TYNDARO MENEZES
ROBERT CAPLIN/EMMY
Renata Vasconcellos com Tyndaro Menezes: jornalista da Globo no Rio foi demitido e se defendeu
O jornalista Tyndaro Menezes, demitido da Globo na última terça (17), se defendeu das acusações de envolvimento num esquema de corrupção. Ele ocupava o cargo de chefe de jornalismo investigativo da emissora no Rio de Janeiro. O nome do profissional apareceu em uma investigação do Ministério Público sobre Arthur César de Menezes Soares Filho, conhecido como Rei Arthur, e o delegado Ângelo Ribeiro, afastado da Polícia Civil. Ambos são acusados de corrupção e lavagem de dinheiro. "Não cometi nenhum crime e a verdade prevalecerá", disse Menezes à Folha de S.Paulo neste sábado (21).
Tyndaro Menezes foi citado sete vezes no documento apresentado pelo Ministério Público contra Ribeiro, feito na semana passada, ao qual o Notícias da TV teve acesso. De acordo com a denúncia, o ex-funcionário da Globo teria intermediado um negócio suspeito feito pelo delegado na área de saúde.
O jornalista apresentou pessoas para o delegado, que combinou comissões sobre a compra de insumos para um hospital do Rio. Tyndaro Menezes não foi denunciado, mas é descrito como alguém próximo a Ribeiro, que passava informações privilegiadas para o Rei Arthur sobre movimentações e operações policiais.
As conversas às quais o Ministério Público teve acesso expõem tratativas sobre valores a receber. Menezes teria tido trocado mensagens e conversado com o funcionário público --os dois se chamavam de "amigos", além de serem sócios em negócios.
"As negociações suspeitas propostas pelos delegados ficam ainda mais evidentes, tendo eles se referido, inclusive, ao jornalista Tyndaro Menezes, ligado à Rede Globo. No contexto em que falam sobre compra de insumos médicos e sobre 'SC' (Sérgio Côrtes) e família serem atravessadores de uma empresa de São Paulo, Ângelo fala a Victor que Tyndaro não integraria nenhuma empresa, mas, ainda assim, 'seria prestigiado'", diz trecho da denúncia.
Em uma troca de e-mails, Ribeiro afirma que vai dividir 1% de comissão de uma nota que retirou mediante acordo de comissão de um produto superfaturado. "Eu vou dividir esse valor com Ty, claro", comentou o acusado, em momento que mostra intimidade com o jornalista.
A Globo entendeu que a ligação de Menezes com o delegado é, no mínimo, próxima demais e que isso, por si só, já configura uma quebra de seus Princípios Editoriais. O fato de ele ter sido citado por ter, supostamente, recebido dinheiro agravou a situação. A demissão foi comunicada sem direito a despedida.
Procurada pelo Notícias da TV, a emissora enviou o seguinte comunicado: "O profissional citado não está mais na empresa. A Globo não comenta questões relacionadas a compliance. Reitera que tem um Código de Ética, que deve ser seguido por todos os colaboradores, e uma ouvidoria pronta para receber quaisquer relatos de violação. Todo relato é apurado criteriosamente assim que a empresa toma conhecimento e as medidas necessárias são adotadas".
Tyndaro Menezes estava na emissora desde 1992, quando começou a carreira como office boy. Ele se notabilizou na Globo por criar técnicas de produção de reportagens que mantinham o sigilo de imagem dos repórteres. Nos últimos anos, foi responsável por vários furos sobre crimes no Rio de Janeiro e contra o presidente Jair Bolsonaro.
O Ministério Público ressalta que o jornalista não foi denunciado como réu no processo, que é conduzido pelo órgão em parceria com o Gaeco (Grupo de Atuação Especializada de Combate ao Crime Organizado) contra o delegado Ângelo Ribeiro e Arthur César de Menezes Soares Filho.
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