Análise | Teledramaturgia
Reprodução/TV Globo
Agatha Moreira e Reynaldo Gianecchini em cena de sexo na novela Verdades Secretas, da Globo
RAPHAEL SCIRE
Publicado em 22/8/2015 - 6h07
Destaque entre todas as novelas em exibição atualmente na Globo, Verdades Secretas, a trama das onze, dá mostras da versatilidade de Walcyr Carrasco para escrever para os diversos horários de folhetim da emissora. A história tem dinamismo, o que é inegável e conta a seu favor. Sem perder as rédeas da trama central, o autor dá espaço para que todos os núcleos tenham a chance de se desenvolverem.
Experiente em escrever para os mais diferentes públicos de novela, Carrasco trouxe elementos centrais de outros horários para Verdades Secretas, o que ajuda a sustentar a história principal e também explica o bom momento da trama.
Por exemplo: das novelas das seis, ele importou a ingenuidade exposta na história da paixão tardia e pueril de Oswaldo (Genésio de Barros) por Hilda (Ana Lucia Torre). Há momentos emocionantes entre os dois atores, embora os diálogos deixem um pouco a desejar.
Das sete, ele pescou uma das piores características: o histrionismo do núcleo cômico, em especial do afetado Visky. Sua trama destoa do restante do folhetim pelo tom acima em que é interpretada. Só falta guerra de comida na disputa de Visky e Lurdeca pela atenção do modelo Léo (Raphael Sander).
Já das nove, é possível detectar o peso do drama da dona de casa Carolina (Drica Moraes), envolvida no triângulo amoroso central entre sua filha Angel (Camila Queiroz) e o marido Alex (Rodrigo Lombardi). Drica e Lombardi protagonizaram uma cena importante nesta semana, com grande carga dramática, na qual Carolina pedia a separação a Alex e no fim acabava na cama com ele.
Diferentemente de sua última trama às nove, Amor à Vida (2013), desta vez Carrasco tentou amenizar um pouco o texto e, em vez de colocar os personagens falando sozinhos em cena, resolveu fazer com que eles expressassem seus pensamentos. É um recurso que traria profundidade aos personagens, mas para tal seria preciso dar um pouco mais de estofo a eles. A sorte é que o elenco é competente e passa segurança com suas expressões faciais _atenção especial para Marieta Severo (Fanny).
Por fim, aproveitando a liberdade que o horário das onze permite, o autor temperou sua história com inúmeras cenas de sexo e permitiu-se tocar em temas mais espinhosos, como prostituição e uso de drogas.
Carrasco também buscou na literatura fonte de inspiração para escrever sua história. Com claras referências ao fenômeno mundial Cinquenta Tons de Cinza, Verdades Secretas tem em Alex seu Christian Grey tupiniquim: o empresário nada romântico, com alta voltagem sexual, capaz de enlouquecer as mulheres na cama, ainda que não seja sadomasoquista como o protagonista do livro.
Há por fim uma alusão explícita ao romance Lolita, de Vladimir Nabokov. Cínico e obcecado pela filha de sua mulher, Alex é do tipo que faz tudo para conquistar Angel. Suas investidas na enteada instigam o público, além, é claro, de ter a seu favor a presença cênica de Lombardi.
A explicar o sucesso da novela, some-se a tudo isso a direção bem cuidada de Mauro Mendonça Filho. E é ai que Verdades Secretas se destaca: com a libido à flor da tela, a novela exala sexualidade e tem um quê de pornô soft bem embalado. O público se regozija com ela.
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