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NÃO CAI DO CÉU

Igreja Universal corta R$ 120 milhões da verba de TV e ameaça emissoras

reprodução/facebook

Edgard Brum na bancada do Fala que Eu Te Escuto; investimentos da Universal em TVs abertas caíram  - reprodução/facebook

Edgard Brum na bancada do Fala que Eu Te Escuto; investimentos da Universal em TVs abertas caíram

DANIEL CASTRO e RUI DANTAS

Publicado em 3/9/2018 - 5h42

Maior anunciante privado do país, a Igreja Universal do Reino de Deus decidiu cortar de 30% a 40% a sua verba para compra de espaços em emissoras de TV. Isso significa um enxugamento de até R$ 120 milhões nos pouco mais de R$ 800 milhões que ela planejou investir em mídia televisiva neste ano. Emissoras pequenas e regionais ficarão com suas finanças seriamente ameaçadas se perderem o dinheiro da igreja de Edir Macedo.

Na semana passada, a Universal rompeu uma parceria que já durava 16 anos com a TV Gazeta, de São Paulo. O Notícias da TV apurou que a Gazeta não aceitou o corte de 40% na verba, e a igreja cancelou o acordo. A emissora da Fundação Cásper Líbero recebia cerca de R$ 3 milhões por mês da IURD.

Negociações tensas vêm ocorrendo com a Band, a RedeTV! e o Canal 21. Segundo fontes do mercado, a igreja tentou cancelar o contrato que assinou com o Canal 21 em dezembro de 2013 para expulsar da emissora do Grupo Bandeirantes o concorrente Valdemiro Santiago.

reprodução/record

No Templo de Salomão, Edir Macedo prega em um de seus principais cultos exibidos na TV

O acordo com o 21 é um dos piores mantidos pela Universal. A igreja paga aproximadamente R$ 10 milhões por mês para ocupar 21 horas da grade de uma emissora que dá traço na Grande São Paulo. O contrato só não foi rasgado porque pagar a multa rescisória é inviável.

A RedeTV! também luta para manter os cerca de R$ 70 milhões anuais que fatura transmitindo telecultos da IURD. Assim como na Band, um corte de até 40% nessa verba comprometeria o orçamento da emissora em uma época em que os governos federal e municipal não podem anunciar por causa das restrições eleitorais.

A Igreja Universal só não irá cortar, por enquanto, a verba que investe na Record, cerca de R$ 500 milhões anuais. O valor, contudo, não é reajustado há vários anos.

O que está por trás desse movimento da IURD? Primeiramente, a crise econômica. Fontes ligadas à igreja apontam que, mesmo com os templos lotados, as receitas caíram, porque o desemprego afeta o pagamento do dízimo.

Em segundo lugar, a emissora está revendo a estratégia que adotou há cinco anos, quando comprou todos os espaços disponíveis no Canal 21, CNT, Band, RedeTV! e de afiliadas (exceto da Globo) de todo o país para cortar a exposição de Valdemiro Santiago, da Igreja Mundial, que na época avançava sobre os fiéis da Universal.

divulgação/universal

Novo número um da Universal, Renato Cardoso lidera os cortes feitos pela igreja em TV

O terceiro fator é o bispo Renato Cardoso. Novo líder da Igreja Universal no Brasil, o genro de Edir Macedo é adepto fervoroso da contenção de gastos. E ele pensa que a Universal já está no lugar mais estratégico que poderia estar, a Record, então não precisa de emissoras que não têm audiência.

Crise nas igrejas
O professor e pesquisador de Sociologia da Religião da Universidade de São Paulo Ricardo Mariano analisa que, além da crise, os pesados investimentos feitos pelas igrejas em novas ferramentas, em especial para atrair o público mais jovem, como os aplicativos para celulares, plataformas de streaming (como a Univer, da Universal) e TV paga, ainda não deram o retorno esperado. 

"Com um público penalizado pela crise econômica, com renda média abaixo da nacional, de acordo com os dados de que dispomos, esses retornos vão demorar a acontecer", avalia Mariano.

A Igreja Universal, via comunicado oficial, diz que não há diminuição, mas uma "redistribuição de investimentos de TV em melhores canais e horários".

A Igreja Internacional da Graça de Deus afirma que sua comunicação em TV aberta segue inalterada. "Continuaremos a locar somente espaços em redes, no caso a Band e a RedeTV!, mas não nas retransmissoras", afirmou o bispo Eber Cocareli, assessor do missionário R.R. Soares.

Cocareli admite que haverá renegociação de valores e avisa que quem fechará os contratos será o próprio R.R. Soares.

Procurada, a Igreja Mundial do Poder de Deus não respondeu à solicitação do Notícias da TV até o fechamento desta edição.

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