MEMÓRIA DA TV
Divulgação/SBT
O elenco da versão de 1994 de Éramos Seis: Silvio Santos usou a intuição para emplacar um sucesso
THELL DE CASTRO
Publicado em 22/9/2019 - 6h57
Éramos Seis terá sua quinta versão na televisão brasileira a partir do próximo dia 30, na Globo. Na mais célebre produzida até hoje, a de 1994, pelo SBT, o público teve a opção de acompanhar a história em dois horários. E o método pelo qual Silvio Santos escolheu esse formato de exibição não foi nada científico.
A ideia era transmitir a novela dessa forma durante apenas 15 dias: às 19h45, após A Viagem na Globo, e uma reprise às 21h45, após Fera Ferida. Assim, o público poderia acompanhar as tramas globais e escolher o melhor horário para ver a produção que reativou o núcleo de teledramaturgia do SBT. Aquele que tivesse a melhor audiência, seria fixado na grade. O desafio não era fácil. A Viagem dava mais de 50 pontos no Ibope.
Essa estratégia de basear a programação de acordo com atrações da Globo não era novidade. Silvio fez isso em 1985, quando esperava Roque Santeiro terminar para exibir a minissérie Pássaros Feridos, e também houve uma briga em 1988 para a estreia do Cinema em Casa, com o filme Rambo.
O SBT chegou a publicar anúncios em jornais desafiando a Globo. "Mate a saudade das grandes novelas da Globo. Assista a Éramos Seis no SBT", dizia o título de uma das peças.
Para que o SBT pudesse exibir Éramos Seis em duas faixas, o Programa Livre, de Serginho Groisman, em mais uma de suas dezenas de mudanças, foi deslocado para as 17h. A linha de shows semanal, com destaque para Hebe (1929-2012) nas noites de segunda, passou a começar mais tarde. E o Jornal do SBT ficou só com uma edição, às 22h30.
De acordo com reportagem da Folha de S.Paulo de 2 de maio de 1994, a ideia do teste, evidentemente, só poderia ser de Silvio Santos. "No início da semana passada, quando todos imaginavam que a novela ocuparia apenas a faixa das 21h30, o empresário deslocou uma equipe de produção para o centro de São Paulo. Os funcionários foram às ruas com a tarefa de parar desconhecidos e indagar quando gostariam de ver Éramos Seis: se após A Viagem ou Fera Ferida", explicou o texto.
Em quatro dias, foram feitas cerca de 500 enquetes, que deram ligeira vantagem ao horário das 21h45, escolhido por 55% dos entrevistados. "Para Silvio Santos, houve empate técnico", decretou o jornal.
"A pesquisa não tem nenhum critério científico", reconheceu Guilherme Stoliar, então vice-presidente do SBT. Mesmo assim, Silvio levou a opinião do público em consideração e reservou os dois horários para a trama.
A tática tinha uma motivação: garantir uma boa audiência para a novela --eram esperados pelo menos 12 pontos de média na Grande São Paulo. Foram investidos mais de US$ 5,5 milhões na empreitada, incluindo a construção de uma cidade cenográfica com padrão das produções da Globo.
E se Silvio Santos cometeu alguns deslizes em suas inúmeras interferências na programação do SBT, nessa estratégia ele acertou. Em 5 de junho daquele ano, a Folha informou que, somando as duas exibições, a audiência chegou a 15 pontos, preocupando a Globo. "Boni [então mandachuva global], encomendou pesquisas para avaliar quem vê a novela em cada horário", informou o jornal.
Na reta final, a audiência ultrapassou a casa dos 20 pontos. Para comemorar, após o último capítulo, no dia 26 de novembro de 1994, foi exibida uma edição especial do programa de Hebe, com a participação do elenco, um bolo e a divulgação da trama seguinte, As Pupilas do Senhor Reitor.
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