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Sem medo de polemizar, Greenleaf inovou com cristãos longe da santidade

IMAGENS: DIVULGAÇÃO/OWN

Com uma batina roxa, Keith David aparece cabisbaixo sentado em um cadeira em cima de um púlpito em Greenleaf

Keith David em cena do drama Greenleaf; série termina com a quinta temporada, que estreia na Netflix

JOÃO DA PAZ

Publicado em 12/8/2020 - 6h50

Chega ao fim Greenleaf, série que fez história e está no plantel dos principais dramas desta década. Sem medo de polemizar, ela quebrou tabus com assuntos polêmicos no meio cristão, como homossexualidade e vida secular. A atração também inovou ao narrar o cotidiano de uma família cristã longe da santidade --mas nem por isso diabólica.

Popularizada no Brasil pela Netflix, a quinta temporada da trama religiosa entra na plataforma nesta quarta-feira (12), um dia depois de chegar ao fim nos Estados Unidos, onde era exibida pelo canal OWN, de Oprah Winfrey.

Greenleaf já nasceu diferente. O drama tem como base uma família de negros evangélicos, cujo sobrenome batiza a série. O patriarca é o bispo James (Keith David), pastor de uma megaigreja chamada Calvary Fellowship World Ministries, ou simplesmente Calvary. Os episódios transitam entre o que se passa dentro do templo e a conturbada relação dos familiares.

Ao longo dessas cinco temporadas, a produção não hesitou em abordar questões que muitos cristãos fazem vista grossa, como a homossexualidade. O tema foi introduzido como se a série fosse um dramalhão latino. A ministra de louvor e aspirante a pastora Charity (Deborah Joy Winans), filha mais nova de James, descobriu que seu marido, com quem recentemente tivera um filho, era gay.

Greenleaf não causou polêmicas apenas pelo choque. A série cumpriu sua promessa de destrinchar todas as controvérsias, seja dentro ou fora do cristianismo, com a meta de elucidar os telespectadores.

Além de mostrar como fiéis lidam com a homossexualidade entre quatro paredes, houve espaço para debater a polêmica no templo, como quando Calvary viu uma igreja rival se levantar a favor de abrir as portas para a comunidade LGBTQ+.

Essa característica da série de discutir temáticas dentro e fora de um ambiente sacrossanto também se deu em outros momentos, como ao falar de pedofilia, mal presente em entidades ao redor do mundo e que assombrou os Greenleafs. O drama não fugiu de outra pedra no sapato de instituições religiosas, o desvio de dízimos (dinheiro ofertado por um fiel para a tesouraria da congregação).

Adversidades menores tiveram destaque. Uma jornada interessante ocorreu com as duas netas de James, Sophia (Desiree Ross) e Zora (Lovie Simone), adolescentes filhas de pastores que viviam com um "pé no mundo", linguajar evangélico que rotula aquele cristão que não larga as delícias seculares. Uma dualidade mais do que presente no protestantismo contemporâneo.

Lynn Whitfield e Merle Dandrige na quinta temporada de Greenleaf; atrizes âncoras da série


Fim nos próprios termos

Com um elenco muito bom, de Keith David a Merle Dandrige (a pastora Grace), passando por Lynn Whitfield (Mae, a matriarca da família), Greenleaf terminou nos próprios termos, contando a história a que se propôs, de mostrar evangélicos que nada mais eram do que simples seres humanos, sem os colocar em um pedestal.

A história chegou ao fim com essa lição passada aos telespectadores, de que não existe algo como o "supercrente", uma pessoa acima do pecado somente por ter entrado em uma igreja e lido a Bíblia. Paralelo a isso, o drama exaltou o poder que a fé tem de unir, perdoar e fazer com que haja uma paz interior dentro de si, necessária para seguir em frente não importa quais forem as circunstâncias.

Em entrevista para o site da Variety, Craig Wright, criador de Greenleaf, falou sobre o legado e o impacto da atração. "Basicamente, uma história é um meio pelo qual se conta algo. Se você vai lá e apresenta o que pretendia, o público pode até sair meio entristecido pela conclusão, mas terá entendido a mensagem", disse, antes de indagar. "O segredo é: o que você queria mesmo contar? E nós conseguimos". Contente, o produtor colocou um fim ciente de ter cumprido seu objetivo.

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