Contexto pop
Divulgação/HBO
MARCO BEZZI, especial para o Notícias da TV
Publicado em 5/2/2016 - 16h45
A partir do olhar do executivo de uma gravadora, nova série da HBO faz um passeio pelo universo regado a sexo e drogas que culminaria no surgimento do punk, da disco music e do hip hop, na turbulenta Nova York dos anos 1970. Veja quem eram os artistas que estavam na vanguarda da música pop em 1973 e se prepare para a estreia de Vinyl no próximo dia 14
Dia 28 de setembro de 1972. O Carneggie Hall, casa de espetáculos localizada no centro de Manhattan, em Nova York, estampava na sua entrada um luminoso com a frase: "Se apaixone por David Bowie". Era a estreia na cidade do cantor, morto em janeiro passado, aos 69 anos.
Bowie levava a turnê do álbum Ziggy Stardust. A plateia, que segundo texto da revista Playboy da época, esperava algo similar a um bizarro Alice Cooper versão Reino Unido, se surpreendeu com a energia e inventividade de Bowie. Atentos a cada movimento do "Camaleão do Rock", estavam o artista plástico Andy Warhol, o escritor Truman Capote, toda a imprensa especializada e uma centena de músicos. Entre eles, dois dos mais atentos respondiam pelos nomes de David Johansen e Johnny Thunders. Cabelos jogados nos ombros e visual espalhafatoso, Johansen e Thunders faziam parte do New York Dolls, banda que ajudaria a definir a década que nascia com o lançamento do primeiro disco do grupo, em 1973.
Se os Estados Unidos ainda ouviam o rock "careta" de Elton John e Eagles, figuras constantes nas paradas do rádio, Nova York começava a fincar os alicerces fundamentais da vanguarda musical embalada em punk, disco music e hip hop.
A cidade vivia um caos particular e respirava música. As gangues do Bronx empregavam combustível suficiente para que a metrópole vivesse, de certa forma, sitiada. Drogas e violência caminhavam de mãos dadas. É justamente nesse cenário que os produtores-executivos Martin Scorsese, Mick Jagger e Terence Winter (responsável pelas consagradas The Sopranos e Boardwalk Empire) contam a história de Vinyl, nova série original da HBO, que estreia no próximo dia 14, à meia-noite. O elenco traz nomes como Bobby Cannavale, Olivia Wilde, June Temple, Ray Romano e James Jagger, filho do líder dos Rolling Stones. Escrito por Terence Winter e dirigido por Scorsese, o primeiro episódio tem duas horas de duração.
Em dez capítulos, a superprodução faz um passeio pelo universo regado a sexo e drogas que culminaria no nascimento do punk rock, da disco music e do hip hop a partir do olhar de Richie Finestra (Bobby Cannavale), um executivo do mundo da música. Em 1973, ano em que se passa a primeira temporada de Vinyl, Finestra começa a perder as esperanças na indústria musical, pois sua gravadora, a American Century Records, corre o risco de ser vendida para um grupo alemão após perder a liderança do mercado fonográfico americano. Nos porões, bares e prédios abandonados de Nova York, Finestra passa a procurar sua próxima estrela (e a salvação de seu negócio), enquanto tenta se livrar do vício em drogas e cuidar da família.
Uma novidade em cada esquina
Era possível sentir o cheiro da combustão sociocultural em cada esquina de Nova York. A cidade serviu de personificação entre a mudança da música inofensiva para o rock perigoso e volátil. Vale lembrar que a "paz e amor" que haviam sucumbido ao fim dos anos 1960 com as mortes de Martin Luther King e dos Kennedys também envergaria musicalmente após o assassinato de um fã no concerto dos Rolling Stones, em dezembro de 1969, em Altamont, Califórnia _um dos símbolos da derrocada de uma era em que os hippies ainda ditavam a moda.
Era comum entrar nos bares e hotéis de Nova York e esbarrar com algo novo e inusitado. Em um dos shows do New York Dolls, no Waldorf Astoria, em 1973, um quarteto todo maquiado, com visual tão impactante quanto o dos Dolls, fazia as vezes de banda de abertura. O grupo se chamava Kiss e tentava, como outras diversas, mostrar que também poderia se encaixar nessa nova revoada da música americana. Facilitou ainda mais o espírito vanguardista da cidade a abertura do CBGB, naquele mesmo ano de 1973, casa por onde passariam nos anos seguintes nomes como Patti Smith, Television, Ramones e Talking Heads.
O espírito transformador da cidade respingava até mesmo em polos improváveis como os confrontos entre as gangues de bairro. De uma dessas violentas facções, a Black Spade, saiu o DJ Afrika Bambaataa, um dos inventores do hip hop. Nomes como os de Kool Herc e Jazzy Jay, que, assim como Bambaataa, ajudaram a formatar o rap dos anos 1980, também foram revelados nas gangues de Nova York.
Assim, punk, hip hop, disco music e o rock dos anos 1980 foram forjados nas ruas caóticas e então sujas de Nova York. Não havia barreiras para a experimentação em 1973. Se um nome consagrado como Lou Reed, nascido na cidade, explorava sons irritantes com seu álbum Berlin, havia espaço também para as letras e melodias instigantes de um novato como Bruce Springsteen, que lançava seu primeiro disco, Greetings from Asbury Park, N.J.
Já os meios de comunicação tentavam explicar as mudanças socioculturais da cidade do seu jeito. Num dos quadros 60 Minutes, da CBS, uma conversa entre um crítico musical e o apresentador do programa revelava o quanto a nova cara do rock era algo ainda indecifrável. "Eles [se referindo ao New York Dolls] tocam para uma audiência de 20 anos de idade. Não mais para nós. Iggy Pop, veja só, se corta no palco", destacava o especialista para um atônito âncora. "Não há mais limite algum", completava. Era o início de uma revolução.
Veja trailer da série Vinyl:
Confira os bastidores das gravações de Vinyl:
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MARCO BEZZI é jornalista, escritor e social media especializado em cultura pop. Passou pelas Redações da Editora Abril, Jornal da Tarde, O Estado de S.Paulo e TV Record.
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