Análise | Teledramaturgia
Reprodução/Record
Cena de Os Dez Mandamentos, novela bíblica da Record, exibida na última terça-feira
RAPHAEL SCIRE
Publicado em 22/6/2016 - 11h25
Depois da travessia do Mar Vermelho, chegou a vez de a Terra se abrir em Os Dez Mandamentos, a novela bíblica da Record. Se na primeira temporada da história a direção primou pelos bons cuidados com os efeitos especiais, realizados em estúdios de Hollywood, agora a tosquice da computação gráfica falou mais alto. Na melhor das hipóteses, o resultado do capítulo exibido nesta terça-feira (21) foi parecido com o de curtas universitários feitos com baixíssimo orçamento. A sequência foi um festival de defeitos especiais.
Para começar, um "furacão" de fogo surge em uma tenda, mas só um ponto dela é queimado, como se houvesse uma chaminé que dissipasse as labaredas. Até aí, segue-se a máxima de Glória Perez, de que é preciso "voar" ao ver uma novela. Voando, o público é apresentado a outras sequências em estúdio, entrecortadas da principal para manter o mistério até o fim do capítulo.
Eis que Moisés (Guilherme Winter) profetiza: "Mas se Deus fizer acontecer alguma coisa fora do comum, se a Terra se abrir diante deles [os desertores liderados por Corá (Vitor Hugo)] e os engolir com tudo o que possuem, então saberão que estes homens desprezaram o Senhor". Instantes depois, a tenda em chamas cospe uma explosão de fogo para a esquerda do vídeo, e um terremoto parece tomar conta do local.
Reprodução/Record
Personagens caem na abertura da Terra em cena da novela Os Dez Mandamentos, da Record
A Terra começa a se abrir, personagens começam a cair (outros se jogam como se fosse uma piscina) e, assim como na abertura do Mar Vermelho, não houve economia de closes nos rostos dos atores, o que só intensificou o caráter rudimentar da caracterização das perucas e barbas (esvoaçantes) e a canastrice de parte do elenco. Com um pouco de esforço, dava até para ver a amígdala de alguns atores _verdade seja dita, Vitor Hugo segurou a onda e não resvalou no recurso barato da atuação baseada nas caras e bocas.
Mas a sequência em que o próprio Corá empurra a mulher, Bina (Kátia Moraes), morro abaixo foi marcada por um sério erro de continuidade: no plano em que apenas os rostos estão em evidência, Corá faz de tudo para se salvar segurando-se no barranco. Ao abrir o corte e a câmera captar a queda do personagem, do alto, é possível observar que a terra em que ele se segurava virou feno. Milagres instantâneos ou erros toscos mesmo?
Mais um plano aéreo, a Terra se parte de vez, outra explosão acontece e a sensação de que é sempre possível piorar aquilo que já está ruim só aumenta. Para completar, a labareda da tenda que não incendeia emite um raio de fogo que atinge outra parte da figuração. Explosões, corpos voando pelos ares, olhos lacrimejantes. O martírio não tem fim.
O uso da trilha sonora marcante e o recurso da câmera lenta para intensificar o drama daqueles que ousaram desafiar os poderes de Deus só resultaram em uma tentativa frustrada de desviar a atenção dos efeitos especiais, mas uma coisa é inegável: a cena foi um ótimo esquete cômico.
O resultado do capítulo da abertura da Terra não poderia ser outro: muito ruim.
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