AMORA MAUTNER
Estevam Avellar/TV Globo
A diretora Amora Mautner: considerada a mais talentosa da Globo, tem fama de difícil e é evitada por autores
DANIEL CASTRO, no Rio de Janeiro
Publicado em 9/4/2018 - 5h43
Maior estrela feminina do time de diretores de séries e novelas da Globo, Amora Mautner deu uma declaração na última quinta-feira (5) que explica por que há mais de dois anos, desde o fim de A Regra do Jogo, seu nome não aparece nos créditos da emissora: "Eu aprendi que trabalhar com gente que tem um gosto muito diferente do seu é complicado, geralmente dá atrito. Então, é escolher direitinho o autor e parceiro para você não ter esses probleminhas".
Amora, de 42 anos, falou no painel A Arte da Direção, que reuniu Flávia Lacerda, também diretora de teledramaturgia da Globo, e as cineastas Sandra Kogut, Laís Bondanzky e Carolina Jabor, no Rio2C, evento sobre audiovisual, música e inovação encerrado ontem (8) no Rio de Janeiro. O Rio2C substituiu o Rio Content Market.
Desde que foi promovida a diretora-geral, em 2009, Amora só comandou novelas da dupla Thelma Guedes e Duca Rachid e de João Emanuel Carneiro. A bem-sucedida parceria com Carneiro em Avenida Brasil (2012) acabou em 2015. Não será repetida em Segundo Sol, próximo projeto do autor, no ar a partir de maio sob a direção artística de Dennis Carvalho.
É que a passagem de Amora por A Regra do Jogo foi inesquecível. Ela estressou demais a produção, o elenco e o autor da novela. Outros criadores da Globo que desejavam trabalhar com ela mudaram de ideia depois disso.
Amora ficou quase dois anos procurando um novo projeto. Atualmente, finaliza Assédio, para a nova plataforma de streaming da Globo. A série inspirada na história do médico Roger Abdelmassih foi escrita por Maria Camargo, praticamente estreante _antes, assinou os roteiros da minissérie Dois Irmãos (2017) e colaborou em algumas novelas e séries.
Depois de Assédio, Amora vai dirigir a novela das seis Filhos da Terra. Será seu quarto trabalho com Thelma Guedes e Duca Rachid.
No Rio2C, Amora explicou porquê é tão difícil manter parcerias com roteiristas, como a que sustenta com as de Cordel Encantado (2011) e Joia Rara (2013). "É uma relação, como um casamento. É o ponto de vista de alguém que será imageticamente, dramaticamente, feito por outro alguém", disse.
Uma outra fala de de Amora ilustra sua fama de temperamental e arrogante que percorre os largos corredores dos Estúdios Globo _sincerona, Amora já destruiu muitos egos de atores ao fazer comentários de forma direta, sem rodeios; com ela não tem comodidade. "Entro no set tentando estuprar todas as barreiras", disse, sobre seu processo de direção de atores.
A filha do músico Jorge Mautner ganhou projeção na Globo ao inventar novas técnicas de direção. Em Avenida Brasil, deu certo com o improviso nas falas do núcleo de Tufão (Murilo Benício). Em A Regra do Jogo, anunciou um tal caixa cênica, que funcionaria como um reality show, com câmeras pelo cenário que não seriam percebidas pelos atores. Não deu em nada.
Amora não é cômoda nem consigo mesma. Conta que no começo idealizava tudo o que iria gravar e que ficava frustrada se não conseguir realizar.
"De uns anos pra cá, eu aprendi o contrário, que o ideal é jogar fora tudo o que você idealizou, porque todo processo criativo é uma chama, é orgânico", disse no Rio2C. "Quando você vai para o set e tenta reproduzir aquela chama, aquela chama já é morta. Hoje eu tenho experiência e maturidade para ir para o set e ter a paz de abandonar tudo o que idealizei e aí de novo começar uma chama com todo mundo envolvido."
Para quem gosta de frases de efeito, a diretora, que no documentário Jorge Mautner - O Filho do Holocausto (2012) disse ter sido salva aos 7 anos pela psicanálise (já que cresceu numa família atípica, vendo os pais nus pela casa), soltou ainda essa pérola: "Eu aprendi a descontruir tudo o que contruo."
© 2024 Notícias da TV | Proibida a reprodução
Mais lidas
Política de comentários
Este espaço visa ampliar o debate sobre o assunto abordado na notícia, democrática e respeitosamente. Não são aceitos comentários anônimos nem que firam leis e princípios éticos e morais ou que promovam atividades ilícitas ou criminosas. Assim, comentários caluniosos, difamatórios, preconceituosos, ofensivos, agressivos, que usam palavras de baixo calão, incitam a violência, exprimam discurso de ódio ou contenham links são sumariamente deletados.