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MUNDO CÃO

Afiliada da Cultura corta programas infantis, estreia jornal policial e é alvo de protestos

REPRODUÇÃO/TBC

O apresentador Túlio Isac Filho no comando do jornal Goiás Contra o Crime, da TBC

Túlio Isac Filho apresenta o Goiás Contra o Crime: notícias policiais ganharam espaço em TV pública

REDAÇÃO

Publicado em 16/10/2019 - 5h34

A TBC, afiliada da TV Cultura em Goiás, cortou abruptamente a programação infantojuvenil da cabeça-de-rede para veicular um jornalístico local de conteúdo policial. Desde segunda (14), o canal exibe o programa Goiás Contra o Crime nos fins de tarde, horário ocupado nacionalmente pelo desenho O Clube das Winx e pela série nacional Valentins.

Entidades não-governamentais e parte do público protestaram contra a nova atração, cujo apelo de audiência não combina com os propósitos de uma televisão pública. A TBC é mantida pelo governo do Estado de Goiás.

Em seu site oficial, a Associação Brasileira de Comunicação Pública estampou uma nota "em defesa dos princípios da comunicação pública" e afirmou que o novo programa da afiliada da TV Cultura tem "indícios de espetacularização e sensacionalismo, fórmula conhecida e fartamente utilizada por canais comerciais para alavancar a audiência em detrimento de direitos básicos".

Notícias da TV tentou durante toda a terça-feira (15) obter um posicionamento da TBC e da Agência Brasil Central, órgão do Governo de Goiás que controla a TV estatal. A emissora e sua mantenedora ignoraram os e-mails enviados para diversos setores e, depois de mais de dez ligações, deixaram também de atender aos chamados da reportagem.

Reprovação do público

Nas redes sociais, telespectadores também demonstraram reprovação da novidade. Chamaram o jornalístico de "porcaria" e o compararam com o Cidade Alerta, que lidera a audiência em Goiânia, superando a Globo. Na página da TBC no Facebook, um usuário comentou que é "absurdo usar dinheiro público para mostrar defunto".

Em sua primeira edição, o Goiás Contra o Crime teve a presença do secretário de Segurança Pública do Estado, Rodney Rocha Miranda, para comentar as reportagens sobre as ocorrências policiais do final de semana.

Encarnando o mesmo papel de Renato Lombardi no Balanço Geral SP, ele opinou sobre assuntos que foram da desarticulação de uma quadrilha de furto de automóveis ao assassinato de um motorista de aplicativo.

O jornal se utiliza de chamadas mórbidas e frases de efeito para atiçar a curiosidade do público. A morte de um condutor da Uber foi antecedida por uma longa introdução do apresentador Túlio Isac Filho, que berrava que o motorista "não sabia que aquela seria a última corrida da sua vida".

Em seu extenso discurso de abertura, que ocupou seis dos 30 minutos da estreia, o âncora não poupou elogios ao governo local e disse que Ronaldo Caiado, governador do Estado, foi um dos principais apoiadores do projeto.

Trilha copiada da Record

O formato não é a única semelhança do Goiás Contra o Crime com programas similares de outras redes. A trilha sonora principal do jornalístico é a mesma que a Record usa como tema do plantão do Jornalismo há sete anos e que está disponível na íntegra no YouTube --a composição é um trabalho do compositor Julio Cesar feito com exclusividade para a rede de Edir Macedo.

A TBC já tentou ter um programa policial para chamar de seu no passado. Entre dezembro de 2014 e fevereiro de 2015, botou no ar o matinal Chumbo Neles, também em uma faixa antes ocupada pela programação infantojuvenil. A atração saiu do ar sob protestos da TV Cultura, de São Paulo. A Cultura licencia sua programação para emissoras públicas e educativas de todo o país. Considerou que o conteúdo do programa não condizia com a linha editorial da rede.

Além dos interesses políticos envolvidos, a TV pública de Goiás tem uma motivação mercadológica: Record e SBT fazem muito sucesso em Goiânia com seus noticiários de conteúdo essencialmente popular. Até mesmo a Globo, tradicionalmente mais elitista, reformulou seus telejornais regionais para voltar a ser competitiva.

Para reassumir a liderança perdida para o Balanço Geral local, o Jornal Anhanguera da hora do almoço virou uma versão genérica de seu concorrente. Não é raro que vítimas de crimes ou pessoas em situação de extrema pobreza sejam convidadas a participar diretamente do estúdio do telejornal. O conteúdo, antes diversificado, passou a ser exclusivamente policial e popular.

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