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NÃO É OBRA DE FICÇÃO

Delegacias da Mulher confirmam: vida real está repleta de trogloditas como Gael

Reprodução/TV Globo

Gael (Sergio Guizé) tem momento de fúria em O Outro Lado do Paraíso: triste cotidiano - Reprodução/TV Globo

Gael (Sergio Guizé) tem momento de fúria em O Outro Lado do Paraíso: triste cotidiano

REDAÇÃO

Publicado em 10/11/2017 - 6h37

O comportamento de Gael (Sergio Guizé) em O Outro Lado do Paraíso choca: apesar de rico e instruído, o filho de Sophia (Marieta Severo) é machista ao extremo e trata a mulher, Clara (Bianca Bin), como propriedade dele. É, enfim, um troglodita que parece saído de 1800, e não um personagem do século 21. Porém, de acordo com delegadas ouvidas pelo Notícias da TV, Gael não é uma criação original de Walcyr Carrasco. Tipos como ele existem mesmo e estão no cotidiano de quem trabalha em defesa da mulher.

Titular da Delegacia Especial de Atendimento à Mulher de São Gonçalo, na região metropolitana do Rio de Janeiro, a delegada Débora Ferreira Rodrigues se depara com "Gaéis" todos os dias por conta de seu trabalho.

"O personagem representa perfeitamente os homens machistas. No comportamento, nas atitudes, até na forma de se vestir eu vejo semelhanças. Essa questão de o marido se sentir dono da mulher é extremamente comum, infelizmente", revela a delegada.

Mesmo cenas que parecem absurdas, como Gael tendo uma crise de ciúme depois de ver um garçom sendo simpático com Clara, são reais para quem atende mulheres vítimas de violência doméstica. "O ciúme doentio é uma coisa tão louca que a pessoa ciumenta imagina situações que não existem", conta Débora.

Já a delegada Adriana Regina da Costa, coordenadora das Delegacias Especiais de Atendimento à Mulher do Rio Grande do Sul, destaca que a novela acerta ao retratar Gael como um homem de muitas posses, mas brucutu.

"Dessa forma, mostra que a violência contra a mulher não tem classe social. Pode ser mais comum, ou mais denunciada, entre a população mais pobre, mas não quer dizer que ela não existe nas classes mais altas", diz Adriana.

Outro ponto elogiado por Débora é a abordagem do estupro marital. "Casos de abuso de menores, filhas, enteadas, são mais denunciados. Mas com a mulher é raro, ainda existe aquele pensamento de que é obrigação da mulher ir para a cama com o marido. Mas não é. Se ela não quer, não é. Muito menos com agressão", aponta.

Para as profissionais, O Outro Lado do Paraíso tem feito um bom trabalho ao abordar a violência doméstica. "Mostra o ciclo da violência. Ameaças, xingamentos, agressão. Aí o homem se arrepende, pede desculpa, a mulher desiste de lutar, os dois voltam à fase de lua de mel. Até que vem a próxima ameaça", explica Débora.

A visibilidade proporcionada ao tema no horário mais nobre da Globo também é ressaltada pelas duas. "Sem dúvida, mais mulheres vão se identificar com a situação na novela e criar coragem de denunciar. Aqui, ao contrário do que acontece com roubos, assassinatos, o aumento da estatística é positivo. Significa que mais vítimas estão denunciando e rompendo esse ciclo de violência", aponta Adriana.

"É uma violência para a qual ninguém nunca deu importância. 'Em briga de marido e mulher não se mete a colher', dizem. Mas tem que meter sim. O Brasil é o quinto país que mais mata mulheres pelo simples fato de serem mulheres, e isso precisa mudar", completa Débora.

A delegada de São Gonçalo valoriza até que a novela mostre cenas intensas de agressão, que chocam o público. "Não vejo nada de desconfortável, é excelente, merece parabéns. Se você nunca viu uma agressão, considere-se um sortudo, mas saiba que cada pessoa que assiste àquela cena tem uma mãe, uma prima, uma amiga ou uma vizinha que sofreu aquilo", destaca a delegada.

Noveleira, a delegada carioca também torce para que a personagem de Bianca Bin consiga romper o ciclo da violência e denuncie Gael.

"Ela precisa procurar ajuda, isso é muito importante. E espero que ela não morra, porque muitas morrem. Vemos muitas mulheres vítimas que não fizeram nenhum registro de agressão. Precisamos parar com o silêncio, estamos pagando um preço muito alto por ele", diz.


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