ANGELA CHAVES
REPRODUÇÃO/NETFLIX
Liana (Juliana Paes) e Tomás (Vladimir Brichta) em Pedaço de Mim; Netflix sai na frente da Globo
Os elogios à Angela Chaves por seu trabalho em Pedaço de Mim obviamente não são os primeiros da sua carreira. A autora já havia surpreendido os críticos quando ainda estava na Globo e foi responsável por mexer na obra do seu então chefe --Silvio de Abreu, diretor de Dramaturgia até 2020. Ela escreveu o remake de Éramos Seis (2019), no qual demonstrou sua habilidade para falar sobre a maternidade.
Angela ficou quase três décadas na líder de audiência até ser dispensada em 2022, em meio à política de reduzir drasticamente os contratos fixos de seu elenco e de seus autores. Livre para o mercado, ela emplacou o primeiro melodrama brasileiro da Netflix --chamado de série por uns, novela por outros.
O sucesso de Pedaço de Mim deixou evidente que a Globo errou feio ao abrir mão de um dos seus principais ativos: as pessoas por trás das histórias. Não à toa, a empresa hoje enfrenta uma das piores crises do seu horário nobre, em que sofre não só com a fuga do público, mas também com duras críticas sobre a qualidade de suas produções.
De um lado, a emissora investiu pesado em seu "padrão Globo de qualidade" e até inaugurou um novo estúdio, o MG4, com tecnologia de ponta, em 2019. Do outro, dispensou sistematicamente uma mão de obra que levou décadas para formar e aprimorar.
Angela é um bom exemplo, já que passou 28 anos por lá e colaborou com produções como Celebridade (2003) e Maysa: Quando Fala o Coração (2009). Ela só foi promovida a autora titular, ainda sob a gestão de Abreu, quando assinou Os Dias Eram Assim (2017) com Alessandra Poggi.
Em suma, a Globo levou anos para formar uma autora titular, mas a colocou à disposição do mercado justamente em sua maturidade profissional. A Netflix já sabia desde o início que marcaria um "golaço" ao trazer a escritora para sua equipe.
Pedaço de Mim não só se tornou uma das produções mais vistas do catálogo na semana de sua estreia como ganhou elogios da concorrente --inclusive das bem-sucedidas Gloria Perez e Rosane Svartman.
Uma história original, com um ponto de vista pouco explorado na dramaturgia, curiosamente é o que mais faz falta à Globo --presa em remakes e sequências-- hoje.
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