LONGA TRAJETÓRIA
MARCOS ROSA/TV GLOBO
Boninho no Domingão com Huck; diretor teve altos e baixos nos 40 anos em que esteve na Globo
Depois de uma trajetória de 40 anos na Globo, J. B. Oliveira, o Boninho, encerra sua parceria com a emissora neste último dia de 2024. Suas contribuições positivas foram diversas, já que ele foi o responsável por estabelecer o bem-sucedido núcleo de realities e trouxe formatos inéditos para o Brasil. Porém, seus últimos anos na casa não foram de muitas celebrações.
Apesar dos grandes acertos, Boninho também acumulou fracassos em seu currículo --que ficarão para sempre marcados como péssimas escolhas. Desde apostar em influenciadores até tentar estabelecer uma sucessão de realities musicais na Globo, algumas das decisões do herdeiro de Boni não agradaram ao público nem à crítica especializada.
Boninho deu início à carreira na rádio Excelsior e, desde o começo, mostrou ligação forte com a música. Ele foi responsável por reestruturar o Sistema Globo de Rádio e dirigiu clipes para bandas como Ultraje a Rigor e Titãs.
Na TV, seu primeiro projeto foi um programa focado em videoclipes, bem no estilo da MTV --que ainda não havia chegado ao Brasil. O Clip Clip (1984-1987) marcou o primeiro original do diretor na emissora e durou três anos no ar.
Com apresentação dos bonecos Muquirana Jones e Edgar Ganta, a proposta deu certo, estreou com um trecho exclusivo de um show do cantor Michael Jackson (1958-2009) e trouxe uma linguagem inovadora para a TV na época.
Depois, o projeto evoluiu para algo ainda maior e se tornou a TV Colosso (1993-1997). Criado e dirigido pelo filho de Boni junto com Luiz Ferré e Beto Dorneles, o programa era protagonizado por bonecos caracterizados como cães, simulando todas as áreas de uma emissora de TV.
Não há dúvidas de que a TV Colosso ficou marcada como uma das melhores atrações infantis da TV aberta. Quem assistiu, lembra com enorme carinho, e a sheepdog Priscila virou símbolo da infância de milhares de brasileiros que cresceram nos anos 1990.
O programa chegou ao fim para dar espaço a mais uma idealização de Boninho, o Angel Mix (1997-2000). O infantojuvenil apresentado por Angélica trazia games, bate-papo com o público, e uma novela dentro da própria atração, intitulada Caça-Talentos.
Considerado um dos sucessos do diretor, o programa supostamente saiu do ar por não alcançar os 12 pontos de audiência que Eliana Michaelichen conseguia na Record no mesmo horário.
Boninho esteve à frente de muitos programas matinais consagrados durante sua passagem pela Globo, mas ganhou status de diretor de núcleo depois de estrear o No Limite (2000-2001; 2009; 2021-2023). Considerado um dos primeiros realities do Brasil, o programa foi revolucionário.
Na época, o No Limite bateu recorde de audiência das novelas das nove, com três temporadas exibidas entre os anos 2000 e 2001. O problema, mesmo, foi tentá-lo trazer de volta anos depois --nem de longe o reality alcançou o mesmo sucesso de quanto estreou.
Quando a Casa dos Artistas (2001-2004) estreou no SBT, o diretor sentiu que a Globo precisava correr atrás. Nasceu, então, o maior reality show da TV brasileira em termos de longevidade e números: o Big Brother Brasil.
Com altos e baixos ao longo dos anos, o BBB entra em sua 25ª edição como um dos programas mais rentáveis da grade da Globo. Ao longo dos anos, Boninho reformulou um formato importado e deu para ele a cara do Brasil.
Novos quadros, novas dinâmicas, a participação de famosos e a entrada de brothers em duplas --tudo passou pelo crivo do diretor para que o BBB se mantivesse como um dos mais comentados realities do país.
Mesmo que nem todas as edições tenham sido um sucesso estrondoso de audiência, o reality não ficou pra trás e sempre se manteve no auge.
Nem sempre, porém, o diretor conseguiu acertar. O Hipertensão (2002; 2010-2011), por exemplo, caiu totalmente no esquecimento. Sua primeira versão, apresentada por Zeca Camargo, se parecia com o No Limite e trazia provas radicais com exigência de preparo físico, coragem e controle emocional.
Ele foi revivido quase uma década depois, com Glenda Kozlowski à frente do reality, mas quase não teve impacto de audiência. O mesmo aconteceu com Jogo Duro (2009), um game show radical apresentado por Paulinho Vilhena que se passava em um galpão abandonado e trazia oito diferentes participantes por episódio em busca de um prêmio de até R$ 30 mil.
Boninho nunca escondeu que tinha um olhar apurado para a música, e foi assim que trouxe o The Voice para o Brasil. Com dez anos de programa, o reality musical se desdobrou em versões para crianças e idosos, chegou ao auge de sua audiência com 26 pontos no Ibope, e teve uma média de 17 pontos no tempo em que esteve no ar.
Esse, porém, foi o único reality musical que parece ter dado certo para o ex-big boss. Em 2014, ele tentou trazer à vida os programas Superstar (2014-2016) e, alguns anos depois, o Popstar (2017-2019), que não se encaixaram tão bem na grade da emissora e também caíram no esquecimento.
Outra tentativa musical do diretor foi o SóTocaTop (2018-2020), inspirado no Globo de Ouro (1972-1990). O formato, que trazia artistas para apresentarem seus lançamentos, deu certo em uma época em que sequer havia acesso à internet, mas não foi sucesso na era digital.
Boninho cometeu erros que custaram seu contrato com a emissora que foi casa de seus projetos pelos últimos 40 anos. Um dos mais marcantes fracassos foi seu primeiro original para o Globoplay, que se tornou uma verdadeira piada nas redes sociais: Casa Kalimann (2021).
Apresentado por Rafa Kalimann, o programa foi um marco vergonhoso no currículo do diretor. Em formato de talk show, famosos batiam papos constrangedores com a ex-BBB e eram submetidos a dinâmicas confusas. A repercussão foi tão ruim que a influenciadora admitiu ter passado por um período difícil de depressão após a estreia.
Outra grande crítica a Boninho foi o Zig Zag Arena (2021), último programa apresentado por Fernanda Gentil na Globo. A ideia era trazer jogos infantis adaptados para adultos, mas a atração não caiu no gosto do público e muito menos da crítica especializada.
Com 18 episódios gravados, apenas 11 foram ao ar, até que decidiram encerrar de vez o fiasco --que, felizmente, foi esquecido. Quem passou por algo parecido foi Otaviano Costa com o Tá Brincando? (2019).
O programa, também dirigido e idealizado por Boninho, ficou durante apenas nove semanas no ar e mostrou que a especialidade de games e provas do diretor se restringia mesmo ao BBB.
A lista de fracassos continua com o Mestre do Sabor (2019-2021). Mesmo com mais audiência, ele perdeu feio na repercussão ao querer concorrer contra o consolidado MasterChef tantos anos depois da estreia do reality culinário da Band, que já tinha um público estabelecido.
O que culminou no fim do contrato do diretor com a Globo, entretanto, foi o Estrela da Casa. O programa, que unia confinamento e música, não chegou nem perto do esperado de audiência e, segundo fontes do Notícias da TV, foi fundamental para o desfecho ruim da negociação entre Boninho e a Globo.
Com apenas o BBB de sucesso nos últimos anos, Boninho optou por não ser contratado por obra e, agora, pretende alçar voos solos. Além de abrir uma produtora própria, ele deve fazer projetos com o SBT, como uma possível nova temporada de The Voice Brasil e um matinal para sua mulher, Ana Furtado.
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