MEMÓRIA DA TV | COPA
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Sebastião Lazaroni em 2011, quando foi o técnico da seleção do Catar
THELL DE CASTRO
Publicado em 2/7/2018 - 5h47
Entre dezenas de comerciais estrelados por jogadores e técnicos da seleção brasileira em anos de Copa do Mundo, o caso mais emblemático foi ao ar em 1990, no Mundial da Itália. Um célebre anúncio que envolvia o então treinador brasileiro, Sebastião Lazaroni, virou motivo de piada e acabou sendo usado contra ele mesmo após a eliminação da seleção no torneio.
Sebastião Lazaroni se destacou como técnico do Vasco, entre 1987 e 1988, quando conquistou o bicampeonato carioca _na época, os torneios estaduais ainda tinham muito mais prestígio.
Assumiu o Brasil em 1989, sob olhares de desconfiança da crítica e do público. Conquistou a Copa América daquele ano e, como o Brasil não vencia o campeonato havia quatro décadas, o treinador, mesmo criticado, carimbou seu passaporte para a Itália.
No período do torneio, a Fiat lançou uma bem-humorada campanha envolvendo Lazaroni e o veículo Uno. A propaganda informava que o modelo começara a ser fabricado no Brasil e exportado para a Itália, berço da montadora.
O comercial foi gravado em Turim, onde o Brasil disputou algumas partidas. O técnico era interpelado por um policial ao parar seu veículo em local proibido. Lazaroni dizia que era brasileiro e o carro também era feito no Brasil. O guarda, irônico, rebatia: "Prazer, eu sou o papa".
O anúncio (veja abaixo) foi tão marcante que recentemente foi eleito por um grupo de publicitários, escolhidos pelo jornal Meio & Mensagem, como uma das melhores campanhas dos últimos 40 anos.
No entanto, como o Brasil foi precocemente eliminado daquela Copa, quando perdeu para a Argentina por 1 a 0 nas oitavas de final, a peça foi imediatamente retirada do ar.
"A agência MPM, responsável pela campanha, garante que a veiculação estava programada para terminar após a primeira fase do campeonato, porque os resultados seguintes seriam imprevisíveis", informou o jornal O Globo de 26 de junho de 1990.
No mesmo texto, o então superintendente de atendimento da agência, Raul Pinto, dizia que a derrota do Brasil não resultava em prejuízo ao produto, "porque Lazaroni aparece no filme como contraponto ao fato de a Fiat exportar carros para a Itália, sem associação direta com a Copa, que seria temeroso".
No entanto, a repercussão foi tamanha que uma faixa com a frase do guarda foi levada ao estádio durante a partida contra os hermanos, para alfinetar o técnico.
E não parou por aí. Também em virtude do sucesso da campanha, foi feita uma continuação. O ator italiano Maurizio Soidá, que interpretou o guarda no primeiro comercial, veio ao Brasil para gravar uma segunda peça.
No Parque do Ibirapuera, em São Paulo (SP), ele usava um orelhão e ligava para Turim para informar que o carro usado pelo treinador era realmente fabricado no Brasil.
Lazaroni deixou o país logo após a Copa de 1990 e segue até hoje na carreira. Treinou principalmente equipes de fora do Brasil, incluindo algumas seleções, como Jamaica e Catar.
Antes dele, outros "comandantes" do Brasil já haviam protagonizado comerciais para TV. O pioneiro foi Zagallo, em 1974, que anunciou televisores Admiral, uma das principais marcas da época. Em 1982 e 1986, Telê Santana esteve em várias campanhas, como da Mitsubishi e do Banco Bemge.
Carlos Alberto Parreira, tanto em 1994 quanto em 2006, quase não foi lembrado pelos anunciantes. Já Dunga (2010), Luiz Felipe Scolari (2014) e Tite, neste ano, fizeram diversas campanhas.
Um levantamento da Folha de S.Paulo, publicado na última sexta-feira (29), mostrou que o atual técnico faturou cerca de R$ 10 milhões em publicidade e, nos últimos meses, teve mais inserções na televisão do que Neymar, a estrela do time.
THELL DE CASTROé jornalista, editor do site TV História e autor do livro Dicionário da Televisão Brasileira. Siga no Twitter: @thelldecastro
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