Esquecido pela Globo, Linha Direta vira fenômeno inesperado na internet

Esquecido pela Globo, o Linha Direta (1999-2007) virou um grande fenômeno no YouTube. Um canal que posta edições antigas da atração que ajudava a capturar bandidos foragidos conta com quase 200 mil inscritos. Somente uma edição do programa conta com quase 3 milhões de visualizações. Outros influenciadores da plataforma perceberam esta repercussão e começaram a fazer vídeos temáticos sobre o policial.

O canal que ajudou a popularizar o programa é o Arquivo Linha Direta. Ele faz um compilado de edições compartilhadas por outros usuários dedicados à atração, mas também traz conteúdo nunca antes disponibilizado. Atualmente, conta com 187 mil inscrições e tem postado sem frequência determinada.

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O vídeo com mais visualizações do canal é a edição sobre uma mulher que, juntamente com o seu amante, mandou matar o marido. Exibida em 2007 na TV, a edição da atração tem exatos 2,9 milhões de visualizações no YouTube. Outras sete edições do Linha Direta postadas contam com cerca de 400 mil cada.

O que chama a atenção é que os casos mais vistos não são de crimes com alta repercussão, e sim aqueles que mostram situações banais. Um deles é o programa que foi apresentado originalmente em 17 de junho de 2004 e falava de uma família de policiais que assassinou seus vizinhos. Mesmo com a imagem em preto e branco pela qualidade ruim da gravação em VHS, o programa conta com 326 mil visualizações.

Com o saudosismo em cima da atração, alguns youtubers perceberam que falar do programa dá retorno. O canal Nerd Show, com mais de 2 milhões de inscritos, fez um vídeo especial sobre o programa disponibilizado no fim do ano passado --conta com 800 mil visualizações. Já outro vídeo que fala de casos tenebrosos mostrados pelo Linha Direta que nunca foram solucionados tem ainda mais: 1,7 milhão.

O Notícias da TV tentou entrar em contato com o dono do canal Arquivo Linha Direta, mas não obteve êxito. A coluna também questionou a Globo se as postagens completas do programa não configuram quebra de conteúdo autoral, mesmo que não haja uma expectativa de disponibilizá-las nos Globoplay. A emissora não respondeu até o fechamento deste texto.

A história do Linha Direta

O Linha Direta teve uma primeira versão feita em 1990, sob o comando de Hélio Costa. No entanto, o formato não deu certo e ficou menos de três meses no ar, entre 29 de março e 24 de junho. Em 1999, em uma resposta contra as constantes derrotas para Ratinho nas noites de quinta, a emissora estreou uma nova versão em 27 de maio de 1999 com Marcelo Rezende (1951-2017).

Inspirado no norte-americano Unsolved Mysteries, que ficou no ar entre 1987 e 2010, o Linha Direta reconstituía semanalmente, com riqueza de detalhes, dois casos que permaneciam sem solução, dando a opção aos telespectadores de fornecer, por telefone, informações sobre os criminosos foragidos. Posteriormente, também era possível colaborar pela internet. Rapidamente, a atração caiu no gosto popular e freou o roedor do SBT.

Rezende deixou o programa em 2000, sendo substituído por Domingos Meirelles. Posteriormente, surgiram edições temáticas, como Linha Direta: Justiça, que mostrava crimes e tragédias históricas; e Mistério, com casos sobrenaturais. Enquanto esteve no ar, o programa sempre foi visto como um patinho feio da programação. Até os dias de hoje, a Globo fala pouco dele.

Em fevereiro de 2003, porém, a Globo recebeu a medalha Tiradentes da Alerj (Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro), a maior comenda estadual, por reconhecimento aos méritos do programa. Já em 2007, o programa foi indicado ao Emmy Internacional pela sua reportagem sobre o caso Césio 137.

Apesar da ajuda no combate ao crime e dos prêmios, o formato do Linha Direta foi dado como desgastado. Mesmo com protestos de entidades ligadas aos direitos humanos, a Globo decidiu acabar com o programa. A última edição foi exibida em 6 de dezembro de 2007. Depois disso, uma possível volta da atração chegou a ser especulada em algumas oportunidades, mas nunca foi concretizada.