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Veruska Donato em foto publicada no Instagram; repórter trabalhou na Globo durante 21 anos
GABRIEL VAQUER, colunista
Publicado em 7/2/2023 - 7h00
Atualizado em 7/2/2023 - 16h00
O processo movido por Veruska Donato contra a Globo revelou um documento com orientações para controlar roupas e até a forma física de repórteres. A jornalista, que trabalhou na emissora durante 21 anos, anexou à ação um e-mail enviado pela chefia em que roupas de tecido aderente são consideradas "um perigo" para o visual porque marcam "um estômago mais avantajado e barriguinhas persistentes".
O Notícias da TV teve acesso exclusivo à mensagem enviada em junho de 2017 e assinada por Cristina Piasentini, diretora de Jornalismo da Globo em São Paulo entre 2008 e 2020, e Ana Escalada, então chefe de Redação (e atual diretora), para orientar os profissionais que aparecem no vídeo.
No documento (disponível na íntegra ao final), a chefia reconhece que a informalidade ganhou espaço também no jornalismo, mas ressalta que a nova realidade não é pretexto para descuidar das regras de padrão impostas pela empresa.
"A necessidade de colocar o repórter mais próximo do telespectador fez com que os blazers fossem substituídos por camisas e blusas de tricôs, as unhas pudessem ter alguma cor e saias/vestidos passaram a fazer parte do dia a dia da repórter. Apesar disso, temos visto alguns visuais inadequados, mesmo para os tempos atuais", diz o e-mail.
Na hora de dar orientação sobre que tipo de calça usar, as chefes consideraram um "perigo" tecidos que pudessem evidenciar sobrepeso e marcas de elástico de roupa íntima.
Tanto malhas quanto pano corrido que tenham fio de elastano na composição representam perigo em potencial para o figurino. A malha muito apertada marca detalhes, que não deveriam ser marcados, como dobras provocadas pelo sutiã, um estômago mais avantajado, barriguinhas persistentes, especialmente nos tons mais claros.
O comunicado foi usado por Veruska Donato para demonstrar no processo que ela era pressionada a se manter em um padrão de beleza, fato que a fez adoecer por não conseguir se adequar.
Na terça (31) passada, ela entrou com ação judicial contra Globo por assédio moral e por ter sido demitida cinco dias depois de um afastamento por síndrome de Burnout, além de exigir direitos trabalhistas do período em que trabalhou como PJ (Pessoa Jurídica). Se condenada, a emissora pode pagar uma indenização de R$ 13 milhões. A primeira audiência do caso vai acontecer em 27 de março.
Mesmo se tratando de um documento de 2017, a reportagem apurou que ainda há uma preocupação de repórteres, principalmente mulheres, com o visual na Globo em São Paulo.
O Notícias da TV questionou a Globo na última sexta-feira (3), via e-mail e telefone, para entender se houve uma mudança de política e como a empresa se posiciona sobre o tema atualmente.
As perguntas foram as seguintes: "1 - As mesmas orientações contidas no e-mail de 2017 ainda valem atualmente? Quais foram as mudanças (caso haja)?; 2 - A cobrança por um padrão (se existir) é a mesma para homens e mulheres?; 3 - Existe por parte da empresa uma preocupação em conciliar o dito padrão com a inclusão de diversidade de corpos entre repórteres?".
Após a publicação da reportagem, a Globo enviou o seguinte posicionamento: "A Globo não comenta ações judiciais em curso. O que pode assegurar é que não existe nenhuma orientação nesse sentido para nossos profissionais".
Veja o e-mail anexado ao processo na íntegra:
"Caros e caras,
Nos últimos anos, acompanhando as mudanças no comportamento das pessoas em geral, as diretrizes do figurino do Jornalismo, especialmente no que diz respeito às moças, ficaram mais flexíveis. A necessidade de colocar o repórter mais próximo do telespectador fez com que os blazers fossem substituídos por camisas e blusas de tricôs, as unhas pudessem ter alguma cor e saias/vestidos passaram a fazer parte do dia a dia da repórter. Apesar disso, temos visto alguns visuais inadequados, mesmo para os tempos atuais.
Gostaríamos, então, de lembrar alguns conceitos e normas que continuam importantes para o visual do Jornalismo da Globo.
Estampas - A estampa sempre foi proibida no Jornalismo pelo risco que ela pode causar na comunicação com o telespectador. Desde questões técnicas como o batimento, ao risco de um desafio ao bom gosto e ao bom senso, estampas florais, gráficas, listras com contraste forte, xadrezes de uma maneira geral não funcionam no vídeo. Elas costumam poluir a imagem e desviar a atenção do telespectador.
O certo: Funcionam bem no vídeo os listrados e xadrezes pequenos em tons que não façam muito contraste.
Calças - Leggings, fuseau e skinnies aumentam muito o quadril. Sarouel, dhoti, cenouras e outras excentricidades fashion não fotografam bem mesmo, fora que podem ser confortáveis e descoladas, mas não compõem um visual elegante, em nenhum tipo de quadril. Jeans são permitidos, mas devem ser elegantes e bons, de preferência escuros. Nada de jeans rasgados e 'modernosos', nem para homens, nem para mulheres.
O certo: As calças mais adequadas para o jornalismo são as de corte de alfaiataria, retas. No caso de jeans, as pernas também devem ser retas.
Tecidos aderentes - Tanto malhas quanto pano corrido que tenham fio de elastano na composição representam perigo em potencial para o figurino. A malha muito apertada marca detalhes, que não deveriam ser marcados, como dobras provocadas pelo sutiã, um estômago mais avantajado, barriguinhas persistentes, especialmente nos tons mais claros.
No caso da roupa feita de tecido com elasticidade o risco de ficar apertada e repuxada é grande e dará a sensação de que o botão vai pular ou o fecho não vai resistir. Também, ao comprar a peça, é importante observar se a costura não está franzida. Esse tipo de material exige destreza da costureira na máquina e uma agulha especial que, muitas vezes, as confecções menores oferecem. No vídeo, o resultado é uma roupa eternamente amassada. Mesmo que a vendedora diga que passando sai, não sai não".
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