BOM DIA, VERÔNICA
FOTOS: SUZANNA TIERIE/NETFLIX
Eduardo Moscovis interpreta o violento policial Brandão na série brasileira Bom Dia, Verônica
Violência doméstica é um tema que, por si só, já causa arrepios. Em Bom Dia, Verônica, nova produção original da Netflix, o drama ganha tintas de sangue ao misturar suspense com terror psicológico. A série, baseada no livro de mesmo nome de Raphael Montes e Ilana Casoy, representa um salto qualitativo no nível das produções nacionais que o streaming vem lançando.
Verônica (Tainá Müller) é uma escrivã da polícia que se vê no meio de uma investigação para prender um golpista que seduz mulheres e em seguida aplica um golpe nelas. Ao dar uma entrevista na televisão, acaba chamando a atenção de Janete (Camila Morgado), uma dona de casa que sofre com um marido violento e louco, o policial Brandão (Eduardo Moscovis).
No elenco, o trio central é excelente. Tainá tem a personagem mais difícil da série, a heroína certinha que anseia por justiça. Talvez por Verônica apresentar poucas nuances ou falhas de caráter, a composição, majoritariamente corporal, ficou ofuscada pelo desempenho dos outros protagonistas.
Mesmo assim, a protagonista tem ótimos embates com a delegada Anita (Elisa Volpatto), cuja conduta profissional vai sendo aos poucos revelada, causando surpresas no roteiro. Elisa, aliás, é um nome a se prestar atenção, assim como Marina Provenzzano (Janice).
Camila Morgado e Moscovis em cena da série
Já a atuação de Camila Morgado ganha força nos detalhes, especialmente na expressão facial: os olhos espantados, que acentuam o horror, o desespero e o medo, e a voz trêmula que intensifica os relatos de agressão ajudam a personagem a transitar entre a depressão e a euforia.
Mas é Eduardo Moscovis quem rouba a cena. Demoníaco do começo ao fim, o ator deixa para trás o tipo de galã que o consagrou na televisão. Brandão é irascível, asqueroso com Janete, frio e cruel com suas vítimas.
A psicopatia do tenente é trabalhada à perfeição por Moscovis: do assobio ao olhar cínico que precedem a violência psicológica, passando ainda pela risada debochada.
O terror, bastante recorrente na literatura de Raphael Montes, é ilustrado na série sem concessões. As cenas de tortura que Brandão protagoniza fazem o espectador se sentir como Janete, que assiste às sevícias com o rosto coberto por uma caixa de passarinho: inquieto, com os dedos retorcidos de tanta tensão.
A eletricidade do roteiro é mais um ponto alto de Bom Dia, Verônica. A história avança com ritmo e mantém o público atento o tempo todo. A série ganha ainda ao não tentar emular produções estrangeiras: tem identidade e assinatura. Além disso, a história traz também outros mistérios secundários que capturam a atenção. De bônus, uma trilha sonora caprichada.
O único deslize é a cenografia da delegacia, que mais parece uma agência de publicidade do que uma repartição pública, mas também não é nada que comprometa o desempenho geral da história.
Raphael Montes já declarou que ele e Ilana Casoy pretendem fazer de Bom Dia, Verônica uma trilogia. A julgar pelo gancho final, que deixa todos com gostinho de "quero mais", em breve a série deve ganhar uma continuação. A torcida é grande, pois Bom Dia, Verônica vale a audiência.
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