MEMÓRIA DA TV
REPRODUÇÃO/SBT
Raymundo de Souza, Carlo Briani, Miriam Pirez e Dênis Derkian em Meus Filhos, Minha Vida, do SBT
Publicado em 14/3/2021 - 6h39
Em sua primeira década de existência, além das inconfundíveis novelas mexicanas da Televisa, o SBT se aventurou em produzir algumas produções por conta própria. Essas tramas ainda estavam longe do padrão de qualidade que a Globo acabou impondo ao setor, como foi o caso de Meus Filhos, Minha Vida, de 1984, que, em sua segunda reprise, chegou a ser comparada a um programa humorístico.
Além de exibir sucessos como Os Ricos Também Choram e Chispita, o canal de Silvio Santos iniciou sua tímida produção de teledramaturgia em 1982, com Destino, A Força do Amor, A Leoa e Conflito. Em 1983, vieram Sombras do Passado, A Ponte do Amor, A Justiça de Deus, Pecado de Amor, Razão de Viver, O Anjo Maldito e Vida Roubada.
Em comum, essas produções tinham a curta duração, a existência de poucas estrelas no elenco e serem adaptações de textos mexicanos.
Meus Filhos, Minha Vida estreou em 8 de junho de 1984 e foi uma das tramas desse período que mais deu certo, para os padrões do canal na época, evidentemente, tanto que foi esticada e ficou nove meses no ar.
Escrita por Ismael Fernandes, Henrique Lobo e Crayton Sarzy, foi concebida justamente para ser uma opção aos textos da Globo. "Com produção simples, nenhuma tentativa de estrelismo por parte do elenco, Meus Filhos, Minha Vida deixou registrado um modelo ideal de novela, capaz de oferecer uma opção ao telespectador independente das produções globais. Uma concepção cênica própria, totalmente inserida na filosofia popularesca da emissora", explicou Fernandes em seu livro Memória da Telenovela Brasileira.
Nos papeis principais, estavam Miriam Pires (1927-2004), como a batalhadora Luzia, e seus três filhos, vividos por Denis Derkian, Carlo Briani e Raymundo de Souza. Nomes como Cláudia Alencar, Sônia de Paula, Eliane Giardini, Rogério Márcico, Cleyde Yáconis (1923-2013) e Arlete Montenegro também estavam no elenco.
DIVULGAÇÃO/tv globo
Louise Cardoso, Regina Casé e Ney Latorraca
No entanto, a história passou batida na exibição original e na reprise de 1987, e a crítica acabou massacrando a produção em sua terceira incursão na telinha, em 1990, no período da tarde.
Reportagem da Folha de S.Paulo de 20 de maio daquele ano comparou a novela com os programas humorísticos da época. "Velha já de cinco anos, Meus Filhos, Minha Vida bem poderia ter servido de inspiração para TV Pirata. Fonte inesgotável de chacota, a novela que o SBT reprisa de segunda a sábado, às 18h30, tem cenários que o telespectador torce para não caírem e figurinos que mais parecem a roupa do corpo dos próprios atores. Meus Filhos acaba sendo muito mais engraçada do que a média dos programas humorísticos atualmente na TV", destacou o jornal.
"Miriam Pires, no papel de dona Luzia, vive a mãe para quem os filhos representam tudo --inclusive problemas, principalmente de atuação. Atriz que já passou por papeis mais dignos, Miriam amarga mais ainda seu sofrido semblante ao ter que responder às falas atravessadas de seus filhos", continuou a reportagem.
A matéria ainda destacou que a atração tinha "conversas antológicas, diálogos desencontrados e brancos constrangedores".
"Em Meus Filhos, a vida é muito simples. Rico mora no Morumbi, tem motorista e filha problemática. Pobre mora no Brás, dorme tudo no mesmo quarto e vive de fuxico. Tudo bem para os autores. Mas tudo péssimo para quem assiste", concluiu o ácido texto.
As precárias tramas do SBT dos anos 1980 ficaram para trás quando o canal investiu fortemente em seu departamento de teledramaturgia, a partir de 1993, com produções como Éramos Seis, As Pupilas do Senhor Reitor e Sangue do Meu Sangue.
Nunca mais reprisada, Meus Filhos, Minha Vida acabou ganhando um remake melhor produzido, em 1996, como Razão de Viver, com Irene Ravache, Marco Ricca e Adriana Esteves encabeçando o elenco. Mesmo assim, como a trama original, o Ibope não foi dos melhores.
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