Bastidores
Reprodução/TV Globo
Alexandre Garcia no Jornal Nacional: jornalista com personalidade ou editorialista da Globo?
DANIEL CASTRO
Publicado em 4/12/2018 - 5h04
O textão no Facebook em que Alexandre Garcia elogia o presidente eleito, Jair Bolsonaro, contrariando normas editoriais da Globo, gerou teorias conspiratórias nos bastidores da emissora. Em uma delas, Garcia estaria de saída da casa e negociando um cargo na área de Comunicação do novo governo. Em outra, o jornalista teria apenas dado um recado da emissora ao futuro mandatário da nação, numa tentativa de aproximação.
De fato, circulam boatos em Brasília de que Alexandre Garcia poderá vir a ocupar um cargo importante no governo Bolsonaro. É fato também que a Globo não tem mais renovado contratos com jornalistas veteranos. Em abril, dispensou Tonico Ferreira, 70 anos, 37 de casa. No mês passado, foi a vez de André Luiz Azevedo, 68 anos, 36 de Globo.
Comentarista político do Bom Dia Brasil e apresentador eventual do Jornal Nacional, Alexandre Garcia tem 78 anos e está na Globo desde o início da década de 1980, quando perdeu o cargo de porta-voz do último presidente da Ditadura Militar, João Batista Figueiredo, ao posar seminu para uma revista.
Alguns jornalistas da Globo têm fama de serem portadores de textos que interessam à própria emissora. Era o caso, por exemplo, de William Waack, nas contundentes aberturas do Jornal da Globo. Garcia, apontam colegas, seria uma espécie de editorialista disfarçado no telejornal matinal. No Bom Dia, no entanto, seus comentários não têm 10% da contundência do post no Facebook (leia abaixo).
O silêncio da Globo sobre a infração de Alexandre Garcia aos seus Princípios Editoriais corrobora com a tese de que o jornalista estaria usando as redes sociais para demonstrar seu apoio a Jair Bolsonaro e atuando como "ponte" para aproximar os Marinhos do presidente eleito. O Notícias da TV pediu um posicionamento da emissora ontem de manhã, mas não houve resposta até a publicação deste texto.
Por fim, o silêncio da Globo justifica a terceira teoria sobre o textão. Garcia faria parte de um seleto grupo de jornalistas que podem dizer o que querem, sem medo de represálias por parte de executivos da emissora. Para ele, não tem Princípios Editoriais.
Entenda o caso
Na última sexta (30), Alexandre Garcia publicou um texto no Facebook defendendo que a eleição de Bolsonaro representa "uma revolução de ideias", que já estão sendo impostas antes mesmo da posse, em 1º de janeiro.
Ele se valeu da figura da mãe, prestes a completar cem anos, para fazer um breve panorama da história do país e relembrar a trajetória de Bolsonaro em 2018. Como os apoiadores do presidente eleito, falou que ele sofreu um "atentado" em setembro, quando foi esfaqueado em um ato de campanha em Minas Gerais. E não poupou críticas à esquerda e ao PT.
A iniciativa de Garcia afronta a última edição dos Princípios Editoriais do Grupo Globo. O documento afirma que os seus jornalistas não podem manifestar preferência partidária ou indicar produtos em redes sociais, nem mesmo no WhatsApp. Os profissionais sequer podem "curtir" posts com interesses comerciais ou fazer "check in" em eventos ou lojas.
Leia o post de Alexandre Garcia na íntegra:
Veja o agradecimento de Jair Bolsonaro:
Grato pela menção e reflexão, @alexandregarcia ! Um forte abraço! https://t.co/QhgdzkiSsF
— Jair M. Bolsonaro (@jairbolsonaro) 2 de dezembro de 2018
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