CRÍTICA
Maurício Fidalgo/TV Globo
Julio Andrade, Bruno Garcia, Marjorie Estiano e Roberta Santiago em cena de Sob Pressão
RAPHAEL SCIRE
Publicado em 17/11/2018 - 5h51
"O nosso erro não é como o erro de todo mundo. O nosso erro pode ser a morte de uma pessoa", filosofa Evandro (Julio Andrade), justificando o estrago que uma falha médica pode causar. Com essa frase, o protagonista de Sob Pressão deixa claro que a segunda temporada da série vai muito além dos problemas de saúde e enfoca, também, os dilemas pessoais dos profissionais que circulam pelo fictício hospital Luis Carlos Macedo.
O tom realista do texto de Sob Pressão consegue transferir com exatidão a tensão do ambiente hospitalar para a série. A nova temporada aprofunda os dramas dos personagens e mostra a força de narrativas mais curtas, que começam e se encerram sem delongas. Não há espaço para barrigas e histórias desnecessárias. Tudo ali é retratado de maneira seca, rápida e interessante.
Os dramas dos pacientes misturam-se aos dos médicos, o que dá profundidade às histórias pessoais de cada um deles. Como exemplo, a culpa de Evandro por ter negligenciado o atendimento a uma mulher, que logo depois morreu.
Ou ainda Carolina (Marjorie Estiano) que, mesmo machucada depois de sofrer um acidente de ônibus, prestou atendimento aos feridos, ignorando os riscos à sua própria vida em meio às ferragens do veículo que estava prestes a explodir.
Sob Pressão é boa porque transborda o simples entretenimento ao expor a chaga da saúde pública no Brasil através do caos que assola nossos hospitais. É atual ao abrir espaço para escancarar a corrupção sistêmica que ronda as instituições e corrompe a (quase) todos. Daí a importância da entrada de Renata (Fernanda Torres) na segunda temporada da história.
Torres despiu-se do tom cômico a que é comumente associada e está em um de seus melhores momentos na televisão. Consegue transmitir o cinismo e ao mesmo tempo os dilemas da nova diretora do hospital que ainda hesita em entrar em um esquema gigantesco de corrupção, mas que também não quer perder a boquinha que o cargo pode lhe proporcionar.
No elenco, destaque também para Marjorie Estiano, que deixa evidente a sensibilidade de sua personagem, e Julio Andrade. A escolha de um elenco protagonista pouco badalado mostrou-se acertada por priorizar a capacidade cênica e a entrega dos atores aos seus personagens. Quem ganha é o público, brindado com atuações convincentes.
Há, também, uma crueza estética que deixa as cenas ainda mais reais. A fotografia de Sob Pressão não é exagerada, dispensa aquela plasticidade quase publicitária de filtros que preenchem a imagem das produções atuais. O mesmo vale para os cenários, simples e verdadeiros.
Disponível no Globoplay com uma semana de antecedência à exibição na televisão, Sob Pressão faz parte de uma estratégia da Globo de investir cada vez mais em séries, principalmente para o seu serviço de streaming. A TV aberta, por tabela, acaba se beneficiando ao dar a seu público, ainda que com atraso, produtos de qualidade como Sob Pressão.
Ao ampliar o leque de abordagens como corrupção e tragédias urbanas e aprofundar as histórias dos médicos, a segunda temporada de Sob Pressão se firma como o melhor produto atualmente em exibição na Globo. Vale tanto pela emoção quanto pela realidade que a série consegue retratar.
© 2024 Notícias da TV | Proibida a reprodução
Mais lidas
Política de comentários
Este espaço visa ampliar o debate sobre o assunto abordado na notícia, democrática e respeitosamente. Não são aceitos comentários anônimos nem que firam leis e princípios éticos e morais ou que promovam atividades ilícitas ou criminosas. Assim, comentários caluniosos, difamatórios, preconceituosos, ofensivos, agressivos, que usam palavras de baixo calão, incitam a violência, exprimam discurso de ódio ou contenham links são sumariamente deletados.