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The Marvelous Mrs. Maisel

Por que série feminista da Amazon resgatou programa machista da Playboy?

Divulgação/Amazon

O ator Ryan Farrell interpreta um apresentador de TV tipo Hugh Hefner em The Marvelous Mrs. Maisel

O ator Ryan Farrell interpreta um apresentador de TV tipo Hugh Hefner em The Marvelous Mrs. Maisel

JOÃO DA PAZ

Publicado em 14/12/2019 - 5h26

A comédia feminista The Marvelous Mrs. Maisel coloca a mulher no protagonismo ao narrar a história de uma dona de casa, em plena Nova York do fim dos anos 1950, que busca independência em uma sociedade dominada por homens. Então, por que a série abriu espaço para resgatar um programa machista da Playboy de mais de meio século atrás?

Embora seja discutível o tratamento que a revista masculina dava às mulheres na época, existe um conflito entre as feministas e a publicação, pelo jeito como elas eram (e são) retratadas. Por isso, é curiosa a referência que Mrs. Maisel faz a Hugh Hefner (1926-2017), o criador da revista Playboy.

Com um quê de provocação, a lembrança veio para contextualizar a influência que a publicação teve na época, a ponto de fazer uma atração televisiva de impacto, e também para homenagear um ícone da comédia stand-up. 

Na parte final do quinto capítulo de sua terceira temporada, a comédia da Amazon apresenta o Miami After Dark, um programa fictício inspirado no Playboy After Dark (1969-1970). A atração apresentada pelo próprio Hefner, uma evolução do Playboy's Penthouse (1959-1960), era exibida na calada da noite. Ambas serviam para vender a empresa do coelhinho como sofisticada e desejável.

O programa real tinha Hefner como um verdadeiro anfitrião. Ele conversava diretamente com o telespectador, olhando para a câmera e o convidando ao estúdio que simulava uma sala chique.

O empresário, com um cachimbo na boca e copo de uísque na mão, recebia convidados de todos os tipos, mas com destaque a músicos (principalmente de jazz) e comediantes. E se discutia de tudo, de política a comportamento, sem deixar de lado temas polêmicos vividos naquela época.

Por mais que Hefner tenha aberto as portas para importantes cantoras como Ella Fitzgerald (1917-1996) e Tina Turner, e comediantes como Moms Mabley (1894-1975) e Barbi Benton, as mulheres geralmente faziam presença apenas decorativa no programa. Elas apareciam ao lado dos homens, cheias de graça e com belos vestidos, se limitando apenas a sorrir. Só as famosas playmates (as que posavam nuas nas página das revistas) tinham seus nomes citados.

Na versão fictícia mostrada em The Marvelous Mrs. Maisel, o ator Ryan Farrell vive o apresentador Brye Adler, a cópia de Hefner. Ele recebe como convidado o humorista Lenny Bruce (Luke Kirby), que leva a protagonista, a também comediante Midge (Rachel Brosnahan), para visitar os bastidores do Miami After Dark.

Porém, Bruce foge do script e chama a amiga para aparecer na frente das câmeras e faz uma zoeira com ela: a apresenta como sua mulher, ou sua irmã. "Isso varia dependendo de qual parte do país estivermos", fala Midge.

A cortesia que a série da Amazon faz para a Playboy tem outra razão. Lenny Bruce (1925-1966) foi um comediante de verdade, uma lenda do stand-up norte-americano. Ele fez uma participação marcante no programa de Hugh Hefner em uma edição exibida há 60 anos --que está disponível no YouTube.

A série tenta replicar essa interação entre os dois na sua versão fictícia. Veja o vídeo real abaixo, em preto e branco e sem legendas, de Hefner entrevistando Bruce. O fã de The Marvelous Mrs. Maisel perceberá como o ator Luke Kirby capta com perfeição todos os trejeitos de Bruce, do tom de voz aos tiques.

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