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MEMÓRIA DA TV

Em 1969, estrela da Globo causou polêmica ao fazer blackface em novela

REPRODUÇÃO/TV GLOBO

Sérgio Cardoso caracterizado de homem negro para protagonizar A Cabana do Pai Tomás (1969)

Sérgio Cardoso caracterizado de homem negro para protagonizar A Cabana do Pai Tomás (1969)

THELL DE CASTRO

Publicado em 7/3/2021 - 6h45

Espécie de ...E o Vento Levou da Globo, A Cabana do Pai Tomás (1969) chamou mais atenção pelas polêmicas durante sua exibição do que por sua audiência. Entre os muitos problemas, o principal deles foi a escalação de Sérgio Cardoso (1925-1972), uma das maiores estrelas da televisão naquela época, para o papel de um personagem negro, fazendo uso de blackface na caracterização.

Última novela da gestão da cubana Glória Magadan (1966-1969) na emissora, A Cabana do Pai Tomás estreou em 7 de julho de 1969 no Rio de Janeiro e dois dias depois na capital paulista --a Globo ainda não exibia sua programação em rede, o que começaria a ser implantado aos poucos, em setembro daquele ano, com o Jornal Nacional.

A duas semanas da estreia, um incêndio destruiu parcialmente os estúdios da Globo em São Paulo, onde a novela era gravada. Os 20 primeiros capítulos da trama, que já estavam gravados, foram perdidos. Além disso, a emissora precisou levar a produção para o Rio, onde, naquele ano, eram rodadas outras duas tramas, Rosa Rebelde e A Ponte dos Suspiros.

Para dar um jeito de fazer todas as novelas, a solução foi espichar Rosa Rebelde, que entrava em sua reta final, em mais 100 capítulos. Enquanto isso, quatro ônibus fretados levaram toda a equipe de artistas e técnicos de São Paulo para o Rio.

Blackface

De volta à Globo após estrelar o sucesso Antônio Maria (1968), na Tupi, Cardoso vivia nada menos que três personagens na atração, que se passava na época da Guerra da Secessão, nos Estados Unidos: Pai Tomás, Dimitrius e Abraham Lincoln.

Para interpretar Pai Tomás, o ator pintou o corpo e usou peruca e rolhas no nariz, gerando revolta no meio artístico. O ator, dramaturgo e ativista Plínio Marcos (1935-1999) gerou um movimento contra o fato, sugerindo o nome de Milton Gonçalves para viver o personagem.

Cardoso ficou muito mal com a situação, se desculpou inúmeras vezes com Gonçalves e acabou fazendo declarações infelizes para tentar contornar acusações de racismo. "Tenho vários amigos de cor que são como meus irmãos. Tenho afilhados pretinhos que amo como se fossem meus filhos", justificou.

Apesar do grande investimento e de contornar todos esses problemas, a trama não emplacou. No horário, concorria com Nino, o Italianinho (1969), da Tupi, que fez muito sucesso.

"Dirigi A Cabana do Pai Tomás até tirá-la do buraco. Era muito ruim. O texto era inverossímil, as cenas absurdas", escreveu Daniel Filho em seu livro Antes que me Esqueçam.

A trama de Hedy Maia seguiu até 28 de fevereiro de 1970, em São Paulo, e 1º de março, no Rio, fechando sua trajetória com 205 capítulos e entregando a faixa das sete para Pigmalião 70 (1970), que também foi protagonizada por Sérgio Cardoso e, ao contrário da antecessora, fez sucesso.

Após essa novela e A Próxima Atração (1971), o consagrado ator viveu o professor Luciano em O Primeiro Amor (1972), mas morreu no decorrer das gravações, em 18 de agosto daquele ano, aos 47 anos, causando comoção nacional e sendo substituído em cena por Leonardo Villar. Por muitos anos, existiu um boato sobre Cardoso ter sido enterrado vivo por sofrer de catalepsia, o que sempre foi desmentido por sua família.


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