Memória da TV
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Rambo II – A Missão foi lançado em 1985 e exibido três anos depois pela Globo para brigar com o SBT
THELL DE CASTRO
Publicado em 23/6/2019 - 5h53
A guerra pela audiência entre Globo e SBT viveu um de seus melhores momentos em 1988. Após a contratação de Jô Soares para ganhar o maior salário da televisão brasileira na época, o canal de Silvio Santos anunciou a exibição de Rambo: Programado para Matar e foi surpreendido pela rival, que programou Rambo II – A Missão para o mesmo dia. Era a primeira vez que a Globo respondia para um rival.
"Reviravolta na programação da Globo. A emissora resolveu atacar, amanhã à noite, com Rambo II, para enfrentar no mesmo horário o Rambo I, escolhido pelo SBT para estrear o seu Cinema em Casa", destacou o Jornal do Brasil de 16 de agosto daquele ano.
Ao jornal O Globo de 17 de agosto, Roberto Buzzoni, então diretor de programação da Globo, admitiu que era a primeira vez que a emissora provocava um rival em busca de audiência. "São frequentes as mudanças de programação em função do que será exibido pelos outros canais, mas nunca a disputa pela audiência colocou o mesmo herói em duas frentes de batalha – e no mesmo horário", destacou o jornal.
"Rambo II é mais forte e deu mais bilheteria. Por que não dar ao espectador oportunidade para escolher o melhor? Resolvemos lançar nosso produto para a exibição no mesmo horário do Rambo I e deixar que o público escolhesse qual assistir. O primeiro é um Rambo velho, da época em que o herói não era tão musculoso ou famoso. Eu nunca tive dúvidas de que o segundo filme da série é muito melhor que o primeiro", disse o executivo ao jornal.
No tão esperado dia da exibição dos filmes, o SBT decidiu adiar a estreia de sua nova sessão, transferindo o filme para a semana seguinte. Quem colocou no canal na hora do filme, deu de cara com mais uma das mensagens bem-humoradas que se tornaram símbolo da emissora naquela época: "Quem procura acha o Rambo na Globo", brincando com seu próprio slogan na época (Quem procura, acha aqui)".
No lugar do filme, o canal colocou no ar uma reprise do sertanejo Musicamp. A Globo, claro, se deu bem. No Rio de Janeiro, por exemplo, o filme registrou 77% de audiência, com 4,6 milhões de expectadores – no mesmo horário, o SBT ficou com 5%.
Na semana seguinte, o SBT estava em alerta. "Amanhã, às 21h30, se a Globo trocar o Globo Repórter por algum filme de impacto, para tentar barrar a escalada que se espera no Ibope, poderá ter alguma surpresa", destacou o Jornal do Brasil de 25 de agosto.
"Vamos decidir na hora, conforme a Globo se movimentar", avisou um alto executivo do SBT. "Nessa disputa com a Globo, temos sempre várias alternativas e mais agilidade porque, enquanto no caso deles quem decide é o Boni, no nosso decidimos sempre com o dono: Silvio Santos", completou ao jornal.
No dia 26, o SBT conseguiu exibir Rambo, mas não sem passar por alguns percalços. A Globo levou ao ar um capítulo duplo de Vale Tudo, terminando a novela somente às 22h15. Enquanto isso, como já havia feito em 1985, quando exibiu Pássaros Feridos somente após o final de Roque Santeiro, um slide entrou no ar com os dizeres: "Não se preocupe, quando terminar a novela da Globo, você vai ver Rambo". E assim ficou por 50 minutos, com a trilha sonora do filme em execução.
Quando o filme começou, o que se viu foi uma surra do SBT no Ibope. Em São Paulo, às 22h15, a Globo tinha 37%, e o SBT já estava com 32%; às 22h30, vitória do SBT por 45% a 23%, mantendo a liderança até o final, cujo placar foi de 48% a 17%. No Rio, a Globo estava com 30% às 22h15, quando o SBT já marcava 38%. Às 23h15, o SBT goleava por 47%, enquanto a Globo tinha apenas 12%.
Nem todo mundo gostou da estratégia. Em matéria do jornal O Globo de 19 de agosto, Lúcia Leme detonou a troca. "A Rede Globo é a principal emissora do país, a mais vista, a melhor, a mais séria, profissional, correta, bem estruturada, a mais produtiva, de maior índice de criatividade, tantas coisas mais. E o será ainda por muito tempo façam as outras o que fizerem. Precisava mesmo brigar com Rambo?", questionou.
Já o JB, eterno rival da família Marinho, gostou do ocorrido. "Pelo visto, o que pinta de novo às vezes pinta na tela dos outros", parafraseando outro slogan global da época ("O que pinta de novo, pinta na tela da Globo)".
THELL DE CASTROé jornalista, editor do site TV História e autor do livro Dicionário da Televisão Brasileira. Siga no Twitter: @thelldecastro
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