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MEMÓRIA DA TV

Em 1980, apresentador foi preso por desacatar censora de bailarinas seminuas

Nelson Di Rago/TV Globo

Abelardo Barbosa durante edição do Cassino do Chacrinha, que ele comandou na Globo - Nelson Di Rago/TV Globo

Abelardo Barbosa durante edição do Cassino do Chacrinha, que ele comandou na Globo

THELL DE CASTRO

Publicado em 2/12/2018 - 7h12

Um dos maiores apresentadores da história da televisão brasileira, Abelardo Barbosa, o Chacrinha (1917-1988), se envolveu em diversas confusões ao longo de sua carreira. Numa delas, em 1980, foi preso em flagrante logo após um programa ao vivo na Band, acusado de desacato à autoridade por uma censora do regime militar.

Tudo aconteceu no dia 1º de julho daquele ano, quando Chacrinha comandava mais um programa diretamente do Teatro Bandeirantes, em São Paulo. Antes de entrar no ar, diversas pessoas estranhas estavam nos bastidores, fato que o deixou irritado.

De acordo com reportagem do Jornal do Brasil publicada dois dias depois, "Abelardo Barbosa expulsou todos, entre os quais uma mulher de estatura média, de óculos, que mais tarde disse ser da Censura Federal. Diante da alegação, ela foi autorizada a permanecer nos bastidores".

Mas a história não terminava aí. Assim que encerrou o programa, Chacrinha, com a roupa extravagante que vestia e exausto após ficar duas horas e meia no ar, recebeu voz de prisão em flagrante por agentes da Polícia Federal.

"Levado às instalações do Departamento de Polícia Federal, na Rua Xavier de Toledo, o artista foi autuado por desacato à autoridade", informou o jornal, completando que ele teve que pagar uma fiança e que foi enquadrado no artigo 331 do Código Penal (desacato de funcionário público no exercício da função).

Por causa de sua passagem pela polícia, o apresentador teve uma crise emocional e precisou receber oxigênio às pressas.

Ainda de acordo com o JB, a censora, "que procurou fugir de toda forma a qualquer contato com a imprensa", alegou no seu depoimento que fora ao local para verificar as roupas das dançarinas do programa, as chacretes, "que estavam um tanto abusivas". Após depor, ela saiu do local escondida no banco traseiro de uma Brasília.

No dia 11 de julho, o jornal voltou ao assunto. Informou que Chacrinha fez uma reunião com o Conselho Superior de Censura, na qual "ouviu um discurso de exaltação ao seu talento e buzinou um conselheiro do qual discordou, durante reunião em que denunciou sua prisão em São Paulo".

Na ocasião, Chacrinha, de paletó branco, camisa gola rolê preta e boné amarelo, leu uma carta de quatro laudas datilografadas e completou sua denúncia com detalhes sobre seu incidente.

"Disse que foi preso por dez agentes federais e mais um delegado, depois de apresentar seu programa na TV Bandeirantes. Depôs durante cinco horas e se achou vítima de discriminação pela Policia Federal, desde quando era diretor do DPF o general Antônio Bandeira", noticiou o jornal.

Meses depois, no dia 2 de novembro, no mesmo Jornal do Brasil, Chacrinha voltou ao assunto. Disse que tudo começou porque a censora não se identificou. "Eu não poderia imaginar que fosse censora", explicou o comunicador.

"A Censura é mais rígida comigo, e o que mais a preocupa, as chacretes. Respeito a Censura e faço o programa com medo, coagido. Pior do que a falta de critérios e a desigualdade é que, se eu reclamar que no programa X se faz uma coisa proibida no meu, o chefe da Censura responde que o censor daquela emissora é Y."

"E é preciso acabar com este negócio de ser Censura de Rio, de São Paulo, quando existe a Federal, para acabar com estes critérios particulares. Mas agora, ela sossegou comigo", completou.

Em 1982, Chacrinha saiu da Bandeirantes e retornou à Globo, exatamente dez anos após uma grande confusão com José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, que o tirou do ar. O apresentador ficou no canal até sua morte, em 1988, comandando seu programa nas tardes de sábado.


THELL DE CASTRO é jornalista, editor do site TV História e autor do livro Dicionário da Televisão Brasileira (Editora InHouse). Siga no Twitter: @thelldecastro

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