Memória da TV
Fotos: Divulgação
O autoproclamado paranormal Uri Geller, que diz entortar talheres com o poder da mente, em foto recente
THELL DE CASTRO
Publicado em 2/9/2018 - 7h47
Atualizado em 3/9/2018 - 5h00
Há 42 anos, o Brasil praticamente parou para ver a participação do paranormal israelense Uri Geller em dois especiais ao vivo na Globo. Milhares de pessoas levaram relógios e eletrodomésticos quebrados para serem consertados. Geller também atraiu críticos, que o chamaram de charlatão, e virou arma na guerra pela audiência com Silvio Santos.
O ilusionista nasceu em 20 de dezembro de 1946, em Tel Aviv. Ele passou a chamar a atenção de cientistas de todo o mundo a partir de novembro de 1973, quando participou de programas da BBC, da Inglaterra, e de rádios norte-americanas.
Ele se apresentava como paranormal e prometia dobrar objetos metálicos, como talheres e chaves, e consertar relógios, mesmo parados há muitos anos, apenas com o poder de sua mente.
Geller veio ao Brasil participar do 1º Congresso Internacional de Parapsicologia e Psicotrônica, realizado no Palácio de Convenções do Anhembi, em São Paulo (SP), causando grande rebuliço na cidade.
A Globo aproveitou e promoveu dois programas especiais ao vivo com o israelense. O primeiro, direto do Teatro Fênix, no Rio de Janeiro (RJ), no dia 15 de julho de 1976, uma quinta-feira, e o segundo, do Teatro Globo, na capital paulista, no dia 1º de agosto, um domingo.
Sob o comando do veterano Hilton Gomes (1924-1999), primeiro parceiro de Cid Moreira na apresentação do Jornal Nacional, e participação da atriz Maria Fernanda, que ajudava na tradução, os dois programas fizeram muito sucesso e entraram na lista dos mais vistos daquele ano.
Na primeira exibição, chegou-se a 90% de audiência, índice somente alcançado pela novela Selva de Pedra, em 1972. A segunda vez foi utilizada pela emissora para promover a nova grade, já que era o primeiro domingo sem o Programa Silvio Santos na programação do canal.
O que se viu, nas duas ocasiões, foram imensas filas, com até crianças, que levaram objetos, relógios e eletrodomésticos para a porta dos teatros, buscando ajuda de Geller. Também foram destacadas várias telefonistas, que atendiam telespectadores que ligavam para contar os fenômenos que ocorriam em suas casas, já que o paranormal ensinava como as pessoas podiam fazer as mesmas coisas que ele.
"Geller não conseguiu em relação à plateia, que assistia ao vivo à sua apresentação, a mesma receptividade que teve junto a milhares de telespectadores em todo o Brasil. Ao vivo, aparentemente lhe faltava o envolvimento capaz de manter mais próximo esse público, formado na maioria de crianças, de modo a torná-lo suscetível às sugestões de sua mente, que à distância conseguiu entortar garfos e colheres, consertar relógios e aparelhos domésticos", destacou o jornal O Globo de 16 de julho de 1976.
Os críticos atacam
Para combater a audiência da Globo, Silvio Santos se movimentou: prometeu levar ao seu primeiro programa dominical, que seria exibido pela Tupi, TVS e outras emissoras independentes, Oseso Monteiro (1921-2017), conhecido como o "Uri Geller brasileiro".
No final, segundo a revista Amiga, o apresentador desistiu, tirando o paranormal nacional do embate direto (ele esteve em outra atração, Silvio Santos Diferente).
"Farei tudo o que Uri Geller fez e muito mais. Vou transmitir mentalmente um desenho para os telespectadores e estes escreverão para os Estúdios Silvio Santos, reproduzindo esse desenho. Vou fazer todos os números que o Geller fez, só que com os olhos vendados e sem a presença de assessores junto de mim", desafiou.
Apesar de ter conquistado milhares de fãs, Uri Geller também causou polêmica. O padre jesuíta Oscar Quevedo confrontou o paranormal, dizendo que se tratava de uma farsa.
"Ao fim de cinco horas, demonstrei, no ar, que aquilo tudo era falso. No dia seguinte, ele próprio reconheceu que o que fazia era truque e embarcou de volta para casa no primeiro avião", disse Quevedo à Folha de S.Paulo de 2 de janeiro de 2000.
Outro crítico costumaz era o ilusionista canadense James Randi. Ele sustentava que os fenômenos de Geller não passavam de truques de mágica.
Verdade ou mentira, Uri Geller foi um dos personagens mais falados no Brasil (e no mundo) durante boa parte dos anos 1970. Atualmente, aos 71 anos, vive em Londres, na Inglaterra, e continua fazendo apresentações e previsões, além de participar de documentários e programas de televisão.
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