Record dribla pressão da Igreja Universal e exibe comercial para público trans

Pela primeira vez em sua história, a Record exibiu um comercial dedicado ao público LGBTQIA+. A emissora de Edir Macedo, que tem posicionamentos conservadores e é líder da Igreja Universal do Reino de Deus, fechou acordo com a marca Trucss, que produz peças íntimas para transsexuais. A publicidade foi ao ar na segunda-feira (24), no intervalo do telejornal Fala Brasil. "É uma quebra de paradigmas", diz Silvana Bento, dona da marca. 

A peça de 30 segundos é protagonizada pela modelo Melina Queiroz, de 22 anos. Nela, a jovem dança ao som de uma música instrumental e mostra detalhes das calcinhas e dos sutiãs da marca. Uma inserção publicitária de meio minuto no horário custa R$ 158 mil, segundo a tabela de preços da Record --que costuma oferecer descontos generosos para anunciantes.

O Notícias da TV apurou que a parceria foi muito celebrada internamente na Record porque ajuda a mudar a imagem da empresa --algo que o atual departamento comercial tenta fazer desde o ano passado. No primeiro contato com a Trucss, houve algum medo de que bispos da Igreja Universal fizessem pressão para que o contrato não fosse assinado. 

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No entanto, não houve nenhuma grande resistência para a exibição da publicidade por parte de diretores. Eles entenderam que o acordo seria bom para todos os lados. Mais campanhas da marca devem ser exibidas na Record em outros programas na mesma faixa. 

Criada pela técnica em hemoterapia Silvana Bento, a marca conta com uma calcinha em forma de funil, para ajudar esse público a ir ao banheiro com mais facilidade. Isso porque a maioria das mulheres trans, travestis, crossdressers e drag queens tentam esconder o órgão genital puxando-o para trás, entre as nádegas, com colas, fitas adesivas e barbantes.

O método é considerado trabalhoso e dolorido, e não atende a pessoas que fazem suas necessidades muitas vezes ao dia. Por isso, é comum que essas pessoas tenham problemas de infecção e insuficiência renal, que podem levar, em casos mais graves, à morte.

Quebra de paradigma, diz dona de empresa

Ao Notícias da TV, Silvana celebrou o que chamou de uma conquista para a comunidade: "Conseguir veicular, em rede nacional, em uma TV aberta conservadora, uma campanha de lingeries para mulheres trans é mais do que exibir um comercial na televisão, é uma quebra de paradigmas. É dar visibilidade a uma população marginalizada e trazer luz a um problema de saúde pública".

A Record não costuma dar espaço para discussões sobre a comunidade LGBTQIA+ em seus programas e novelas. Seu dono, Edir Macedo, é abertamente contra o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Em dezembro de 2022, em um especial de Natal, ele comparou gays a bandidos. 

"Ninguém nasce mau. Ninguém nasce ladrão, ninguém nasce bandido, ninguém nasce homossexual, lésbica... Todo mundo nasce perfeito com sua inocência. O mundo, porém, faz as pessoas serem o que elas são, quando elas aderem ao mundo", disse. 

Por causa dessa fala, a Aliança Nacional LGBTI+ protocolou uma queixa-crime contra o bispo Edir Macedo por discurso de ódio em janeiro. O MP-RJ (Ministério Público do Rio de Janeiro) pode aceitar ou não apresentar uma denúncia para que a Justiça faça Macedo virar réu oficialmente. Tudo vai depender da robustez das provas e da gravidade do assunto. Não existe um tempo limite para a apreciação.

Veja o vídeo do comercial: