Com triângulo gay, Amor à Vida ganha trama, mas perde Félix

Entre os noveleiros de plantão, não se fala em outra coisa: é forte a torcida para que o relacionamento de Niko (Thiago Fragoso) e Félix (Mateus Solano) realmente dê certo e o casal gay engate um final feliz. Antes o grande vilão da história, o personagem de Solano roubou a cena na novela de Walcyr Carrasco e, sem surpresa, praticamente carrega Amor à Vida sozinho nas costas.

Logo no primeiro capítulo, atraiu a atenção dos telespectadores pela crueldade de jogar uma bebê recém-nascida em uma caçamba de lixo. Suas frases cortantes, o humor ácido, os bordões religiosos, os trejeitos e a simpatia de seu intérprete garantiram a Félix comparações com a última grande malvada do horário nobre, a inesquecível Carminha (Adriana Esteves), de Avenida Brasil.

Félix conseguiu, ainda, colocar de escanteio a torcida pelo casal protagonista da história: os insossos Bruno (Malvino Salvador) e Paloma (Paolla Oliveira). Não se pode afirmar que os atores estejam ruins em seus respectivos papéis, pelo contrário. Fazem o que podem com um texto capenga, extremamente teatral e, por ora, piegas. A falta de uma trama forte entre os dois, com intrigas a separá-los, ajudou a minar a relação.

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E Félix, mais uma vez, ganhou destaque. Em todas as cenas de barraco da família Khoury, era ele quem ganhava os holofotes. A cada sequência, Felix tornava-se maior ainda _ponto para o talento de Solano. Foi desmascarado e o autor decidiu, então, que seria a hora de regenerar o personagem.

O vilão passou por um detox de bondade. Ficou caricato, foi parar na rua 25 de março, vendeu hot dog com uma flor na cabeça, comeu a salsicha que o diabo amassou e, assim, simplesmente, ficou bonzinho. A menos que Walcyr Carrasco nos reserve uma boa surpresa no final da novela, será difícil engolir uma transformação tão radical como essa. Amor à Vida perde, com isso, seu principal trunfo: um personagem, rico em possibilidades, que ficou plano.

Entretanto, é importante notar que Carrasco acertou ao investir na trama gay de Félix e Niko. Aliás, é nesse núcleo que Amor à Vida tem seu terreno mais sólido. Com diálogos um pouco mais críveis do que o do restante da novela, os gays dominaram a cena. Niko tornou-se o mocinho da história e é disputado por dois bonitões _Eron (Marcelo Antony), a outra ponta do triângulo, tem cada vez menos chances com ele. As telespectadoras torcem para que Niko seja feliz com a família que construiu e, principalmente, com Félix ao seu lado.

Um beijo gay seria um avanço e tanto, ainda mais em uma novela que dificilmente ficará marcada na memória coletiva, mas é um fato secundário. Amor à Vida, nesse terreno, foi bem mais longe. Discutiu com propriedade a adoção por homossexuais, a homofobia familiar e saiu da zona de conforto ao apostar em um casal gay como protagonista, ainda que para isso tenha tido que sacrificar seu vilão.

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