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CIRO BOTTINI

Ex-apresentador do Shoptime revela bastidor secreto do canal de vendas

Saulo Soares/Shoptime

Ciro Bottini faz expressão vitoriosa em uma casa cenográfica

Ciro Bottini no cenário do Shoptime: canal chega ao fim nesta quinta-feira (1º) após 28 anos

LUCIANO GUARALDO

luciano@noticiasdatv.com

Publicado em 1/6/2023 - 6h45

Lançado em novembro de 1995, o Shoptime sai do ar nesta quinta-feira (1º) com uma despedida melancólica. Comprada pela controladora das Americanas em 2005, a TV de vendas se tornou vítima do rombo bilionário da rede varejista. Para Ciro Bottini, apresentador do canal desde o lançamento até 2020, o fato de ele ter durado quase 28 anos é algo surpreendente por si só.

"No comecinho, nós não sabíamos bem o que era bacana de vender na TV, o que causaria um efeito positivo com o público. Então íamos buscando, tentando, errando e aprendendo até acertar", revela o apresentador em conversa com o Notícias da TV. "Tinham uns produtos bem estranhos (risos)."

Além do catálogo esquisito para um canal de TV, o Shoptime também teve de lidar com a desconfiança dos compradores nos primeiros meses. "Até tínhamos uma audiência legal, mas era muito difícil vender. As pessoas tinham medo de comprar, de passar o número do cartão de crédito por telefone."

O jogo só virou com uma atração comandada pelo próprio Ciro Bottini. "Eu apresentava o CD Mania, e o primeiro produto a fazer muito sucesso foi o CD. Porque não era tão caro, então o público criava coragem de testar. Se fosse um golpe e a compra não desse certo, não teria gastado tanto dinheiro. Os CDs ficaram quase um ano inteiro como campeão de vendas. Aí o povo tomou confiança, começou a comprar panelas, outros produtos mais caros."

Nos quase 25 anos que passou no Shoptime, Bottini encarou muitos desafios. Divulgou produtos esquisitos --"depois de um tempo, ganhei autonomia para falar: 'Isso é ruim, não vou vender", confessa--, criou bordões e passou horas ao vivo no ar para negociar tudo o que caísse em suas mãos. "Quando algo vendia bem, o diretor dizia no ponto no seu ouvido para continuar falando. Eu chegava a ficar 40, 50 minutos, uma hora inteira no mesmo produto. Tinha que estar pronto para qualquer improviso", lembra.

O apresentador deixou o Shoptime em 2020, de comum acordo, porque sentiu que estava em um momento decisivo e que seu ciclo tinha se encerrado. Para ele, o fim do canal nesta quinta-feira já era uma tragédia anunciada. "A empresa não conseguiu fazer a transição para o digital", lamenta.

É uma coisa triste, mas eu já esperava, por vários motivos. O primeiro é que o modelo de negócios quando começamos, lá atrás, era muito moderno, disruptivo, tenho muito orgulho do que a gente fez. Mas os anos se passaram, e o Shoptime não conseguiu revitalizar a marca, rejuvenescer o público.

"A televisão continua vivíssima, mas a venda de produtos não tem mais aquele apelo do passado. Hoje, o que se vê é algo mais ágil, conectado, de live commerce. Na essência, é a mesma coisa (risos), mas em outra mídia", alfineta.

O segundo motivo para o fim do Shoptime, segundo Bottini, é a própria situação da Americanas. "Com o colapso da marca, o rombo nos cofres da empresa, é inevitável que tenham que cortar custos. O canal não era a marca principal do portfólio deles, já vinha dando sinais de cansaço, era evidente que isso ia acontecer."

Vale vender tudo, até a si mesmo

Mesmo fora da TV, Ciro Bottini não saiu da vida de comércio que o consagrou. Ele adotou o slogan "vender, vender, vender" e faz palestras por todo o Brasil para ensinar interessados em faturar com produtos --ou seja, o apresentador agora "vende" a si mesmo.

"Eu comecei a fazer as palestras em 2005, fiquei anos conciliando minha agenda no Shoptime com isso. Identifiquei essa área como um nicho de mercado há muitos anos. Então, quando saí do canal, minha agenda ficou aberta para mais eventos. Hoje, faço de 10 a 15 palestras por mês e tenho um faturamento muito melhor", entrega, sem divulgar números.

A experiência do autoproclamado "mais famoso vendedor televisivo do Brasil" também gerou um novo negócio: ele abriu uma empresa própria, a Máquina de Propagandas Bottini, na qual negocia a gravação de propagandas para pequenas e médias empresas de todo o país --que dificilmente teriam acesso a garotos-propaganda conhecidos nacionalmente.

"Montei dois estúdios nas minhas casas, gravo tudo lá. Fecho o contrato online, entrego online, é tudo muito rápido. E tudo personalizado. Falo com entre 40 e 50 novos clientes por dia. Não fecho com todos, é claro, mas muitos dão certo. Faço para o dono da padaria de bairro, da fábrica pequena do interior", lista ele, que não perde uma chance de vender seu peixe.

"Você liga e não fala com meu empresário, vai falar comigo direto, é o meu número que eu divulgo. Adoro conquistar clientes. Não só pelo dinheiro, que é bom também, mas pela sensação de conquista. Todo vendedor tem isso, é um desafio, um obstáculo, e quando você supera eleva a sua autoconfiança."

Com tanto tesão em "vender, vender, vender", Bottini afirma categoricamente que não sente medo de ficar marcado pelo tempo que passou na TV. "Eu sou vendedor com muito orgulho. Criei esse meu caminho e vou nele até o fim. Não sou ator, quando vendo um produto, estou sendo eu mesmo. Fiz e faço sucesso como vendedor, sem motivo para ter vergonha", resume.

Ele não perde o bom humor nem quando fala sobre o fim do Shoptime. "Sabe que esse movimento acabou me trazendo muitos amigos da época de volta? Muita gente que trabalhou comigo lá no começo me chamou, mandou mensagem, isso foi ótimo. Eu amei meus anos lá, e chegou uma hora que esse ciclo se fechou. Mas a vida continua, e as vendas não podem parar!"


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