FEZ DELAÇÃO PREMIADA
FOTOS: REPRODUÇÃO/TV GLOBO
Em depoimento ao Ministério Público Federal do RJ, o doleiro Dario Messer citou a família Marinho
Preso desde julho de 2019, Dario Messer afirmou ao Ministério Público Federal do Rio de Janeiro, em um acordo de delação premiada, que repassou quantias em dólares à família Marinho no início dos anos 1990. Os donos da Globo negam a acusação. Messer já foi classificado como "o doleiro dos doleiros" por Alberto Youssef e tem o nome envolvido em casos rumorosos de corrupção do Brasil, do Banestado até a Lava Jato.
De acordo com o Ministério Público, ele lava dinheiro há pelo menos 30 anos para empresários e políticos, com uma rede de recebimento e envio de dólares para o exterior.
Messer mantinha três mil empresas de fachada em 52 países, que movimentaram mais de US$ 1,6 bilhão, o equivalente a R$ 8,7 bilhões em valores atuais. Segundo as investigações, mais de 50 doleiros usavam o esquema montado por ele para atender clientes no Brasil e no exterior.
Apesar de atuar em casos de corrupção desde o esquema PC Farias (1945-1996), tesoureiro da chapa que unia Fernando Collor de Mello e Itamar Franco (1930-2011) na campanha presidencial de 1989, Messer nunca tinha sido preso até 2019. Seu nome foi ligado aos escândalos dos precatórios (1996), propinoduto do Rio de Janeiro (2002), caso Banestado (2003), mensalão (2005) e na Operação Lava Jato.
Messer ficou foragido durante um ano e dois meses, mas foi encontrado pela Polícia Federal em julho de 2019, em São Paulo. Ele estava de barba, cabelos ruivos, com R$ 50 mil em dinheiro vivo e usava documento falso, com o nome de Marcelo de Freitas Batalha, na tentativa de despistar as autoridades.
Na última quarta (12), a Justiça Federal do Rio de Janeiro homologou o acordo de delação premiada. O doleiro vai entregar aos cofres públicos 99,5% de seu patrimônio, estimado em R$ 1 bilhão, com imóveis de alto padrão Brasil e no exterior, obras de arte e um império no Paraguai.
Messer é amigo pessoal do paraguaio Horacio Cartes, que presidiu o país entre 2013 e 2018, e já manteve residência fixa e cidadania no país vizinho. No depoimento, o doleiro diz ter conseguido receber um pagamento de US$ 600 mil (R$ 3,2) de Cartes para financiar a vida de foragido, quando seus bens estavam bloqueados.
O governo do Paraguai já comunicou que entende ter direito a uma parte do patrimônio que Messer vai devolver aos cofres públicos. Ainda pelo acordo que foi costurado, o doleiro dos doleiros deve cumprir pena de 18 anos e 9 meses de prisão.
Dario Messer quando foi encontrado pela Polícia Federal, em 2019: ele ficou um ano foragido
O doleiro afirmou ao Ministério Público Federal do Rio de Janeiro, no depoimento realizado em 24 de junho, que repassou dólares à família Marinho no início dos anos 1990. A emissora, em nota enviada ao Notícias da TV e lida por William Bonner no Jornal Nacional na edição de sexta-feira (14), negou.
Na delação, antecipada pela revista Veja, consta em um dos anexos que Messer entregou pacotes de dinheiro dentro da sede da Globo, no Jardim Botânico, no Rio de Janeiro. As visitas eram frequentes, cerca de três vezes por mês, e as quantias fornecidas aos Marinho variavam entre US$ 50 mil e US$ 300 mil.
O doleiro afirmou em sua delação que se aproximou da família com a ajuda de Celso Barizon, que seria o gerente das contas dos Marinho no banco Safra de Nova York.
Ele explicou que os valores em espécie entregues no Brasil eram compensados nos Estados Unidos pelos donos da Globo, com o auxílio de Barizon. E lá fora, os Marinho depositavam para o doleiro a quantia entregue ao vivo no Rio de Janeiro.
Messer ainda citou um funcionário chamado José Aleixo, a pessoa que ele diz que representava os donos da Globo. Na delação lida em Brasília, não constam provas de que o doleiro tivesse qualquer contato ou relação com os Marinho.
Em nota, a assessoria do Roberto Irineu Marinho e João Roberto Marinho desmentiu as declarações feitas na delação premiada: "A respeito de notícias divulgadas sobre a delação de Dario Messer, vimos esclarecer que Roberto Irineu Marinho e João Roberto Marinho não têm nem nunca tiveram contas não declaradas às autoridades brasileiras no exterior. Da mesma maneira, nunca realizaram operações de câmbio não declaradas às autoridades."
Além do Jornal Nacional, o Jornal da Record também repercutiu a delação de Dario Messer sobre a Globo. O presidente Jair Bolsonaro, um crítico da líder de audiência, também pegou carona no caso e fez uma publicação no Twitter dizendo que, nos últimos 30 anos, a Globo pode ter recebido R$ 1,75 bilhão com o esquema. Veja:
30 anos = 360 meses
— Jair M. Bolsonaro (@jairbolsonaro) August 15, 2020
3 X por mês = 1080 vezes
1080 x U$ 300 mil
U$ 324.000.000,00
U$ 1,00 = R$ 5,42
R$ 1,75 bilhão...
é o valor que pode ter sido repassado, em dinheiro vivo à família Marinho da Globo, segundo o doleiro Dario Messer. pic.twitter.com/qRnHJZZ7Yp
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