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TÁTICA DO SATANÁS?

Bolsonarista, Record manda jornalista pegar leve com notícias do coronavírus

Reprodução/Record

Homens usando máscaras cirúrgicas em imagem de reportagem do Jornal da Record sobre coronavírus

Imagem exibida em reportagem da Record que mostrou que o coronavírus tem 'alto índice de cura'

DANIEL CASTRO

dcastro@noticiasdatv.com

Publicado em 17/3/2020 - 5h31
Atualizado em 17/3/2020 - 9h52

Aliada do presidente Jair Bolsonaro, a Record do bispo Edir Macedo resolveu pegar leve com o noticiário sobre o novo coronavírus. Em e-mail a profissionais da emissora, enviado na semana passada, Thiago Contreira, diretor de Jornalismo, definiu em uma frase a orientação para a cobertura da pandemia: "Não podemos entrar na onda alarmista".

No e-mail, ele reforça conceitos básicos da profissão, como "contextualizar e explicar o que realmente está acontecendo". Seu discurso se assemelha ao de Bolsonaro ao determinar a seus subordinados que "SEMPRE" comparem "o número de mortes provocadas por doenças que despertam menos interesse, como a dengue, gripe comum, sarampo etc.".

"Além disso, em nossas matérias em todas as plataformas, devemos dar espaço para médicos que sejam equilibrados e que ajudem a transmitir calma à população", finaliza o segundo homem na hierarquia do departamento de Jornalismo.

No Jornal da Record de sábado (14), a ordem foi cumprida à risca. A principal reportagem da cobertura do Covid-19 era "As histórias de quem venceu a doença", na qual informava que "mais de 70 mil infectados já tiveram cura" e que "especialistas consideram alto o índice de cura".

Em outra reportagem, a jornalista Angélica Sattler entrevistou uma infectologista que ajudou a transmitir calma à população, como pediu Contreiras. A médica Fernanda Maffei disse aos telespectadores da Record para "não entrarem em pânico" caso contraiam a doença, porque "na maioria das vezes vai ser uma gripe leve".

A orientação do Jornalismo da Record também combina com a interpretação de seu dono, o bispo Edir Macedo, sobre a pandemia.

"Meu amigo e minha amiga, não se preocupe com o coronavírus. Porque essa é a tática, ou mais uma tática, de Satanás. Satanás trabalha com o medo, o pavor. Trabalha com a dúvida. E quando as pessoas ficam apavoradas, com medo, em dúvida, as pessoas ficam fracas, débeis e suscetíveis. Qualquer ventinho que tiver é uma pneumonia para elas", disse Macedo em um vídeo publicado no final de semana e retirado do ar ontem (16).

Emissora diz que faz cobertura equilibrada

Procurada, a Record afirmou que seu departamento de Jornalismo sempre faz recomendações como a do coronavírus.

"O Jornalismo da Record TV faz a cobertura equilibrada sobre o tema com intensa prestação de serviços e todas as informações necessárias para que o telespectador se proteja neste momento grave da pandemia que o mundo enfrenta. Como em qualquer cobertura similar, pedimos a todos que as informações sejam contextualizadas e que expliquem o que está acontecendo. Este é o compromisso do jornalismo", disse a emissora em nota enviada ao Notícias da TV.

Por meio do departamento de Comunicação da Record, Thiago Contreira enviou dois exemplos de que "SEMPRE" dá orientações à Redação por coberturas equilibradas.

Em um dos casos, a da cobertura da acusação de estupro contra o jogador Neymar, Contreira alertou que "devemos usar sempre o adjetivo 'suposto' quando falamos de crime ou de estupro". No outro exemplo, ele lembrou que "não noticiamos sequestros em andamento".

Essas duas normas são seguidas por quase todos os veículos responsáveis.


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