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'DESPREZÍVEL'

Jornalista da Globo critica retorno do goleiro Bruno: 'Feminicida no esporte'

REPRODUÇÃO/INSTAGRAM

Jessica Senra durante apresentação do telejornal TV Bahia no dia 6 de janeiro de 2020

A jornalista Jessica Senra, da TV Bahia, fez um longo discurso contra o retorno do goleiro Bruno ao esporte

REDAÇÃO

Publicado em 7/1/2020 - 12h56

Apresentadora da afiliada da Globo na Bahia, Jessica Senra fez duras críticas ao goleiro Bruno, que está em negociações com um time de Feira de Santana. Na segunda-feira (6), a jornalista fez uma longa declaração com seu posicionamento contra a contratação do atleta e o retorno dele aos gramados. "Feminicida no esporte", resumiu ela em uma postagem na rede social ao compartilhar o trecho de seu discurso na televisão.

Na TV Bahia, Jessica expôs sua opinião por quase dois minutos, pedindo a reflexão do telespectador sobre a possível ida de Bruno ao Fluminense de Feira. "Uma pessoa que cometeu um erro, que já pagou por ele em termos judiciais precisa e pode refazer sua vida. E legalmente, não há nenhum impedimento para que ela exerça qualquer profissão para o qual esteja habilitado", disse.

Condenado a 22 anos e três meses pelo envolvimento na morte da modelo Eliza Samúdio, o jogador foi liberado em outubro de 2019 a jogar no Poços de Caldas FC. "No caso do feminicida Bruno e a profissão de atleta, eu quero questionar você que está aí do outro lado: isso é moral?", perguntou Jessica.

"Desejamos e precisamos que pessoas que cometem crimes tenham a possibilidade de refazer suas vidas. Mas diante de um crime tão bárbaro, tão cruel. Poderíamos tolerar que o feminicida Bruno voltasse à posição de ídolo? Que mensagem mandaríamos para a sociedade?", analisou ela ao vivo.

O jogador está no regime semiaberto. Para Jessica o fato de ele estar em uma posição positiva para a nova geração é grave. "Atletas são referências para crianças, para adultos, são ídolos. Contratar para um time de futebol um assassino, um homem que mandou matar a mãe do seu filho, esquartejar, dar o corpo para os cachorros comerem é um desrespeito. É um desrespeito a todas nós mulheres", afirmou a apresentadora.

"É um desrespeito para todas as crianças e adultos que cresceram sem mãe por causa de homens desprezíveis que tiraram a vida de mulheres. É um desrespeito para toda a sociedade num país em que 12 mulheres são mortas todos os dias. E mais: colabora com a ideia de que matar mulheres é permitido. Desde que você cumpra sua pena ou parte da pena, como é o caso de Bruno. Depois você pode viver sua vida normalmente. Não, gente. Não pode", continuou ela.

A âncora fez uma reflexão sobre a Justiça e a condenação, que por muitas vezes deixa de ser eficiente: "Para os sociólogos, o medo da punição é só uma das formas de prevenir crimes na nossa sociedade. E não é a mais eficaz. A reprovação, o medo da exclusão da sociedade, a culpa, a vergonha, a autocrítica são mais poderosos que o medo da pena. Assim, quando a gente condena judicialmente mas tolera socialmente a convivência, o recado dado é que aquela atitude não é tão grave".

Ao finalizar, a apresentadora criticou também o time que está em negociações com o goleiro. "Portanto, na minha visão, o feminicida Bruno pode e deve voltar a trabalhar e refazer sua vida, mas não na posição de ídolo. Não alçado socialmente a uma posição de admiração. Um time de futebol que contrata um feminicida como Bruno é tão desprezível quanto os crimes que ele cometeu", encerrou.

No Instagram, Jessica publicou também um longo texto esclarecendo sua posição. Em determinado trecho fez fortes comparações para exemplificar seu discurso. "E se ele tivesse estuprado um bebê? O que os 'fãs' diriam? Lembro que há pouco mais de dois anos, jogadores foram flagrados num vídeo masturbando uns aos outros no vestiário de um clube gaúcho. Os quatro jogadores foram dispensados. Seus nomes, inclusive, foram poupados para evitar que eles fossem banidos do futebol", lembrou.

Em dezembro último, a jornalista foi escalada para o rodízio aos sábados do Jornal Nacional em 2020. O nome dela foi eleito após passar pela ação de 50 anos do telejornal, que levou âncoras do Brasil inteiro para a bancada.

Confira a declaração de Jessica Senra sobre o goleiro Bruno:

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Eu acredito na recuperação do ser humano. Acredito que a maioria das pessoas merece outras chances depois que comete erros, porque errar é da essência humana. O perdão é um dos sentimentos mais belos que podemos cultivar. Mas perdoar alguém não significa esquecer o que esse alguém fez nem permitir que esse alguém continue em nossa vida. Perdoar e dar uma nova chance não apaga o que foi feito, não se pode fingir que nada aconteceu. Embora juridicamente o cumprimento de uma pena libera o condenado para seguir sua vida normalmente, é socialmente que precisamos pensar no que toleramos ou não. Nem tudo é apenas questão de lei. Há comportamentos legais que são imorais. Um condenado pode e deve ser ressocializado. Deve merecer uma segunda chance. Mas penso que, depois de um crime tão perverso, voltar a ser ídolo, a estar numa posição que lhe confere status de ídolo, é bastante questionável. Penso que o feminicida deve voltar ao trabalho, mas não no futebol, não como ídolo. Defendo sua ressocialização, mas longe de qualquer torcida. E isso não é a lei que vai decidir. É a sociedade. E se ele tivesse estuprado um bebê? O que os “fãs” diriam? Lembro que há pouco mais de dois anos, jogadores foram flagrados num vídeo masturbando uns aos outros no vestiário de um clube gaúcho. Os quatro jogadores foram dispensados. Seus nomes, inclusive, foram poupados para evitar que eles fossem banidos do futebol. E é bom que fique bem claro: eles não cometeram crime algum, não fizeram nada contra a vontade de ninguém! Mas, absurdamente, a homossexualidade ainda é intolerável no futebol. Ser feminicida é aceitável? O que você pensa disso? #NãoAoFeminicídio

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