'FADINHA'
REPRODUÇÃO/TV GLOBO
Marlene Mattos em passeio no Rio de Janeiro: empresária mostrava outro comportamento após racha
Logo após romper a parceria com Xuxa, em 2002, Marlene Mattos abriu uma empresa de produção e agenciamento artístico chamada 2MS. Ainda muito poderosa, a diretora passou a empresariar nomes do esporte, como os boleiros Roger Flores (hoje, comentarista da Globo), Kaká e Dida, as jogadoras de vôlei Virna e Leila e o nadador Fernando Scherer. No campo artístico, ela cuidava das apresentadoras Maria Paula e Viviane Romanelli, da atriz Claudia Rodrigues e de Wanessa Camargo --essa última ao lado de Zilu, mãe da cantora.
Foi bem nessa época que comecei a trabalhar como assessora de comunicação da nova empresa de Marlene. Ela dizia que não precisava de assessoria e que meu trabalho era apenas divulgar os seu agenciados. Naquele momento, a menina dos olhos da diretora era o Jovens Tardes (2002-2004), seu primeiro programa "pós-Xuxa". Wanessa, que vivia o auge de sua adolescência, virou pupila da diretora e apresentadora principal da atração.
Wanessa era o oposto de Sandy, a mocinha bela, comportada e do lar do começo dos anos 2000. Já a filha de Zezé Di Camargo gostava de baladas, bebida, namoro e de perder a hora dos seus compromissos. Marlene agia como uma segunda mãe para a cantora. Perdi a conta de quantas vezes a vi receber ligações de Zilu pedindo para que ela "desse um jeito" em Wanessa.
Marlene atendia aos apelos desesperados da mãe da artista e dava suas broncas na adolescente, com direito a alguns socos na mesa. Cobrava horários, foco, boa alimentação e cuidado com a saúde. Mas nunca com desrespeito. Nunca presenciei nada que fizesse lembrar a tão temida Marlene Mattos que cresci ouvindo nas reportagens da televisão.
Todos que trabalhavam com ela desde os tempos de Xuxa diziam que a poderosa havia melhorado o seu comportamento. Parecia, inclusive, mais leve.
Certa vez, Wanessa apareceu para uma gravação dos extras do seu DVD Transparente --dirigido por Marlene-- muito cansada depois de virar a noite em uma festa. Ela também aparentava estar gripada. A equipe inteira ficou esperando a cantora dormir no camarim do set. Isso incluiu a diretora, que estava preocupada com a saúde da pupila.
reproduÇÃO/INSTAGRAM
Zilu, mãe de Wanessa, e Marlene Mattos
Durante uma gravação do Jovens Tardes em um sítio, a diretora não gostou de saber que o TV Fama não poderia entrar no local; o veto havia sido dado pela Comunicação da Globo, que não permitia a concorrência dentro do seu set. Marlene se compadeceu com a repórter grávida que estava por lá e fez todos os integrantes irem até a porta do rancho para falar com a jornalista.
Quando Claudia Rodrigues se separou, Marlene pediu que eu ficasse à disposição da atriz para ajudá-la no que fosse, porque ela tinha uma filha pequena e não contava com a ajuda de babá. As duas passavam horas conversando sobre a vida, o trabalho e relacionamentos.
Claudia, que protagonizava A Diarista (2004-2007) e era uma das estrelas na Globo na época, manteve a amizade com Xuxa. Marlene nunca falou mal da mãe de Sasha ou implicou com a proximidade entre as duas. O máximo que fazia era perguntar pela menina e confidenciar que, às vezes, sentia vontade de espiar a afilhada fazendo aula na academia onde funcionava seu escritório.
Assim como Marlene foi madrinha de Sasha Meneghel, Xuxa também batizou os três filhos de Angela Mattos, irmã mais nova da diretora, que chegou a trabalhar na produção dos programas da rainha dos baixinhos. As duas eram tão próximas que a loira aceitou ser madrinha de Bárbara (que morreu ainda pequena), Victória e Enzo, herdeiros de Angela com Zé Henrique, baixista e vocalista da banda Yahoo. Depois da briga, as duas também se afastaram e, hoje, Xuxa não tem nenhum contato com os afilhados.
Marlene era de poucos sorrisos e poucas palavras. Xuxa não chegava a ser um assunto proibido, mas só era alvo de comentário caso saísse algo na mídia e a própria Marlene puxasse a prosa. Sempre muito exigente, ela soltava meia dúzia de palavrões com o que julgava ser alguma estupidez. A frase "não tenho paciência para gente burra", que viralizou nos teasers do documentário sobre Xuxa no Globoplay, era sempre repetida quando algo errado acontecia.
No entanto, a empresária também sabia elogiar e reconhecer uma boa ideia. Em seu racha com a loira, contratou todo mundo que quis ficar do seu lado. Não gostava de ver ninguém sem emprego. Aliás, boa parte da família da empresária fazia parte de sua folha de pagamento, com todos os benefícios --muitos sem nem trabalhar.
Neste período, todo jornalista queria entrevistar a diretora, que sempre foi avessa a aparecer. Toda semana, eu passava várias solicitações de conversa a ela --e todas eram negadas. Um dia, Marlene autorizou que eu convidasse três veículos para acompanhar Wanessa em uma sessão de fotos para a capa do seu DVD, mas ressaltou que ela mesma não falaria com a imprensa.
No dia marcado, porém, durante uma das trocas de roupas de Wanessa, Marlene se aproximou dos três jornalistas, sentou com eles e bateu um papo que rendeu reportagem de capa para os três veículos. Uma das jornalistas até precisou pedir a ajuda de um colega, porque não havia levado gravador e não deu conta de anotar tudo o que a empresária e diretora falou. Todos saíram de lá com outra impressão de Marlene Mattos.
Assim que ela foi para a Band, no fim de 2003, decidi voltar para a redação e tremi só de pensar em pedir demissão. Apesar de nunca ter sido desrespeitosa, Marlene era imprevisível. Fiquei com o corpo todo empolado quando liguei no horário marcado. Ela não só entendeu como me deu toda a força de que eu precisava: "Espero que você continue fazendo parte do meu time e ajudando os meus, tá? Não muda o seu jeito, não".
Já fora do escritório dela e trabalhando novamente como repórter --e depois como colunista-- me aproximei da Xuxa. Minha filha, que hoje tem 16 anos, chegou a participar de alguns Xuxa Só Para Baixinhos e virou o xodó da apresentadora em muitos registros postados nas redes sociais. A loira e toda a sua equipe sabiam que eu havia trabalhado com sua antiga empresária, e ela mesma nunca tocou no assunto comigo.
Cheguei a falar com Marlene algumas vezes depois que deixei sua empresa. Ela sempre me atendeu prontamente de forma carinhosa e perguntou algumas vezes sobre eu ser bem tratada pela ex-pupila. Em todas as vezes, se referiu a ela com carinho e respeito e disse que imaginava a minha felicidade em ver um ídolo de infância como Xuxa morrendo de amores pela minha filha.
Penso que a fadinha --como Xuxa se referiu a ela no último Domingão com Huck-- já estava sendo criada entre os anos de 2003 e 2004 e foi se aprimorando ao longo do tempo. Acostumada com a bruxa do passado, Xuxa não pôde acompanhar de perto essa fase.
© 2024 Notícias da TV | Proibida a reprodução
Mais lidas
Política de comentários
Este espaço visa ampliar o debate sobre o assunto abordado na notícia, democrática e respeitosamente. Não são aceitos comentários anônimos nem que firam leis e princípios éticos e morais ou que promovam atividades ilícitas ou criminosas. Assim, comentários caluniosos, difamatórios, preconceituosos, ofensivos, agressivos, que usam palavras de baixo calão, incitam a violência, exprimam discurso de ódio ou contenham links são sumariamente deletados.