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FOTOS: REPRODUÇÃO/GLOBOPLAY
Xuxa Meneghel em depoimento ao documentário Em Nome de Deus; apresentadora era próxima a João de Deus
GABRIEL PERLINE
Publicado em 24/6/2020 - 1h40
[Alerta: este texto contém spoilers]
Protagonista do segundo episódio da série documental Em Nome de Deus, lançada pelo Globoplay na noite de terça-feira (23), Xuxa Meneghel relatou sua amizade e proximidade com o médium João de Deus, condenado por abusar sexualmente de centenas de mulheres. A apresentadora buscou o curador com o objetivo de ajudar sua mãe, Alda Meneghel (1937-2018), que morreu em decorrência de uma doença degenerativa.
"Existe gratidão? Uma gratidão vestida de vergonha, porque a gente não pode ser grata por um monstro. É um monstro, é fato. Mas existiu coisas que realmente ali eu poderia te dizer, eu vi ele operando, eu estava ali segurando, eu vi pessoas que falavam: 'Não tenho um joelho, e ele me fez andar'. E uma pessoa não tinha joelho, cara!", comenta a apresentadora.
Xuxa apareceu nas chamadas promocionais da série nos intervalos comerciais da Globo, que exibiu o primeiro episódio na noite de ontem. Na sequência, a plataforma de streaming da emissora disponibilizou a temporada completa, de seis episódios. Mas a apresentadora da Record surge somente no segundo e no quarto capítulos.
Pedro Bial, responsável por revelar no Conversa com Bial, em 2018, os crimes cometidos pelo médium, narra a série. Ele introduz Xuxa como a "primeira pessoa de grande relevância social que veio a público se penitenciar e pedir desculpas a seus seguidores, fãs e público por ter indicado João de Deus". Em um vídeo no Instagram, publicado em 13 de dezembro daquele ano, seis dias após o escândalo vir à tona, a rainha dos baixinhos repudiou os atos cometidos pelo médium.
Xuxa recebeu a equipe da Globo em sua casa e mostrou uma pedra que ganhou do médium. O objeto, segundo a artista, fazia parte de uma coleção pessoal de João de Deus e costumava ficar na sala onde ele teria praticado os crimes de estupro.
"Não é linda ela? Olha os detalhes dela. Ela tem uns raios escuros, como se fosse petróleo, sei lá o que que é aqui misturado. Na realidade, eu ia quebrar ela, jogar ela fora. Falei: 'Ah, acho que não merece'. Deixei ela aqui fora para receber chuva, limpar. Se ela tem alguma energia ruim, que saia, porque de onde ela veio não deve ter boas energias", diz ela.
No desespero para encontrar solução para o mal de Parkinson que afetava a saúde de sua mãe, Xuxa recorreu aos milagres de João de Deus, que acompanhou dona Alda Meneghel até seu último dia de vida.
"Quando ele a conheceu, ela estava no estágio três. Ela morreu no estágio cinco. Depois que ele fez as coisas [tratamento], bem ou mal ela ficou mais em pé. Depois ela parou de andar, parou de falar, parou de se mexer. Mas ele acompanhou esses piores estágios da doença. Qualquer alento, qualquer coisa que ele pudesse me oferecer, oferecer para minha mãe, para mim era 'uau'", relata.
A apresentadora falou das cirurgias espirituais que João operava em sua mãe à distância. Ele, de Abadiânia (GO), prometia intervenções em dona Alda, que morava no Rio de Janeiro. E se no dia seguinte ela acordasse melhor, Xuxa atribuía a melhora ao trabalho do médium.
"Se salva algum ente querido teu, se esse ente querido se sente melhor, o que você quer fazer para essa pessoa? Quer a minha calça? Toma. Quer a minha roupa? Toma. O que você quer meu? Assim era a reação que as pessoas tinham com ele", fala a apresentadora em seu depoimento.
No quarto episódio de Em Nome de Deus, Xuxa dá mais detalhes de sua relação com o médium e compartilha conversas íntimas que tiveram. Em uma delas, a artista afirma que João lhe havia confessado que seu ponto fraco eram as mulheres, e que por muitas vezes usou o dinheiro que ganhou com os trabalhos religiosos para pagar prostitutas.
"Ele sempre falou, foi claro, que a vontade dele de ter várias mulheres é desde pré-adolescente. Ele disse: 'Eu nem era homem e já gastava o pouco dinheiro que eu tinha com mulheres'. Ele falou algumas vezes: 'Minha doença é mulher. E Deus me castigou algumas vezes por causa disso, porque eu usei o dinheiro que eu ganhava, que eu não podia estar recebendo para isso, porque eu queria ter mulher'", afirma a apresentadora.
Em Nome de Deus inaugura o núcleo de documentários do Globoplay. O trabalho levou 18 meses para ser concluído e tenta mostrar ao público como funcionava a rede de proteção do médium, que deixou de ser visto como um "enviado de Deus" e se tornou um cruel abusador de pessoas que o procuravam por auxílio espiritual. Foram entrevistadas algumas de suas vítimas, entre elas Dalva Teixeira, filha de João de Deus, que afirmou ter sido abusada pelo próprio pai aos dez anos de idade.
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