Globo, 50 anos
Fotos: Reprodução/Globo Memória
José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, em foto de seus primeiros anos na Globo
DANIEL CASTRO
Publicado em 26/4/2015 - 14h34
A televisão brasileira em 1965, ano em que a Globo foi criada, era feita por "loucos". A definição, do norte-americano Joe Wallach, foi adotada por José Bonifácio Oliveira Sobrinho, o Boni. Está reproduzida no autobiográfico O Livro do Boni (2011, editora Casa da Palavra). Wallach, Boni e Walter Clark fundaram os pilares daquela que viria a ser a maior rede de TV do país e que completa 50 anos hoje (26). Enviado para supervisionar os gastos dos US$ 6 milhões investidos pelo grupo americano Time-Life, o que seria alvo de uma CPI, Wallach se referia à falta de dinheiro e à competição entre as emissoras na época.
"A maior preocupação do Joe Wallach era a de sempre enfatizar que precisaríamos trabalhar com muito planejamento. A televisão brasileira vivia de impulsos. Gastavam-se fortunas para tirar um artista de uma emissora, e logo depois, outra emissora pagava ainda mais e levava o contratado. A insegurança era total, e as emissoras não suportavam os custos. O Joe falava apenas um pouco de português, mas tinha, na ponta da língua, as palavras exatas para descrever o ambiente da televisão brasileira: 'São loucos. Todos loucos'", escreveu Boni no livro.
Como se observa, 50 anos depois, as coisas não mudaram muito. A Globo tem muito dinheiro (só a TV, faturou R$ 12,4 bilhões em 2014), mas suas concorrentes, não. A Record, a segunda maior rede, divulga um faturamento anual em torno de R$ 2 bilhões. Há menos de um mês, a Band teve de rescindir o contrato de Luiz Bacci, dez meses depois de tirá-lo da Record pelo triplo do que ele ganhava.
Boni chegou à Globo em fevereiro de 1967, quase dois anos depois de seu lançamento. A grade de programação ainda era precária, com duas novelas. Ele queria dinheiro para contratar Daniel Filho. Boni já estava se armando para a primeira grande batalha de sua bem-sucedida jornada no comando artístico da Globo: com Daniel Filho, ele enfrentaria e enfraqueceria a cubana Glória Magadan, autora de dramalhões, e implantaria "a moderna novela" na "forma que persiste até hoje".
O norte-americano Joe Wallach, enviado pela Time-Life para controlar as finanças da Globo, onde ficou até 1980
Segundo Boni, a Globo operava no vermelho em 1967. Ele próprio teve que fazer sacrifícios ao assinar contrato diretamente "com o dr. Roberto Marinho", dono da emissora. "Como eles não poderiam pagar o que eu estava ganhando no Telecentro [da TV Tupi], o Joe Wallach me propôs uma retirada mínima mensal até que a emissora começasse a ser lucrativa e, a partir daí, eu passaria a ter uma participação já estabelecida no contrato. Essa retirada seria a metade do que eu ganhava", lembra o ex-vice-presidente de operações da Globo, cargo que ocupou até a virada do século.
De acordo com Boni, em 1966 o dinheiro "aportado pela Time-Life já tinha sido gasto de forma errada, e os gringos fecharam a torneira". No início dos anos 1970, no entanto, a Globo conquistou a liderança de audiência e passou a ser extremamente lucrativa.
No livro, Boni observa ainda uma outra característica fundamental da fundação da moderna televisão brasileira. "Havia uma diferença básica entre a televisão americana e a brasileira. A televisão americana cresceu apoiada na produção da indústria de cinema, usando não só os produtos concebidos para televisão, como séries e minisséries, mas todo o acervo de longas-metragens e o talento de artistas e técnicos disponíveis em abundância, criados por essa poderosa indústria".
Prossegue: "Na prática, a televisão americana só produzia jornalismo e alguns programas do gênero game show. O restante era produzido pelas majors, ou seja, as grandes companhias produtoras de cinema. A televisão americana sempre foi, fundamentalmente, uma exibidora. Ja a nossa televisão veio do rádio, do teatro e do circo. Como não tínhamos indústria cinematográfica para produzir, tivemos que formar nossos profissionais e, além de simples exibidora, a TV precisou se tornar, compulsoriamente, produtora de seus programas. Só que não havia onde buscar novos profissionais. Com a falta de astros e estrelas, o único jeito era investir para produzir e, quando necessário, disputar a peso de ouro os poucos talentos existentes no mercado."
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