BOLA FORA
Fotos: Reprodução/Netflix
O ator Selton Mello (Marco Ruffo) em frente ao prédio da Polícia Federal em cena de O Mecanismo
LUCIANO GUARALDO, no Rio de Janeiro
Publicado em 14/5/2019 - 5h22
Quem assistiu à primeira temporada de O Mecanismo e teve estômago para encarar a nova leva de episódios, lançada pela Netflix na última sexta (10), teve duas surpresas: primeiro, a série mudou o alvo de seu canhão do PT para o PMDB e Michel Temer; segundo, a atração criada por José Padilha erra feio na continuidade do próprio universo que havia construído.
Entidade que conduz boa parte da narrativa com a investigação da Lava Jato, a Polícia Federal era chamada de Polícia Federativa na primeira temporada. Agora, a série não se decide sobre qual nome quer usar: Federal e Federativa se alternam várias vezes na narrativa, a ponto de confundir o público.
O erro se estende ao próprio PT. Nos episódios disponibilizados no ano passado, o partido do ex-presidente João Higino/Lula (Arthur Kohl) e da governante Janete Ruscov/Dilma (Sura Berditchevsky) era o PO, Partido Operário. Agora, o ex-delegado Marco Ruffo (Selton Mello) cita nominalmente o PT, além do PMDB e do PSDB.
Selton Mello em cena com a ex-BBB Vanessa Pascalle dentro do prédio da Polícia Federativa
Confrontado sobre o erro grave na continuidade, Padilha pareceu não se abalar nem dar importância ao furo. "O que aconteceu foi o seguinte: existem umas regras e uns parâmetros que a gente pega do jurídico. A gente adota isso no roteiro, e depois esquece (risos). Dizem que não pode falar PT. Aí a gente troca. Mas depois, a gente coloca PT, PSDB... Se ninguém [do jurídico] pega, a gente deixa", minimizou.
O criador de O Mecanismo também explicou que na segunda temporada a equipe ficou bem mais relaxada sobre o que podia ou não ir ao ar. Como ninguém processou os produtores nem a Netflix no primeiro ano, a pressão diminuiu --foi assim, inclusive, que Padilha pôde colocar na série a abertura que classifica dezenas de políticos e empresários como ladrões.
"Essa era a abertura que eu queria ter colocado já na primeira temporada, ela já estava pronta. Não foi pro ar logo de cara por algumas questões jurídicas, algumas dúvidas do que a gente podia ou não fazer", explicou. "Como a primeira temporada não sofreu nenhum processo [judicial], a gente teve menos preocupações do ponto de vista jurídico e colocou a abertura que tinha montado para a primeira temporada."
O ator Garcia Júnior (de boca aberta) surge no último capítulo como um cover de Bolsonaro
Para Padilha, a segunda temporada é menos polêmica do que a primeira, apesar de a equipe ter recebido mais liberdade da Netflix para partir para o ataque direto.
"No ano passado, ainda existia uma esperança de que o Lula ia continuar na política, então as críticas [a ele] pegaram. Agora, não tem mais isso, não há possibilidade, ele está condenado, não vai mais ser candidato, tem vários processos, tem essa diferença. Teve um repúdio das urnas à Lava Jato", filosofou.
E o atual presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, teria vez na narrativa de O Mecanismo? Um dublê do político até dá as caras no último episódio da segunda temporada, fazendo um discurso bastante familiar durante a votação do impeachment de Janete. Mas Padilha disse que a corrupção do ex-militar é diferente das anteriores --e está mais associada a um outro trabalho do cineasta do que a série da Netflix.
"Essa é uma série sobre a Lava Jato. O Bolsonaro nunca foi politicamente capaz de participar de roubalheiras do tamanho da Lava Jato. A roubalheira que a gente tem indícios até agora é o quê? É o Queiroz, que depositou R$ 1,2 milhão, é muito menos do que os bilhões da Lava Jato. O Bolsonaro tem mais a ver com o Tropa de Elite 2 [2010], que mostra as milícias chegando a Brasília. Um tipo de coisa que é o submundo, o esgoto da polícia do Rio de Janeiro. É um nível que eu jamais imaginei que o Brasil fosse chegar", alfinetou.
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