Veto real
Imagens: Divulgação/Bettman Archive/Reprodução/Netflix
Princesa Anne, rainha Elizabeth, príncipe Charles e príncipe Phillip (de costas) em imagem de doc proibido
JOÃO DA PAZ
Publicado em 7/12/2019 - 5h54
A terceira temporada de The Crown revelou que a família real britânica protagonizou o primeiro reality show de celebridades da TV mundial. Exibido pela rede BBC há 50 anos, o programa foi tratado na época como documentário, mas não passava de um registro de coisas banais, como a rainha da Inglaterra vendo TV e dirigindo carro. A ideia era mostrar uma família real como uma família comum. Elizabeth 2ª, no entanto, não gostou do resultado e censurou o programa.
No quarto capítulo da atual temporada da série da Netflix, a monarca intepretada por Olivia Colman ordena com todas as letras: "É melhor que o documentário nunca mais seja visto, em nenhum lugar, por ninguém."
Horas e horas de gravações, rolos e rolos de filmes estão guardados a sete chaves em um lugar desconhecido (nada foi destruído). É um material riquíssimo, pois a BBC passou nada menos do que 18 meses na cola da família real, captando cenas curiosas, como um churrasquinho na beira de um lago, o príncipe Phillip pintando quadros, cachorros correndo livremente e conversas informais.
O reality/documentário foi um estouro, mas a rainha não se comoveu. Chamado de Royal Family (Família Real), a atração foi vista por 37 milhões de britânicos, 66% da população do Reino Unido em 1969. Diversas redes de TV internacionais queriam exibi-lo. A BBC já tinha programado uma reprise. Mas Elizabeth foi irredutível.
Houve apenas uma reprise do programa, em 1972, em comemoração aos 20 anos de ascensão de Elizabeth ao trono do Reino Unido.
Em 2011, como parte de comemoração ao jubileu de diamante da rainha Elizabeth, celebrando 60 anos de sua coroação, foram divulgados alguns segundos desse documentário, que está no YouTube até hoje, um vídeo visto por mais de 1,3 milhão de internautas (veja abaixo). Existem pequenos trechos do reality no terceiro capítulo do documentário The Royal House of Windsor, disponível na Netflix.
É curioso notar que a sisuda família real deu o pontapé a esse gênero tão popular hoje na TV. De acordo com uma reportagem da Variety, o primeiro reality show familiar como conhecemos hoje foi exibido pela rede PBS, em 1973, chamado de An American Family (Uma Família Americana).
O título do texto, publicado no ano passado, se explica por si só: Antes de Keeping Up with the Kardashians, existiu Uma Família Americana, na PBS. Os reality shows desse tipo, assim como os de sobrevivência e de competição, passaram a ter força na TV somente a partir dos anos 2000.
Diferentemente do que mostra a série da Netflix, a ideia do polêmico reality veio de conselheiros da rainha, e não do príncipe Phillip, o duque de Edimburgo, que na atual fase de The Crown é interpretado por Tobias Menzies.
O contexto da produção era tentar aproximar a realeza das pessoas comuns, mostrar aos súditos que eram tão simples quanto qualquer outra família.
Tudo porque naquela época a monarquia estava sob uma enxurrada de críticas, desde sobre a inércia na participação de assuntos importantes do Reino Unido a alto custo de sua manutenção, bancada pelos contribuintes.
Os britânicos ficaram divididos. Uma parcela da população gostou de ver toda aquela pompa, com os integrantes da Casa de Windsor fazendo coisas simples do cotidiano, gente como a gente.
Do outro lado, estavam os que não curtiram aquele ar de soberba e queriam guardar a imagem da realeza como deveria ser, algo acima do homem simples. Parte da imprensa também caiu matando, batendo na tecla de que a mística da família real foi desfigurada.
O reality/documentário realmente abriu as portas para a intimidade da família real e trouxe outro revés. A imprensa se viu no direito de invadir mais e descobrir o que acontecia atrás dos muros do Palácio de Buckingham. Pouco a pouco, assuntos particulares da família foram ganhando capas de tabloides. O que trouxe os paparazzi e culminou até em uma tragédia, a morte da princesa Diana, em 1997.
Apesar de haver poucos vídeos disponíveis, há fartura de fotos do documentário Confira algumas:
Charles, Anne, rainha Elizabeth e Phillip olham para um barco de madeira em Royal Family
Rainha Elizabeth observa uma árvore de Natal em imagem do documentário proibido por ela
Em um avião e relaxados, príncipe Phillip e rainha Elizabeth leem jornal em Royal Family
Sentada em um sofá, a princesa Margareth abraça os filhos, David e Sarah Armstrong-Jones
Como se não estivesse à frente das câmeras, príncipe Phillip mostra os seus dotes de pintor
A família real finge estar agindo com naturalidade e posa para as câmeras de Royal Family
Saiba onde ver documentários (não proibidos) da família real:
The Royal House of Windsor, na Netflix: Conheça a história da dinastia da Casa de Windsor, que governa o Reino Unido há cem anos (2017, seis episódios, 291 minutos).
O Reinado da Rainha Elizabeth II, no Philos: A atração narra a trajetória de uma das mulheres mais influentes do mundo e destaca como a rainha Elizabeth redefiniu o papel de uma monarca (2015, 54 minutos).
Lady Di: Suas Últimas Palavras, no Fox Play e na Netflix: A vida da princesa Diana como você nunca viu. O documentário apresenta imagens de arquivo e gravações pessoais para mostrar ao público o lado informal da realeza (2017, 113 minutos).
A Coroação da Rainha Elizabeth II, no Fox Play: Pela primeira vez diante das câmeras, a própria rainha compartilha as lembranças de sua coroação no 65º aniversário do evento (2018, 52 minutos).
The Story of Diana, na Netflix: O irmão e pessoas do círculo íntimo da princesa Diana falam sobre sua vida marcante e conflitos pessoais (2017, dois episódios, 166 minutos).
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