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Profissão em alta

Coreógrafo do sexo: O que faz um coordenador de intimidade em Hollywood

Arquivo Pessoal/Ita O'Brien

A britânica Ita O'Brien dirige cena de sexo em peça de teatro; nova profissão em alta em Hollywood - Arquivo Pessoal/Ita O'Brien

A britânica Ita O'Brien dirige cena de sexo em peça de teatro; nova profissão em alta em Hollywood

JOÃO DA PAZ

Publicado em 29/7/2019 - 4h59

Profissionais em alta em Hollywood, os coordenadores de intimidade ganharam um aval importante para regular com mais afinco as cenas de sexo e nudez em produções da TV e do cinema. O SAG-Aftra, sindicato de atores e profissionais do entretenimento americano, oficializou uma parceria para propor diretrizes a serem aplicadas em cenas íntimas.

O SAG vai trabalhar em conjunto com Alicia Rodis, diretora nova-iorquina que assumiu o bastão para elaborar um guia e estabelecer parâmetros para que todos os envolvidos em cenas de sexo e nudez não fiquem constrangidos ou desconfortáveis. A ideia é incentivar mais séries e filmes a contratarem coordenadores de intimidade para atuarem como fiscais e interventores.

Alicia é uma pioneira. O canal HBO a chamou para trabalhar na segunda temporada de The Deuce, drama sobre a indústria pornográfica norte-americana dos anos 1970. Assim, a série entrou para a história de Hollywood como a primeira com um coordenador de intimidade trabalhando em tempo integral atrás das câmeras.

Alicia Rodis (à esq.), durante aula de coordenação de intimidade (Foto: Reprodução/Instagram)

A carreira de Alicia começou como atriz. Por ter experiência com artes marciais, ela passou a trabalhar com dublês. Até que, durante as filmagens de um longa, Alicia notou que dois atores estavam travados durante uma cena de beijos mais intensa. Após pedir permissão, ela abordou o casal e iniciou um papo sobre como aquele momento poderia ser mais fluido, detalhes de como poderia ser o beijo, em qual parte do corpo eles poderiam tocar...

Surgiu aí a ideia de fazer algo em relação às cenas de sexo e nudez. Alicia usou a lógica, pois em qualquer cena de luta é obrigatório ter um especialista para coordenar as coreografias de uma briga. Se uma cena também contar com uma criança ou animal, é necessário que um responsável esteja presente. Logo, por que o mesmo não pode acontecer com as cenas de sexo e nudez?

Em 2015, junto com outras duas diretoras, ela fundou o IDI (Intimacy Directors International). Dois anos depois, quando o movimento #MeToo eclodiu, o cuidado com assédios sexuais em estúdios chegou ao alerta máximo. E, naturalmente, o IDI e Alicia passaram a ser muito requisitados.

Pedido de uma atriz

Em The Deuce, Emily Meade vive a prostituta Lori Madison, que faz de tudo para largar a vida nas ruas e se tornar uma atriz pornô famosa. Como ela atua em várias cenas de sexo, de todos os jeitos e posições, abordou os criadores da trama para que contratassem alguém para supervisionar essas ações. Foi aí que entrou Alicia.

divulgação/HBO

Cenas como essa, em The Deuce, precisam de um coreógrafo para dizer o que pode ou não

A expert participou de todas os momentos íntimos da temporada. Ela fez questão de que tudo fosse ensaiado e que só seria mostrada a nudez combinada previamente com os atores. Se alguma situação estabelecida pelo diretor de um episódio específico desagradasse aos atores, como as posições do sexo, Alicia agia como intermediadora. O importante era não deixar nenhum ator ou atriz incomodado.

A função de Alicia também é de normatizar o sexo. Diretores mais veteranos têm em mente a ideia de que para uma cena de sexo funcionar, os atores envolvidos precisam ter uma química especial, romântica. Alicia derruba essa tese ao ensinar que uma cena de sexo é como uma sequência de luta e tem de ser coreografada como tal. Se dois atores não estão brigando de verdade na tela, o sexo tem de ser encarado da mesma forma, como uma simulação acima de tudo.

O trabalho de Alicia abriu portas. E a britânica Ita O'Brien foi uma das que aproveitou o novo espaço. Ita aceitou o desafiou de trabalhar com jovens atores na ótima série Sex Education, na qual não apenas há muito sexo, mas de inúmeras maneiras (de relação lésbica a masturbação) e envolvendo personagens adolescentes. O que só tornou a função mais estimulante e espinhosa.

Ita trabalhou também em Gentleman Jack, drama lésbico da HBO que, obviamente, tem bastante momentos íntimos entre mulheres.

Tanto Ita quanto Alicia dão aulas para ensinar novos profissionais a continuarem esse trabalho, que tem tudo para ter uma demanda alta nos próximos anos.

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