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Análise | Teledramaturgia

Irene Ravache é a cereja do bolo de Além do Tempo, que enfrenta novo desafio

João Miguel Júnior/TV Globo

Irene Ravache em Além do Tempo; na nova fase, atriz será uma mulher falida e orgulhosa - João Miguel Júnior/TV Globo

Irene Ravache em Além do Tempo; na nova fase, atriz será uma mulher falida e orgulhosa

RAPHAEL SCIRE

Publicado em 10/10/2015 - 6h00

O sobrenatural sempre encontrou eco na teledramaturgia brasileira. A julgar pelo barulho causado com Além do Tempo, a trama das seis da Globo, a temática parece estar longe de um esgotamento. Novela azarão, a história de Elizabeth Jhin parecia não ter muitos atrativos a não ser uma boa embalagem de época, sustentada por uma produção de arte primorosa. Mas, tão logo estreou, viu sua audiência crescer e se estabilizar. 

A rigor, Além do Tempo não apresentou absolutamente nada novo para o gênero, pelo contrário: não abriu mão de seus conhecidos clichês, mas fez bom uso da estrutura narrativa folhetinesca (ganchos fortes, vilões dissimulados x mocinhos ingênuos e dramalhão bem dosado).  Sim, a trama tem lá sua cota de sobrenatural com a presença de um anjo _Ariel (Michel Melamed)_ e seu mentor espiritual, Mestre (Othon Bastos), mas o que contribuiu para sua popularidade foi não ter fugido da receita pronta dos folhetins.

Elizabeth Jhin consolidou sua narrativa sem doutrinamentos, soube pontuar bem o humor do núcleo cômico, delineou mocinhos e vilões, criou as intrigas necessárias e agora sacode sua história de ponta-cabeça ao promover a segunda fase da trama. O recurso da virada é inédito na teledramaturgia, uma nova trama se desenha, o que movimenta, e muito, a novela, evita o seu embarrigamento e causa expectativa e curiosidade no público. 

A reviravolta que terá início na próxima semana. Requer da autora e da produção um cuidado extra: a segunda fase não poderá contar com a pompa e com os recursos folhetinescos que foram possíveis por causa de sua ambientação no século 19 (segredos de alcova, meios de comunicação precários que geraram mal-entendidos, diários escritos, por exemplo).

Marcados sobretudo pela trivialidade, os diálogos das cenas não devem perder essa característica, mas certamente a linguagem sofrerá ajustes. Além disso, a transição tem que ser muito bem trabalhada, uma vez que, apesar de os atores serem os mesmos, os núcleos sofrerão uma reconfiguração e isso pode causar estranheza no público.  

Sem qualquer tipo de caricatura, Irene Ravache, até agora, mostrou-se a cereja do bolo de um elenco que prima pela correção. A condessa Vitória que interpreta é a vilã, mas tem como ponto fraco a mocinha da história, Lívia (Alinne Moraes), por quem ela nutre um grande afeto e nem sequer imagina ser sua neta. Junto com Ana Beatriz Nogueira (Emília), Julia Lemmertz (Doroteia) e Nívea Maria (Zilda), Irene protagonizou grandes cenas. Na próxima fase sua personagem será vítima das duas mulheres que tanto humilhou.

O desafio de Além do Tempo nessa segunda fase é o de manter o padrão conquistado na primeira. Seu sucesso, entretanto, ao mesmo tempo em que alimentou a expectativa para o que viria a acontecer, aumentou a cobrança pela boa continuidade da história. 


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