência do governo norte-americano em outros países --o que continua acontecendo nos dias de hoje.

"O que aconteceu em Cuba deveria ter sido o apogeu dos nossos erros, certo? Porque o governo já tinha participado de outros golpes na América Latina, como na Guatemala em 1954. Então, tinha essa falsa sensação de segurança, de que poderiam fazer qualquer coisa. E aí, deu tudo errado", aponta Arboleda.

"[O ex-presidente Dwight] Eisenhower ficou muito traumatizado com o Dia D [1944], então queria evitar o derramamento de sangue vivido na Segunda Guerra Mundial [1939-1945]. Ele não queria uma Guerra Quente. Então, confiou na Inteligência para fazer essas operações secretas, evitar que mais pessoas morressem e tentar mudar regimes políticos na surdina", diz Donahue.

"Antes da CIA, o setor de operações e a inteligência eram separados. Cada um agia na sua área. Aí, no governo de Eisenhower [1953-1961], ele juntou as duas coisas sob o guarda-chuva da CIA. Algo que jamais deveria ter acontecido", observa Arboleda. "Foi um grande erro", concorda Donahue.

As consequências são sentidas até hoje, e a série ajuda na compreensão do panorama geopolítico atual --por mais que a história se passe há 60 anos. Os seis episódios de Espiões da Máfia chegam ao Paramount+ nesta quarta. Confira o trailer da série documental:

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