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GUERRA SANTA

SBT arrisca alto com Jesus de The Chosen e pode pagar por pecados da Record

REPRODUÇÃO/YOUTUBE E RECORD

Montagem com Jonathan Roumie como Jesus em The Chosen à esquerda e Dudu Azevedo como Cristo em Jesus da Record à direita

Jonathan Roumie como Cristo em The Chosen e Dudu Azevedo como o messias na novela Jesus

DANIEL FARAD

vilela@noticiasdatv.com

Publicado em 16/9/2023 - 7h00

O SBT prepara uma manobra arriscada para recuperar a vice-liderança que perdeu para a Record nos últimos anos. A emissora de Silvio Santos, aliás, vai atacar um telespectador que já é cativo da principal concorrente no horário nobre. Afinal, a série The Chosen abre uma "guerra santa" contra as novelas bíblicas --as quais já provocaram um tremendo desgaste no público.

Reis, com suas inúmeras temporadas, não atinge mais os índices registrados por Os Dez Mandamentos (2015) ou Gênesis (2021). O folhetim de Cristiane Cardoso --diretora de Dramaturgia e filha de Edir Macedo-- expõe o cansaço da audiência com o gênero.

A Record até esboçou uma tímida reação com Amor Sem Igual (2021), ainda que os dogmas da Igreja Universal do Reino de Deus fossem centrais na narrativa. A novela quebrou a sequência de produções de época com uma história contemporânea.

As tramas bíblicas já não têm mais o mesmo apelo junto ao espectador como na época em que batiam de frente com a Globo. Elas não só traziam um ar de novidade como também se colocavam como opção ao excesso de violência e --numa perspectiva conservadora-- de degradação moral de Babilônia (2015) e A Regra do Jogo (2015).

O desgaste é tão claro quanto outros produtos que foram explorados à exaustão pela concorrência. O The Voice foi cancelado pela Globo após perder cada vez mais audiência de uma temporada para outra; e o MasterChef está longe dos tempos áureos na Band.

Qual é o trunfo de The Chosen?

The Chosen tem apelo não só pela campanha de crowdfunding em que os próprios espectadores financiaram a produção da série. A história é mostrada a partir da perspectiva dos apóstolos e não necessariamente de Jesus (Jonathan Roumie).

A produção criada por Dallas Jenkins também teve um cuidado de dosar essas figuras para permitir que haja sempre uma novidade a caminho. Judas Iscariotes (Luke Dimyan), por exemplo, aparece apenas na segunda temporada --ganhando definitivamente seu espaço na terceira.

A perspectiva é interessante, uma vez que Cristo é um péssimo protagonista para um folhetim. Afinal, o messias não só é filho como também é o próprio Deus. Essa falta de humanidade --e, por consequência de erros-- dificulta as reviravoltas na história.

Record também tem a solução?

A novela Jesus (2018) virou uma dor de cabeça para a Record especialmente pelo aspecto divino de Cristo. Ele não permite a construção mais básica de um folhetim, com um par romântico que dê liga e aproxime o público da história.

Paula Richard até tentou deslocar essa função para Maria Madalena (Day Mesquita) e Petronius (Fernando Pavão). Ela era uma das seguidoras mais fervorosas do messias, e ele servia o exército romano. Um conto digno de Romeu e Julieta em plena Galileia.

A emissora, porém, já utilizou uma estratégia bem parecida com The Chosen na série Milagres de Jesus (2014). O filho de Deus não era o personagem central dos episódios, função que ficava a cargo da pessoa que tinha a vida transformada pelo encontro com o divino.

O primeiro episódio trouxe Simão (Caio Junqueira) como protagonista, o que permitiu uma identificação do público com esse ser falho e humano. Jesus funcionava como um deus ex machina --ou seja, a solução inesperada e mirabolante para a narrativa. 


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