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Crise em Hollywood

Além do coronavírus, greve dos roteiristas à vista ameaça futuro das séries americanas

Divulgação/ABC

Com máscara no rosto, Giacomo Gianniotti em cena com Sarah Rafferty, que olha assustada para Ellen Pompeo em Grey's Anatomy

Giacomo Gianniotti, Sarah Rafferty e Ellen Pompeo em Grey's Anatomy; 16ª temporada do drama está suspensa

JOÃO DA PAZ

Publicado em 17/3/2020 - 5h17

A pandemia de coronavírus (Covid-19) atingiu Hollywood em cheio, com gravações de dezenas de séries interrompidas como medida de precaução para frear a proliferação da doença. Mas o futuro de dramas e comédias está em xeque não apenas por isso. Uma possível greve de roteiristas se aproxima e deixa a indústria do entretenimento em alerta.

As redes, plataformas de streamings e canais pagos americanos, juntamente com diversos estúdios e produtoras, já estavam se prevenindo contra uma possível paralisação dos escritores, corrigindo assim erros do passado. Mas o vírus devastador pegou todo mundo de supetão, e o jeito é encontrar soluções rápidas para minimizar o impacto da suspensão de séries, principalmente das novatas.

Março é justamente o mês em que Hollywood entra na pilot season, período do ano no qual é gravado o primeiro episódio (piloto) de uma atração que será analisada pelas redes de TV aberta. É o material a que os executivos assistem e determinam se vão encomendar uma primeira temporada completa ou jogar o projeto no lixo.

Entre as cinco redes abertas dos Estados Unidos (ABC, CBS, Fox, NBC e The CW), há 55 séries na pilot season de 2020-2021. Antes da onda de suspensões, somente uma atração teve o piloto finalizado, a comédia B Positive (CBS e Warner Bros.), produzida por Chuck Lorre.

Se a orientação de não gravar os pilotos for mantida durante mais tempo (leia-se: avançar até o meio do mês de abril), as redes vão ter de tirar um truque da manga para preencher a programação da próxima fall season, a temporada de lançamentos mais importante da TV americana, entre setembro e novembro.

Normalmente, com os pilotos finalizados por volta do mês de abril, os executivos e diretores das TVs debatem entre escolher uma nova série ou uma atração veterana que flerta com o cancelamento. Nos meses de abril e maio, são anunciados quais os pilotos rejeitados, as novas séries encomendadas, as que vão ser canceladas e aquelas que sobreviveram ao corte aos 45 minutos do segundo tempo.

Com o panorama do coronavírus se agravando, as redes vão preferir apostar nas séries capengas, pois é mais fácil manter uma audiência razoável com um programa que já está no ar do que investir (principalmente em marketing) em um novo projeto.

Outra opção será encomendar uma série sem mesmo ver o piloto, procedimento arriscado por motivos óbvios, como comprar um produto sem saber como ele é. Isso acontece em casos nos quais atração tem nomes tarimbados na criação, produção e elenco. É um voto de confiança.

No atual cenário, as redes podem apostar nessa estratégia logo, o que ao menos aceleraria o processo de escrever os roteiros dos primeiros episódios e começar os trabalhos de pré-produção.

Divulgação/WGA

Registro de um piquete organizado pelo sindicato dos roteiristas em 2007; Hollywood parada


Greve, a ameaça conhecida

Em 1º de maio, chega ao fim o acordo firmado há três anos entre o Sindicato dos Roteiristas da América (WGA) e a Aliança de Produções Televisivas e Cinematográficas (AMPTP), representante dos estúdios e produtoras dos Estados Unidos. Os próximos dias serão cruciais pare evitar uma greve, que em 2007 durou cem dias e deu um prejuízo de US$ 2,1 bilhões (R$ 10 bilhões) para Hollywood.

Na próxima segunda-feira (23), as negociações entre ambas as partes vão começar, tudo online, como manda a cartilha do convívio em sociedade em tempos de surto viral. Sem o coronavírus em cena, o WGA prometia jogar duro, defendendo com unhas e dentes o ponto mais sensível do próximo acordo, que é a relação dos roteiristas com as plataformas de streaming (eles querem mais participação no lucro dos serviços, que a cada dia ficam mais ricos). Contudo, o momento delicado pode fazer com que a generosidade ganhe seu lugar na mesa.

Por conta do estrago que o coronavírus fez em Hollywood, prejudicando todo mundo, WGA e AMPTP devem estender o contrato atual, em uma decisão extraordinária. Isso, pelo menos, até as coisas voltarem ao normal. Depois que a tempestade passar, as negociações de fato seriam iniciadas.

Independentemente disso, estúdios e produtoras, em parcerias com as TVs americanas, se precaveram. De antemão, foram adquiridos vários realities e game shows internacionais para serem copiados nos EUA, com o objetivo de preencher a programação. Eles também aceleraram a produção e a gravação de atrações roteirizadas, para que uma greve não deixe uma trama pela metade.

Por conhecer os efeitos que uma greve dos roteiristas causa, Hollywood se preparou para isso. Mas o coronavírus é algo novo e inesperado. E essas duas situações ameaçam a indústria de entretenimento americano de uma só vez. Para evitar um desastre colossal, é necessário que o bom senso, aliado a paciência e compreensão, estejam presentes nas negociações junto com os cifrões que serão discutidos.

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