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PEDRO VASCONCELOS

Para ex-diretor, Globo trabalha em favor de Lula e sofre por rixa com bolsonaristas

REPRODUÇÃO/INSTAGRAM

Montagem com duas fotos de Pedro Vasconcelos; ele encara a câmera e usa uma blusa preta. Ao fundo, é possível ver livros.

Pedro Vasconcelos em vídeo publicado nas redes sociais; ele opinou sobre crise da Globo

REDAÇÃO

redacao@noticiasdatv.com

Publicado em 18/6/2024 - 12h53

Ex-diretor de novelas da Globo e atual guru de inteligência emocional, Pedro Vasconcelos opinou que a crise de audiência e de conteúdo sofrida pela emissora nos últimos anos é culpa da própria direção. O profissional, que passou 30 anos trabalhando na empresa, levantou aspectos como a "representatividade forçada" nas novelas, a "queda na qualidade" das produções e também a polarização política, na qual a líder de audiência teria tomado um partido bem claro.

Além de afirmar que a emissora trabalha em favor do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o ex-diretor ressaltou a maneira com que a emissora cobriu os ataques de 8 de janeiro de 2022. Para ele, tachar os atores de protesto no Congresso Nacional de "antidemocráticos" seria um ataque direto a todos os eleitores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Com isso, cerca de 50 milhões de pessoas teriam se afastado da emissora e causado uma queda ainda mais acentuada de audiência.

"Na minha opinião, ela está a favor, trabalhando mais a favor, do governo que ai está [de Lula]", começou ele, ao ser questionado se a emissora estaria mais à direita ou à esquerda do espectro político. "É óbvio que ela criou uma briga desnecessária e contraproducente ao governo antecedente [de Bolsonaro], é óbvio que ela está apoiando o governo atual. É claro. O problema é que é uma empresa de comunicação, ela precisa se comunicar com todo mundo", afirmou Vasconcelos, em entrevista à Veja Gente, no YouTube.

"A Globo sempre teve uma tendência de apoio a um determinado governo. É óbvio, todo mundo sabe disso. Houve até um pedido de desculpas, mea-culpa, acho que do [William] Bonner, durante o Jornal Nacional, a respeito dos cortes do debate entre Lula e [Fernando] Collor [de Mello]. Então, sempre teve uma tendência. Sempre houve um apoio a determinado lado", continuou.

O diretor reiterou que a empresa precisa se comunicar com todo o público brasileiro. "Não adianta eu ter um lado e excluir 50 milhões de pessoas da minha programação, porque é isso que a TV, hoje, infelizmente, em sua incompetência de comunicação, principalmente no que se refere ao jornalismo, está fazendo. Eu excluo 50 milhões de telespectadores por que eu estou os chamando de antidemocráticos? É isso mesmo?", questionou.

Vasconcelos afirmou que as pessoas estariam "chocadas", por não serem antidemocráticas. Ou seja: a Globo teria sido preconceituosa em sua colocação, segundo o ex-funcionário. 

"Isso é uma imbecilidade. Se a empresa quer ter um lado, convide o lado oposto para conversar, para falar, para se comunicar. 'Olha, deixa eu chamar aqui para mostrar o que é legal, o que não é, o que vai ser bom, o que não pode, do lado de cá'. Agora, se eu crio um ranço com você, como é que eu vou te convencer alguma coisa? A única coisa que vai acontecer é você ficar chateado e ir embora. E é isso que está acontecendo", arrematou.

O ex-diretor, contudo, vê a maneira de a emissora se posicionar como uma resposta desesperada à internet. A mesma internet que, para ele, acabará soterrando a TV aberta.

"Como é que eu vou competir com milhões e milhões de pessoas que são capazes de produzir todo tipo de conteúdo possível e inimaginável? Como eu vou dar conta de estar à altura do que as pessoas hoje podem produzir? Já é uma batalha inglória para a televisão de massa, para o veículo de massa que é a televisão. Ela vai se manter viva, até porque o rádio também existe até hoje, mas a sua importância e a sua escala de alcance caem muito à medida que podemos fazer todo o tipo de conteúdo hoje na Internet", afirmou ele.

'Representatividade forçada'

O fato de a televisão trabalhar com as massas também é uma questão delicada em outro aspecto, mais relacionado às novelas --o antigo escopo de trabalho de Vasconcelos. Para ele, as novas gerações de profissionais da Globo teriam esquecido de um princípio básico do veículo: o de que eles estão entrando na sala das pessoas.

"Então, por educação e por respeito, eu preciso saber como eu vou entrar na casa das pessoas. Você vai visitar seus pais, ou vai visitar alguém que você conheça, você entra na sala dessa pessoa, e você se comporta de uma certa forma que não seja ofensiva. Você vai conversar com essas pessoas e você pode até abordar qualquer tipo de tema com essas pessoas, mas você não pode ser incisivo; apontar o dedo, levantar questões ou, enfim, fazer uso de drogas no meio da sala dos seus pais", argumentou.

Agora, todas as pessoas precisam ter entendimento sobre todos os assuntos. Como é que eu faço para abordar esses assuntos? Por exemplo, a questão do homossexualismo (sic), a questão das drogas, entre tantas outras questões, de uma forma que a família não se sintam agredida, não se sinta incomodada? Porque, se não, eu não estou tendo êxito", disse.

Ele afirmou que as pessoas que não estiveram incluídas nos 60 anos da dramaturgia global devem ser incluídas, sim, mas de uma maneira que potencialize a obra --e não seja apenas forçada, como estaria acontecendo atualmente, na opinião de Vasconcelos.

"Quando a inclusão não é bem feita, ela atrapalha a obra, ela atrapalha o espectador, ela atrapalha o ator que foi incluído, ela atrapalha todo o mundo, porque fica um negócio disforme, porque é forçado. É a mesma coisa de eu querer forçar a escalação da minha esposa, por exemplo, numa novela. Ela não é atriz. É uma escalação forçada, vai dar errado, claro".

Ele deseja que se inicie um "movimento positivo e propositivo de quebra de preconceito", mas de uma forma confortável para o público. Como exemplo, o ex-diretor cita Da Cor do Pecado (2004), novela protagonizada por Taís Araujo, uma mulher negra, mas que foi um sucesso. Ali, a dramaturgia teria brilhado pela história e pela escalação certeira, entregando uma atriz que se conectasse com a personagem. 

Isso não eximiu a novela de críticas quanto à representatividade. O ex-diretor não citou as menções negativas ao próprio nome da novela, que reduz a pele negra a um objeto de desejo. O canal Viva, aliás, precisou inserir um aviso no final dos capítulos desta trama justamente pela propagação de estereótipos racistas. E a própria Taís Araujo, defendida por ele como atriz excelente, sofreu com críticas ao ser uma Helena de Manoel Carlos em Viver a Vida (2009), papel normalmente destinado a mulheres brancas.

O coach de inteligência emocional, no entanto, reconheceu que é importante escalar profissionais diversos. E, mais uma vez, a internet tem vantagem nisso. "Cada um vai conseguir levantar sua própria bola, sua própria história, comunidades vão fazer suas novelas, comunidades vão contar suas histórias. A representatividade vai ser muito melhor trabalhada aqui, na internet", disse.


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