SÓ PARA ALTINHOS
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Clancy entrevista o presidente da Terra 4-169 em meio a um apocalipse zumbi em The Midnight Gospel
DANIEL FARAD
Publicado em 19/7/2020 - 6h50
As viagens de Clancy Gilroy pelo multiverso de The Midnight Gospel, da Netflix, parecem à primeira vista obra de uma mente "brisada" por ácido ou qualquer outro ilícito. O visual colorido e as referências lisérgicas, no entanto, são mero detalhe em meio às discussões e aos debates inimagináveis do protagonista cor-de-rosa por mundos feitos à imagem e semelhança da Terra de Ooo, cenário de Hora da Aventura (2010-2018).
A comparação não é mera coincidência. As duas animações saíram da cabeça do roteirista Pendleton Ward e, curiosamente, dividem uma mesma parcela do público. A nova série do streaming fisga justamente os telespectadores que cresceram assistindo aos desenhos do Cartoon Network e continuaram a espiar sua programação mesmo depois de chegar aos 30 anos.
O grande trunfo da nova aposta da plataforma é expandir as discussões e temas que aparecem apenas de relance nas animações recentes do canal pago, como Steven Universe (2013-2019) e Apenas um Show (2010-2017) --alguns dos expoentes da tendência de inserir nas tramas de desenhos "infantis" alguns dilemas filosóficos e ironias da vida que passam batidos pelos mais ingênuos
A classificação indicativa para maiores de 18 anos dá liberdade para que os criadores possam muito mais do que colocar uma canção cheia de duplo sentido em que o sol e os planetas versam sobre a falta de um Deus e de ordem no universo em O Incrível Mundo de Gumball (2011-2019).
Os primeiros episódios, aliás, já deixam claro que The Midnight Gospel tem liberdade para debater temas espinhosos como guerra às drogas, meditação, vida após a morte e até mesmo as controvérsias do cristianismo nas sociedades ocidentais em meio a aventuras que muito bem poderiam ser vividas por Finn e seu fiel escudeiro Jake em Hora da Aventura.
REPRODUÇÃO/CARTOON NETWORK
O cão Jake, o humano Finn e o console Beemo em A Hora da Aventura: fãs além das crianças
Nos oito capítulos, Clancy usa uma máquina quântica para viajar pelo tempo e espaço do chamado Chromatic Ribbon, uma espécie de "galáxia" que reúne infinitas realidades paralelas. Ele, então, entrevista moradores desses universos sobre os mais diversos assuntos para gravar o seu "espaçocast", o The Midnight Gospel.
O programa é inspirado no podcast real do comediante Duncan Trussel, um dos roteiristas da série, e transforma em animação as conversas mais excêntricas, interessantes e singulares do The Duncan Trussel Family Hour.
O resultado são episódios entre 20 e 30 minutos que enchem os olhos e os ouvidos com experiências estrambólicas como a do piloto Malditos Zumbis. Nele, Clancy bate um papo com o presidente da Terra 4-169 sobre a descriminalização das drogas e o seu uso recreativo enquanto eles enfrentam uma horda de zumbis. Eventualmente, também são devorados por eles.
A qualidade e o cuidado com os argumentos são tão de cair o queixo quanto a explosão de aleatoriedades pela tela em momentos como aquele em que o protagonista discute a morte de entes queridos e doenças terminais em um planeta povoado por palhaços devorados por cães-cervos --e, estranhamente, tudo faz mais sentido do que O Grande Debate, da CNN Brasil.
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