Aos 25 anos, RedeTV! busca mais humor e cogita parceria para fazer dramaturgia

A RedeTV! completou 25 anos de operação na última sexta-feira (15). Com isso, já é mais duradoura do que a emissora que a antecedeu, a TV Manchete (1983-1999). Neste um quarto de século, encarou uma montanha-russa de emoções, indo de momentos nos quais chegou a roubar a liderança da Globo na audiência a uma crise financeira sem precedentes durante a pandemia.

Em fevereiro deste ano, Andrea Dallevo foi promovida a chefe de Conteúdo e Estratégia de Programação. É a executiva quem monta a grade da emissora, negocia enlatados e formatos que podem bombar na audiência e ainda ajuda a desenvolver novas atrações para reforçar os conteúdos atuais.

Em entrevista exclusiva ao Notícias da TV, Andrea faz um balanço dos últimos 25 anos da emissora, lembra os desafios que enfrentou ao assumir o novo cargo e adianta os planos que tem para o ano que vem. Uma prioridade é investir no humor --justamente o gênero que levou a RedeTV! à liderança, com a trupe do Pânico na TV (2003-2012).

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João Kleber, que sempre consegue bons resultados na audiência, é uma aposta da casa. O apresentador ganhará um novo formato aos domingos, para além das pegadinhas e dos testes de fidelidade que o consagraram.

Andrea também adianta que a emissora deseja investir em dramaturgia, mas que os custos elevados para gravar uma novela são um impeditivo. Uma opção estudada é estabelecer parcerias com produtoras independentes ou adquirir conteúdos do streaming para exibição em segunda janela --ou seja, depois da transmissão original na plataforma.

Confira a entrevista exclusiva com Andrea Dallevo a seguir:

NOTÍCIAS DA TV - A RedeTV! completou 25 anos na última sexta-feira (15). Que balanço a direção faz da emissora na data?
ANDREA DALLEVO - Sinto um profundo orgulho de chegar aos 25 anos de história da RedeTV! e observar o quanto conseguimos inovar e impactar positivamente a vida de milhões de brasileiros.

Nós produzimos conteúdos genuínos, que se aproximam do telespectador. Fomos referência ao inovar na forma de apresentar um telejornal sem bancada, com o Leitura Dinâmica, e ao criar o TV Fama, original ao abordar as fofocas em um formato de hard news.

Trouxemos debates de tabus para a sociedade e demos espaço para a diversidade nas telas. Fomos pioneiros ao ter a primeira repórter trans na TV aberta, Lisa Gomes. Redefinimos a forma de fazer humor na televisão e de assumir os riscos dos programas ao vivo.

Ousamos na transmissão de coberturas esportivas que cresceram exponencialmente na RedeTV!. Também colocamos pela primeira vez no Brasil uma dupla de apresentadores negros à frente de uma bancada de telejornal brasileiro, no RedeTV News, com Luciana Camargo e Rodrigo Cabral.

Além disso, fomos a primeira emissora do mundo a ser 100% HD e totalmente digital, sempre assumindo a liderança em novas tecnologias. Trabalhamos com uma equipe extraordinária e é graças a eles que alcançamos esses marcos e continuamos rompendo barreiras. Fico entusiasmada em planejar os próximos passos da emissora, mantendo nosso compromisso de elevar a produção audiovisual.

Você assumiu a chefia de programação em fevereiro. Como estava o cenário da grade quando recebeu o cargo? Que mudanças decidiu implementar imediatamente, e o que podemos esperar da grade da RedeTV! a médio e a longo prazo?
Ao assumir o cargo em fevereiro, encontrei uma grade de programação com formatos tradicionais bem estabelecidos, mas que precisava de ajustes para acompanhar as mudanças no comportamento da audiência e as novas tendências de consumo. 

Uma das primeiras ações foi trazer o Geraldo Luís para comandar o Geral do Povo, retomando a tradição dos programas ao vivo aos domingos --uma faixa que ainda estamos desenvolvendo e que trará novidades para o próximo ano, incluindo um novo formato de humor com João Kleber. 

Para fortalecer as manhãs, apostamos no retorno do Edu Guedes com o Fica com a Gente, consolidando a programação matutina. À noite, reposicionamos o Ronnie Von com o Companhia Certa, um programa de entrevistas sofisticado, que nos permitiu explorar ainda mais o talento do apresentador e trazer convidados de alto nível.

No segmento de games, renovamos a temporada com o lançamento do Mega Sonho, apresentado por Marcelo de Carvalho, que elevou os jogos de adivinhação a outro patamar, com artistas convidados fazendo mímicas como dicas, garantindo diversão e engajamento.

Recentemente, estreamos o Elas em Jogo, um programa esportivo focado exclusivamente na cobertura de esportes femininos, reforçando nosso compromisso com diversidade e inovação na grade.

Além disso, conseguimos dobrar a base de fãs da NFL no Brasil e realizamos o primeiro jogo da liga no país, que foi um sucesso absoluto, consolidando a RedeTV! como uma referência no segmento esportivo.

Para os próximos anos, pretendemos revolucionar a produção audiovisual explorando tecnologias inovadoras. Buscamos ser referência em humor, jornalismo de credibilidade e coberturas esportivas, além de investir em dramaturgia e reality shows de qualidade. Nosso compromisso é oferecer conteúdo diversificado, relevante e acessível para todos os brasileiros.

Antes de assumir a chefia da grade, você trabalhava como diretora de Aquisições e Novos Conteúdos. A "nova RedeTV!", sob sua gestão, vai seguir com maior interesse nessa área de aquisições? Você tem ido a feiras em busca de novos formatos, de séries que possam agregar à programação?
Sim, seguimos com grande interesse em aquisições e buscamos enlatados estratégicos para consolidar horários e fidelizar nossa audiência. Tenho mantido um foco especial em encontrar conteúdos que complementem nossa grade, seja por meio de parcerias internacionais ou de coproduções, inclusive com plataformas de streaming.

Participar de feiras e eventos de mercado tem sido fundamental para identificar novos formatos que possam agregar valor à nossa programação e atrair diferentes públicos. Queremos continuar diversificando o conteúdo e oferecer uma grade dinâmica e alinhada às tendências globais.

No passado, a RedeTV! teve resultados bem interessantes com dramaturgia --seja conteúdo original, como Donas de Casa Desesperadas (2007-2008), seja com novelas importadas como Betty, a Feia (1999) e Pedro, o Escamoso (2001). Fazer novelas e séries tem um custo muito alto, obviamente, mas é um interesse da emissora investir nesse setor?
Investir em dramaturgia é, sem dúvida, um desafio, principalmente por conta dos altos custos e do tempo necessário para consolidar um horário dedicado. No entanto, acredito que a dramaturgia seja essencial para qualquer emissora e produtora, pois está diretamente ligada ao ato de contar histórias --uma tradição que vem desde os nossos primórdios e que continuará presente por toda a nossa humanidade. 

Estamos trabalhando para construir um modelo sustentável, que permita explorar o potencial da dramaturgia de forma estratégica. Queremos levar produções originais e de alta qualidade para a nossa grade, fortalecendo ainda mais nossa conexão com os telespectadores. 

Seria possível (ou viável) a parceria com produtoras independentes para o desenvolvimento de séries de ficção? Ou mesmo alianças com plataformas de streaming para a exibição em segunda janela?
Sim, essa possibilidade está totalmente nos nossos planos. As parcerias com produtoras independentes são uma excelente forma de desenvolver séries de ficção com maior agilidade e frescor criativo.

Além disso, estamos abertos a alianças estratégicas com plataformas de streaming para exibição em segunda janela, o que amplia o alcance das produções e cria uma sinergia interessante entre TV e digital.

Acredito que essas colaborações são essenciais para diversificar nosso portfólio e oferecer conteúdos ainda mais atrativos ao público.

Se pegarmos a grade inicial da emissora, de 15 de novembro de 1999, é possível perceber que ela era mais "erudita", digamos assim. Tinha sessão de cinema apresentada pelo Rubens Ewald Filho (1945-2019), séries clássicas como Jeannie É um Gênio (1965-1970) e A Feiticeira (1964-1972), até o TV Fama estreou com uma entrevista com Walter Salles e Daniela Thomas. Em outros momentos, a programação foi popularesca até demais. Como encontrar o equilíbrio entre algo que atraia o público e seja comercialmente viável, sem apelar para a baixaria?
Encontrar esse equilíbrio é realmente um dos maiores desafios na programação, especialmente em um cenário tão competitivo como o da TV aberta. Temos, sim, a missão de entreter, mas acredito que também temos a responsabilidade de oferecer conteúdo de qualidade, que vá além do mero entretenimento.

É sobre conseguir enviar uma mensagem que seja não só divertida, mas que também tenha relevância e agregue algo para o público. O segredo está em entender o que o público quer ver e trazer educação e cultura embalados dentro desse tipo de formato atraente. 

Ainda na área financeira, a RedeTV! precisa vender parte de seus horários para terceiros, de igrejas a farmácia, a ponto de o fim de semana ter pouca produção própria. Como criar uma grade interessante em cima de uma programação que já tem tantos horários "bloqueados"?
A estratégia tem sido consolidar e fortalecer os horários nos quais já temos uma audiência fiel. Nosso público sabe exatamente quando encontrar nossos programas, e estamos focados em ser cada vez mais relevantes e competitivos nessas faixas.

O desafio é trabalhar em cima desses blocos consolidados para multiplicar a audiência. Queremos que o público enxergue esses horários como oportunidades para encontrar entretenimento de qualidade e informações relevantes, mantendo a conexão com a RedeTV! ao longo de toda a semana. 

A RedeTV! sempre foi pioneira em avanços tecnológicos do Brasil, seja na transmissão em HD, seja na 3D. Atualmente, o mercado de streaming tem crescido muito, e parece impossível ignorá-lo. O RedeTV! Go é um foco de investimentos, vai receber mais conteúdo original, ou vocês o veem como um retransmissor do sinal ao vivo e um catálogo da emissora? 
A RedeTV! se destaca por seu pioneirismo, sendo a primeira emissora 100% HD e sem fitas no mundo, e não apenas no Brasil. Continuamos comprometidos em quebrar novas barreiras tecnológicas no audiovisual e já temos projetos em desenvolvimento para trazer essas inovações nos próximos anos.

Além de nossa presença na TV aberta, estamos investindo fortemente em conteúdo digital e nas mídias sociais. O nosso braço digital, a Peanuts, lidera diversas produções originais, criando formatos que conversam diretamente com a audiência online, não só no RedeTV! Go, mas também em outras plataformas online, de VOD e Fast.

Também somos pioneiros no YouTube, onde temos uma presença consolidada e lideramos em seguidores entre as emissoras de TV, apostando em conteúdos que se conectam rapidamente com o público. 

Para finalizar, quais são os planos para os próximos 25 anos? Onde você espera que a RedeTV! esteja em 2049?
Nos próximos 25 anos, nosso plano é continuar revolucionando a forma de produzir conteúdo audiovisual e consolidar ainda mais a RedeTV! como uma emissora de referência em inovação.

Queremos nos tornar mais competitivos utilizando tecnologias emergentes, como inteligência artificial e painéis de LED, que já estão mudando o setor, mas nossa ambição é explorar essas ferramentas de uma maneira que ainda ninguém fez, criando experiências inéditas e imersivas para o público.

Vamos fortalecer nossa presença em dramaturgia e reality shows, sempre com uma abordagem diferenciada e trazendo o humor como um dos pilares centrais, pois essa é uma das características que o público mais associa à RedeTV!.

O humor continuará sendo um dos nossos pontos fortes, permeando tanto produções originais quanto novos formatos, mantendo a leveza e a irreverência que são a marca da emissora. 

Também estamos focados em consolidar nossa credibilidade e relevância no jornalismo e coberturas esportivas, buscando trazer eventos de destaque, como fizemos com o primeiro jogo da NFL no Brasil.

Nosso compromisso é produzir conteúdos que não apenas entretenham, mas que também sejam engajadores, educacionais e culturalmente relevantes, atendendo à nossa responsabilidade como uma emissora de TV aberta e nacional.

Em 2049, vejo a RedeTV! como uma referência sólida em inovação, credibilidade jornalística e liderança em entretenimento. Seguiremos conectando diferentes gerações e levando informação e diversão de qualidade, de forma gratuita, para todos os brasileiros, não só via televisão, mas também através do streaming e conteúdos digitais, assim como outras formas de comunicação que serão inventadas até lá.