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Opinião

Assim como Waack, Burnier cometeu crime de ódio; por que a Globo não o puniu?

REPRODUÇÃO/GLOBONEWS

José Roberto Burnier durante o Em Ponto, da GloboNews: insinuou que corintianos são ladrões - REPRODUÇÃO/GLOBONEWS

José Roberto Burnier durante o Em Ponto, da GloboNews: insinuou que corintianos são ladrões

DANIEL CASTRO

Publicado em 5/9/2018 - 6h10

Repórter do Jornal Nacional até a Copa do Mundo, José Roberto Burnier ofendeu mais de 30 milhões de brasileiros ao insinuar que todo corintiano é ladrão. Na última segunda (3), ao noticiar um assalto na Arena Corinthians, na zona leste de São Paulo, ele perguntou à repórter Cinthia Toledo se os corintianos "estão roubando o próprio clube". Como estive no local poucas horas antes, até me procurei nas imagens das câmeras de segurança divulgadas pela polícia.

Chamar corintiano de ladrão é uma ofensa comum entre torcedores paulistanos, assim como os fãs do Corinthians se referem aos são-paulinos como bambis.

Dita por um jornalista, no entanto, essa frase é muito mais grave do que provocação de torcedor. Ainda mais quando esse jornalista é um profissional gabaritado, recentemente "promovido" a âncora de um telejornal de três horas no principal canal de notícias do país, a GloboNews.

Chamar corintiano de ladrão não é só crime de injúria, previsto no Código Penal com prisão de um a seis meses. É crime de ódio, porque traz embutido todo um preconceito social, de classe e, por que não, racial.

Implicitamente, corintiano é ladrão porque é pobre, trabalhador desqualificado, analfabeto, pouco escolarizado, morador da periferia, negro. Perdi as contas das vezes que ouvi a "piada" infame "Nossa, como você, uma pessoa estudada (e branca), com todos os dentes na boca, pode ser corintiano?".

Esse preconceito vem desde a origem da clube, fundado 108 anos antes do assalto na arena por cinco operários do Bom Retiro. Mas os jogos do Corinthians, o time do povo, assim como os do São Paulo, o clube da elite, sempre tiveram espectadores de todas as classes, que chegam a pagar mais de R$ 200 num ingresso, vão ao estádio em carro de luxo, vestem roupas de grife.

Como torcedor, José Roberto Burnier, portanto, foi tão preconceituoso quanto o corintiano que grita "vai pra cima delas, da bicharada" quando seu time enfrenta o São Paulo. Como apresentador de telejornal, foi tão infeliz quanto William Waack, demitido em dezembro passado, um mês depois do vazamento de um vídeo, gravado um ano antes, em que dizia, fora do ar, algo como "isso é coisa de preto" para alguém que passara buzinando na rua, atrapalhando seu trabalho.

Mas, diferentemente de Waack, Burnier não sofreu nenhuma censura pública (uma advertência, não mais que isso). Até a publicação deste texto, a Globo não havia emitido nenhuma nota dizendo ser "visceralmente contrária" a qualquer forma de preconceito. Apenas o jornalista pediu desculpas, na edição de terça (4) do mesmo telejornal. "Foi um comentário inadequado", reconheceu.

O caso também não rendeu um e-mail de seu zeloso diretor-geral de Jornalismo, alertando para o fato de que não se deve manifestar preferências clubísticas, porque isso atenta contra a isenção, como ocorrido em abril, quando veio a público um desabafo atribuído a Chico Pinheiro, contra a prisão do ex-presidente Lula, feito privadamente em um grupo de WhatsApp, como qualquer cidadão tem o direito.

Obviamente, racismo hoje é um crime muito mais grave do que insinuar que corintiano é ladrão, mesmo que isso implique um grau de preconceito racial. Racismo repercute mais. Opinião política também repercute mais.

Além disso, Burnier merece o desconto de estar há menos de dois meses na função de apresentador, que não desempenhava regularmente havia 22 anos. E é um profissional com prestígio, ocupando uma função estratégica para o Jornalismo da Globo, que, sim, usa dois pesos e duas medidas para punir ou não os seus jornalistas.

Veja o vídeo em que José Roberto Burnier insinua que todo corintiano é bandido:

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