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Vergonha e processo da Disney: Como foi o último Oscar sem apresentador?

Reprodução/Academy Awards

Os veteranos Bob Hope e Lucille Ball apresentaram um número musical no Oscar de 1989 - Reprodução/Academy Awards

Os veteranos Bob Hope e Lucille Ball apresentaram um número musical no Oscar de 1989

LUCIANO GUARALDO

Publicado em 22/2/2019 - 5h57

Neste domingo, a entrega do Oscar não terá um apresentador pela primeira vez em 30 anos. Hollywood, no entanto, não tem saudades da última vez em que isso aconteceu. Com números musicais vergonhosos, a festa de 1989 quase virou caso de Justiça: a apresentação de abertura colocou uma atriz vestida como Branca de Neve. A Disney não gostou e ameaçou processar os produtores pelo uso não autorizado da imagem da personagem.

A cerimônia daquele ano também ficou marcada por ser a última aparição pública da comediante Lucille Ball (1911-1989). Uma das atrizes mais queridas dos Estados Unidos, a estrela de I Love Lucy (1951-1957) surgiu ao lado do veterano Bob Hope (1903-2003) para anunciar a nova geração de astros do cinema --a lista incluía Patrick Dempsey, ex-Grey's Anatomy, e muitos atores que floparam por completo.

Na ocasião, a decisão de não contar com um apresentador partiu do produtor Allan Carr (1937-1999), contratado para levantar a audiência da festa e torná-la mais interessante para o público. Ele decidiu cortar o mestre de cerimônias e mudar a dinâmica do prêmio: em algumas categorias, um ator ia até o palco apenas para anunciar a dupla de apresentadores oficial do quesito.

O bigodudo Tom Selleck, recém-saído da série Magnum (1980-1988), por exemplo, foi escalado só para revelar que os apresentadores de melhor atriz coadjuvante seriam o então casal Melanie Griffith e Don Johnson. Já Olivia Newton-John surgiu para chamar Donald Sutherland e seu filho Kiefer como os responsáveis pela entrega dos prêmios honorários da noite, para a Kodak e para o órgão de cinema do Canadá.

Neste ano, a situação do Oscar é bem diferente: a entrega de estatuetas não terá apresentador porque Kevin Hart, inicialmente escalado para o posto, desistiu da festa depois que internautas recuperaram várias mensagens homofóbicas que ele havia publicado no Twitter anos antes. Ele não pediu desculpas pelo que escreveu e preferiu abrir mão da função de mestre de cerimônias.

Confira cinco momentos do Oscar 1989 que a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas espera que não se repitam neste ano:

reprodução/youtube

Rob Lowe e Eileen Bowman (vestida de Branca de Neve) no número de abertura do Oscar

Branca de Neve e os atores envergonhados
Sem um grande apresentador para conduzir a noite toda, o Oscar trocou o tradicional monólogo inicial repleto de piadas por um número musical em que Branca de Neve (a atriz Eileen Bowman) caminha pelos corredores da plateia e interage com os famosos em seu caminho. Michelle Pfeiffer, visivelmente envergonhada, chega a puxar sua mão para que Branca de Neve não a toque.

Tom Hanks, Sigourney Weaver, Dustin Hoffman e Glenn Close, todos indicados naquele ano, também são alvos da princesa da Disney. Não chegam a ser tão rudes quanto Michelle, mas os sorrisos forçados e o olhar duro deixam claro o desconforto de todos com essas interações.

A Disney chegou a entrar com um processo contra a Academia pelo uso da imagem de sua personagem. Alegava danos por quebra de copyright, competição desleal e diluição da reputação. Após um pedido de desculpas oficial do então presidente da Academia, Richard Kahn, a empresa desistiu de levar o caso à Justiça.

O adeus de Lucy
Lucille Ball, ícone da televisão americana, fez sua última aparição pública no Oscar de 1989. A atriz, que acumulou nada menos do que seis indicações ao Globo de Ouro (além de uma estatueta especial) e 13 nomeações ao Emmy (com quatro vitórias e mais uma honraria pelo conjunto da carreira), subiu ao palco ao lado de Bob Hope para apresentar um número musical com as estrelas do amanhã.

A veterana, que revolucionou a maneira de fazer televisão nos Estados Unidos, morreu menos de um mês depois de sua aparição no prêmio. Hoje, o adeus da comediante é considerado aquém de seu talento --ela não fazia uma série de TV desde o fracasso Life With Lucy (1986).

Astros do amanhã ou estrelas cadentes?
O número das promessas de Hollywood apresentado por Lucille e Hope é um retrato de muitos erros que marcam o Oscar. Longo, com cerca de 10 minutos, colocou atores para cantar a música (I Wanna Be An) Oscar Winner, ou Eu Quero Ser um Ganhador do Oscar. "Anote o nome deles, você vai ouvi-los bastante", previu Hope.

O comediante não poderia estar mais enganado. Dos 19 nomes que cantaram e dançaram, poucos conseguiram manter a carreira. E nenhum cumpriu a promessa da canção e levou um Oscar para casa --aliás, eles sequer foram indicados.

Apenas Blair Underwood (de In Treatment), Patrick Dempsey (Grey's Anatomy), Christian Slater (de Mr. Robot), Joely Fisher (de Ellen), Melora Hardin (de Transparent) e Chad Lowe (de Pretty Little Liars) concorreram aos prêmios Emmy e/ou Globo de Ouro depois da apresentação.

Nomes como Keith Coogan, Tyrone Power Jr., Carrie Hamilton e Tricia Leigh Fisher nunca aconteceram. Patrick O'Neal Jr. desistiu da carreira de ator: ele migrou para o jornalismo e, atualmente, trabalha na cobertura esportiva do canal Fox Sports West. Já D.A. Pauley sequer conseguiu um papel, apenas dançou em alguns filmes. Confira a apresentação constrangedora:

Produtor no ostracismo
Apontado como o único produtor capaz de salvar a audiência em queda do Oscar, Allan Carr foi contratado a peso de ouro para cuidar da cerimônia de 1989. Ele até conseguiu aumentar o público: a festa foi vista por 42,6 milhões de espectadores nos EUA, contra 42,2 milhões em 1988.

Porém, os musicais constrangedores e a dinâmica da premiação foram tão criticados que Carr nunca mais voltou a trabalhar com a Academia. Aliás, ele sequer conseguiu um novo emprego em Hollywood --teve de voltar a trabalhar no teatro, onde produziu um espetáculo com o tenor Plácido Domingo e gravou com Barbra Streisand. Ele morreu em 1999, vítima de um câncer no fígado.

Todos são vencedores
Uma das mudanças promovidas por Carr, porém, agradou. Na hora de anunciar o vencedor de cada categoria, os apresentadores passaram a dizer: "E o Oscar vai para...". Até o ano anterior, a frase dita era: "E o vencedor é...". De acordo com o produtor, a alteração fazia com que até quem saísse de mãos vazias se sentisse parte da premiação. A Academia concordou e mantém o anúncio assim até hoje.

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