A VIDA PELA FRENTE
DIVULGAÇÃO/TV GLOBO
Liz (Nina Tomsic) e Tereza (Leandra Leal) em A Vida Pela Frente; série aborda adolescência com crueza
Os dramas adolescentes perderam sua faixa tradicional na TV aberta, mas parecem ter arranjado um espaço grandioso no streaming --e com muitos tabus a menos. Sem as restrições de horário, as tramas prometem mexer em vespeiros que já são comuns em produções estrangeiras do gênero, como dúvidas sobre a sexualidade, abuso de drogas, problemas relacionados à saúde mental e luto. É o que promete A Vida Pela Frente, série que estreia nesta quinta (22) no Globoplay.
Diretora e uma das criadoras da produção --ao lado das amigas Rita Toledo e Carol Benjamin--, Leandra Leal afirma que quer atingir mais do que o público adolescente. Ela, aliás, decidiu ambientar a série nos anos 2000 justamente para que os millenials se conectassem à produção. É mais um fator que diferencia o projeto de Malhação (1995-2020), maior produto da Globo para adolescentes, que chegou oficialmente ao fim há pouco mais de um ano.
O Notícias da TV teve acesso aos primeiros dois episódios da série. Só nesses capítulos, os adolescentes usam explicitamente maconha e cocaína e discursam abertamente sobre os temas --algo impensável para os padrões de Malhação. Outros dramas, contudo, são velhos conhecidos: o abandono paterno, as dúvidas sobre o futuro, as inseguranças, a sensação de não pertencer a lugar nenhum...
Em A Vida Pela Frente, esses sentimentos desembocam em um episódio traumático para o sexteto de amigos protagonistas --formado por Beta (Flora Camolese), Cadé (Jaffar Bambirra), Marina (Muse Maya), Vicente (Henrique Barreira), Liz (Nina Tomsic) e JP (Lourenço Dantas): um suicídio. Outro diferencial da trama é que ela não começa ou termina a partir dessa tragédia. A primeira fase, com cinco episódios, deve narrar a vida dos personagens antes disso. A segunda parte, o que vem depois.
Com isso, o enredo atravessa o último ano do Ensino Médio e acaba abordando também o início da vida adulta daqueles personagens, afetados por uma série de eventos tão turbulentos.
A premissa parece semelhante à de 13 Reasons Why (2017-2020), da Netflix, que foi rechaçada por causar gatilhos a jovens com tendências suicidas. Mas as criadoras parecem ter se blindado disso. Durante o evento de lançamento da série para a imprensa, as criadoras reiteraram que a produção foi acompanhada por Laura Sarmento, psicanalista especializada no período da adolescência. Elas, inclusive, removeram uma cena a pedido da profissional.
"Ela acompanhou a gente desde o processo da sala de roteiro, leu todas as versões, assistiu ao resultado final e tirou uma cena porque achou, enfim, que não era... Que estava muito... Que não era adequado, recomendável. Foi um processo muito legal, porque ela contribuiu para a gente compreender melhor as questões que a gente estava trabalhando desse ponto de vista mais profissional", explicou Rita Toledo, criadora e roteirista.
A preocupação da equipe não era só com o público, mas também com o elenco. A equipe fez questão de manter Estrela Straus, uma preparadora de elenco específica para os protagonistas, durante seis semanas. "Isso não é mais tão comum. E a gente conseguiu disponibilizar para os atores o mais perto de condições ideais, para que cada um se sentisse acolhido, protegido, e pudesse entregar o que era preciso para o trabalho", defendeu Leandra.
"A preocupação com quem se desenvolve nessas histórias, trabalha com isso, se coloca nesse lugar, como no caso dos atores, que experimentam, deveria ser uma questão de toda a nossa indústria audiovisual", completou Carol Benjamin. "São temas difíceis, mas a gente tem que poder falar sobre eles, criar espaço de escuta, de fala", adicionou Leandra.
Por meio dessa junção de fatores, Henrique Barreira, intérprete do problemático Vicente na série, acredita que a série inaugura um "novo tipo de narrativa jovem que o Brasil pode produzir", com histórias que "honram a adolescência como uma fase heroica".
Num lugar real como ator, se eu falar que eu não estava desesperado no set, meu primeiro set profissional da vida… Eu estava apavorado, mas ao mesmo tempo foi um tesão estar lá. A série conseguiu tirar de nós um medo misturado com tesão, romance misturado com a raiva, o luto… E eu tinha acabado de perder meu pai, era muito recente.
A série adquiriu ainda mais importância ao ator pelo fato de ele vivenciar o luto juntamente com o seu personagem. Mas seus colegas de cena tiveram as próprias questões no decorrer da produção. Jaffar Bambirra, por exemplo, sentiu que pôde se conectar com seu adolescente "morto".
"Eu lembro de a gente ter um encontro de preparação em que uma das perguntas era: 'Ah, qual o motivo para você participar da série?'. E o motivo que eu dei foi de que seria uma das últimas oportunidades que eu teria para fazer um jovem, de me debruçar nesse momento da minha vida. E para mim foi muito importante estar numa história que retrata o adolescente de forma tão crua, com as dores e delícias disso; esse lugar de a gente se encontrar enquanto pessoa", disse o ator de 25 anos.
jorge bispo/globoplay
LeandraLeal (no meio) com o elenco jovem da série
Flora Camalese, a Beta, vive o oposto. Ela é a mais nova do grupo: começou a trabalhar na série com 19 anos, sendo que nos últimos dois anos, posteriores ao Ensino Médio, passou pelo isolamento social devido à pandemia da Covid-19. "Eu estava num lugar totalmente adolescente. Eram as minhas questões também. A Beta me ajudou muito pessoalmente, tratei muitas questões minhas comigo mesma e com a família", revelou.
Muse Maya refletiu sobre questões internas. A personagem dela, Marina, não consegue se reconhecer nos amigos, apesar de ter convivido com eles a vida inteira. Sem ter acesso a outras pessoas negras --conexões que seriam facilmente realizadas hoje em dia, com o auxílio das redes sociais--, ela não é capaz de entender aquilo que a diferencia.
Embora não carregue feridas como essa, a atriz admitiu que não teve tempo de viver a inocência e as aventuras da adolescência. Sempre trabalhou e não conseguia ter tempo de experimentar a vida como os amigos. "Durante o processo de construir o papel, eu me senti ouvida. Foi um processo de cura junto com a Marina, de descoberta, e de coisas que eu já sei, mas a Marina ainda não sabe."
Estreante na TV, Lourenço Dantas usou seu JP para se afastar da pressão da adolescência e se perdoar pelos atos do passado. "Eu tinha muita expectativa de definir quem eu era e quem eu ia ser como adulto", revelou. O processo do personagem, contudo, fez ele revisitar sua história. "O JP, além de ter uma aceitação na sexualidade dele, tem uma mudança de atitude sobre quem ele é. Acabou sendo um processo de [me] aceitar, mesmo", completou.
Os cinco primeiros episódios da série chegam no Globoplay nesta quinta (22); mais cinco capítulos entram na plataforma em 6 de julho. Dirigida por Leandra Leal e Bruno Safadi, A Vida Pela Frente conta com supervisão de roteiro de Lucas Paraizo (de Sob Pressão e Os Outros).
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