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MEMÓRIA DA TV

Obra de Cassiano Gabus Mendes, Que Rei Sou Eu? foi vetada duas vezes pela Globo

REPRODUÇÃO/TV GLOBO

Marieta Severo com roupa de época como Madaleine Bouchet em Que Rei Sou Eu (1989)

Marieta Severo interpretou Madaleine Bouchet em Que Rei Sou Eu (1989), de Cassiano Gabus Mendes

THELL DE CASTRO

Publicado em 14/2/2021 - 6h45

Considerada a melhor novela de Cassiano Gabus Mendes (1929-1993), Que Rei Sou Eu? estreava na faixa das sete da Globo há exatamente 31 anos, em 13 de fevereiro de 1989. O que pouca gente sabe é que a história poderia ter sido apresentada na década de 1970 ou no início dos anos 1980, mas foi duplamente vetada pela emissora.

Pioneiro da televisão brasileira e autor de novelas de sucesso da Globo a partir da década de 1970, Cassiano apresentou a ideia para José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, então todo-poderoso da emissora, e Daniel Filho, que era um dos dirigentes do setor de teledramaturgia. Mas nada feito.

"Em 1977, Boni sugeriu que eu falasse com Cassiano Gabus Mendes para que escrevesse a próxima novela das oito. Ao ser consultado, ele foi categórico: 'Eu quero fazer uma história engraçada de capa e espada. Uma sátira'. Achamos absolutamente fora de propósito. Dez anos depois, no final do governo Sarney, Cassiano propõe de novo a mesma história, agora para o horário das sete. Indiscutível o sucesso de Que Rei Sou Eu?. Mas será que teria êxito no final da década de 70?", escreveu Daniel em seu livro O Circo Eletrônico.

Em sua autobiografia, O Livro do Boni, o ex-dirigente da Globo explicou os motivos para a recusa. "Não topei por dois motivos: Roque Santeiro tinha sido proibida e uma comédia chanchada às 20h seria uma temeridade", justificou.

Persistente, Cassiano fez nova tentativa em 1983, quando acabou escrevendo a malsucedida Champagne para a faixa das oito. O projeto só foi retomado a partir de 1988, após o término da Censura Federal --mesmo com o final da Ditadura Militar, em 1985, o órgão continuou atuando.

O último obstáculo a ser derrubado foi o merchandising. Uma novela que se passava entre 1786 e 1789, na transição da Idade Moderna, não teria espaço para a divulgação de produtos, o que já era altamente lucrativo para a emissora.

Mas novamente o criativo Cassiano deu um jeito. "Eu faço o mocinho sonhar com o Fusca. Ele vai achar o carro do futuro muito melhor que as carroças. E faço a lavadeira sonhar com o Omo para facilitar o seu trabalho e deixar tudo branco", contou, no livro Biografia da Televisão Brasileira, de Flávio Ricco e José Armando Vannucci.

Sátira da realidade brasileira

Apesar de se passar no século 18, a trama da novela era extremamente atual, se confundindo com fatos da política brasileira da época (aliás, muitos dos fatos abordados acontecem até hoje).

Enquanto o governo se atrapalhava com inúmeros planos econômicos, por exemplo, no reino de Avilan, onde se passava a história, os governantes lançaram um pacote econômico nos mesmos moldes e atrapalhavam a vida dos súditos.

No final da história, Jean-Pierre declara diante do povo de Avilan: "Ninguém vai mais explorar o trabalho do pobre. Agora quero que gritem comigo: Viva a o Brasil". Foi a primeira e única vez que o nome do reino foi substituído.

O elenco era recheado de estrelas: Edson Celulari, Giulia Gam, Antônio Abujamra (1932-2015), Tereza Rachel (1934-2016), Daniel Filho, Marieta Severo, Tato Gabus Mendes, Cláudia Abreu, Natália do Valle, Jorge Dória (1920-2013), Stênio Garcia, entre muitos outros, além de participações especiais luxuosas, como as de Gianfrancesco Guarnieri (1934-2006), Dercy Gonçalves (1907-2008), Chico Anysio (1931-2012) e o jogador Roberto Dinamite.

Eleita a melhor novela de 1989 pela APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte), Que Rei Sou Eu? se consolidou como um dos maiores sucessos da faixa na história da emissora, sendo exibida novamente apenas um mês após seu final original, a partir de outubro de 1989, na Sessão Aventura.

Entre 2012 e 2013, a trama foi exibida pelo canal Viva. Em breve, poderá ser revista pelos assinantes do Globoplay.


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