Análise
Reprodução/Globo
A estudante Thayane Tavares, que deu seu depoimento no Altas Horas de sábado (30)
CARLOS AMORIM
Publicado em 3/8/2016 - 5h17
No último sábado (30), o Altas Horas, programa de entretenimento da Globo, deu uma lição de humanidade, oferecendo ao público uma impressionante história de superação. Serginho Groisman entrevistou uma das sobreviventes do massacre na Escola Municipal Tasso da Silveira, no bairro de Realengo, zona norte do Rio de Janeiro. Na manhã de 7 de abril de 2011, um homem ensandecido, ex-aluno da instituição, invadiu o colégio e começou a atirar em quem via pela frente. Wellington Menezes de Oliveira, então com 23 anos, matou a tiros 12 jovens de 13 a 16 anos e deixou outros 13 feridos, alguns com sequelas para toda a vida.
A entrevistada do Altas Horas, Thayane Tavares Monteiro, foi uma das sobreviventes. Hoje com 18 anos, paralítica, é uma bela garota. Estudante de direito, tem lucidez acachapante. Ela descreveu o massacre com palavras simples, como se tivesse acontecido com outra pessoa. Comoveu a todos: plateia, apresentador e principalmente convidados do programa, entre eles Caetano Veloso, Ney Latorraca e Cleber Machado. Pela expressão no rosto deles, todos nós fomos levados a reviver o drama ocorrido na escola carioca que leva o nome de um poeta.
Thayane levou três tiros. "Queimaram a minha coluna e perdi o movimento das pernas imediatamente", ela contou. O próprio assassino, ao disparar, disse a ela: "Você vai morrer porque é muito bonitinha". Um ano depois do trauma, Thayane enfrentou seus pesadelos e liderou um movimento para reabrir a escola. Foi um momento desses que dignificam a televisão brasileira. Serginho concluiu dizendo que precisamos cuidar das escolas, dos professores e da segurança dos alunos. A brava garota concordou: "Esse é o foco". Ela foi aplaudida longamente _e de pé.
Altas Horas não é um programa jornalístico e deixou o público sem algumas informações. Quem era o assassino, Wellington, que acabou morto por um guarda de trânsito, o sargento da Polícia Militar Márcio Alves? Por que o crime foi cometido? O criminoso deixou uma carta de despedida e um vídeo gravado. Disse que estava se vingando do bullying que sofreu na escola, quando era menino. Em um país de pouca memória como o nosso, e em um mundo tão conturbado, é pena que a televisão não faça coisas assim mais vezes.
De todo modo, Serginho Groisman marcou um gol de placa.
CARLOS AMORIM é jornalista. Trabalhou na Globo, SBT, Manchete, SBT e Record. Ocupou cargos de chefia em quase todos os telejornais da Globo. Foi diretor-geral do Fantástico. Implantou o Domingo Espetacular (Record) e escreveu, produziu e dirigiu 56 teledocumentários. Ganhou o prêmio Jabuti, em 1994, pelo livro-reportagem Comando Vermelho - A História Secreta do Crime Organizado e, em 2011, pelo livro Assalto ao Poder. É autor de CV_PCC - A Irmandade do Crime. Criou a série 9 mm: São Paulo, da Fox. Site: www.carlosamorim.com
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