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BETE MENDES

Vítima da ditadura, atriz de O Rei do Gado critica manifestações golpistas: 'Doloroso'

DIVULGAÇÃO/TV GLOBO

A atriz Bete Mendes como Donana em O Rei do Gado; ela está posando para a foto com o olhar fixo

Donana (Bete Mendes) em O Rei do Gado; atriz lamenta ações que pedem retorno da ditadura

ARTHUR PAZIN

arthurpazin@noticiasdatv.com

Publicado em 20/11/2022 - 8h25

Bete Mendes surgirá novamente ao público na segunda fase de O Rei do Gado (1996), que irá ao ar a partir da próxima semana na novela do Vale a Pena Ver de Novo da Globo. Longe da TV, a atriz, que foi vítima da Ditadura Militar (1964-1985), criticou as manifestações golpistas que têm acontecido contra os resultados das eleições presidenciais de outubro.

Na trama de Benedito Ruy Barbosa, Bete dá vida a Donana, mulher de Zé do Araguaia (Stênio Garcia). Os dois são funcionários e moradores da fazenda de Bruno Mezenga (Antonio Fagundes). Ao longo do folhetim, a simplória moradora do campo se torna uma grande aliada de Luana (Patricia Pillar), por quem terá um imenso carinho.

Em entrevista ao Notícias da TV, a consagrada artista relembra o sucesso da personagem e reflete que O Rei do Gado é uma novela que "falou para a alma brasileira". "Creio que ainda temos muitas 'Donanas' em nosso país, a mulher simples e forte, que defende sua fé, sua vida com o marido", analisa.

De acordo com ela, na trama, que está no ar em sua terceira reprise na faixa vespertina da Globo, Garcia e ela deram exemplos de "amor, trabalho e esperança". "Donana significou muito pra mim, fazer essa simples mulher do campo, lhe dar voz e ter uma resposta de grande parte dos telespectadores", diz.

Na história, um dos temas discutidos em volta da personagem é a reforma agrária. Segundo Bete, 26 anos depois da primeira exibição do folhetim, o assunto continua sendo essencial. "O MST [Movimento dos Trabalhadores Sem Terra] e o MPA [Movimento dos Pequenos Agricultores] são responsáveis por 70% dos alimentos que chegam à nossa mesa sem agrotóxicos".

Solidária a movimentos sociais, a atriz avalia que a reforma agrária traz ao campo solo produtivo, formação de agricultores e comida saudável, além de contribuir com o fim das queimadas. 

DIVULGAÇÃO/SELMY YASSUDA

Bete Mendes

Bete Mendes em foto deste ano

Ditadura Militar

Militante política nos chamados anos de chumbo, Bete lamenta a quantidade de pessoas que clamam, atualmente, por uma intervenção militar. "É terrível, doloroso, ver como cresceu em nossa sociedade este sentimento, ação neofascista", diz.

Bete confessa ficar abalada com esta realidade, principalmente vinda de jovens. A atriz associa esses episódios aos efeitos do governo de Jair Bolsonaro, que, segundo ela, contribuiu com a propagação de discurso de ódio, discriminação e racismo, por exemplo.

"Foram ativos estimulando o pior entre nossa gente", avalia a artista, que com a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva aposta em uma frente democrática de defesa da Constituição. "Teremos diálogo com o Executivo, o Legislativo e o Judiciário, nossa sociedade organizada e ativa estará presente", afirma.

Carreira

Nascida em Santos (SP) em 1949, Bete Mendes se formou em Artes Cênicas pela USP (Universidade de São Paulo). A atriz iniciou sua carreira artística no teatro em 1968, dirigida por Antunes Filho. Nas novelas, estreou na extinta TV Tupi (1950-1980), dando vida a Renata no sucesso Beto Rockfeller (1968)

Sua estreia na Globo aconteceu seis anos depois, quando protagonizou O Rebu (1974), novela policial de Bráulio Pedroso (1931-1990), lembrada historicamente por ambientar sua trama de 112 capítulos em apenas 24 horas.

De lá para cá, Bete interpretou diversos personagens na emissora carioca e também na Band, na Cultura, na Manchete (1983-1999) e no SBT. Entre os trabalhos mais recentes que marcaram a atriz na TV estão O Rei do Gado, A Casa das Sete Mulheres (2003), Caras e Bocas (2009) e Gabriela (2012).

O último folhetim de Bete foi Tempo de Amar (2017), novela das seis em que ela encarnou a religiosa Irmã Imaculada. Neste ano, a atriz gravou uma participação em Esta Noite Seremos Felizes, curta-metragem de Diego dos Anjos, em que ela contracenou pela primeira com Othon Bastos.

Ela também foi  homenageada no 29º Festival de Cinema de Vitória. Para 2023, Bete adianta que já trabalha com propostas para voltar ao cinema. "Logo estarei filmando de novo", diz. Na vida pessoal, a atriz já foi casada com o diretor Dennis Carvalho, entre 1970 e 1975.

DIVULGAÇÃO/TV GLOBO

Bete Mendes em O Rebu

Bete Mendes em O Rebu

Trajetória na política

Além de atriz, Bete Mendes também viveu uma trajetória na política. A artista foi uma das fundadoras do Partido dos Trabalhadores, pelo qual se elegeu deputada federal pela primeira vez em 1983. Dois anos depois, a então parlamentar integrou a comitiva presidencial de José Sarney (na ocasião pelo PMDB, atual MDB) em viagem ao Uruguai.

No país vizinho, Bete acabou se encontrando durante um compromisso com o coronel do Exército Carlos Alberto Brilhante Ustra (1932-2015), que segundo ela havia sido o responsável por suas torturas nos porões do DOI-Codi (Destacamento de Operações de Informação - Centro de Operações de Defesa Interna), órgão de repressão subordinado ao Exército durante a ditadura.

À época, a atriz escreveu uma carta ao presidente Sarney denunciando o ex-torturador: 

Não posso calar-me ante a constatação de uma realidade que reabriu em mim profunda e dolorosa ferida. Digo-o, presidente, com conhecimento de causa: fui torturada por ele. Imagine, pois, vossa excelência, o quanto foi difícil para manter a aparência tranquila e cordial exigida pelo cerimonial: pior que o fato de reconhecer meu antigo torturador, foi ter de suportá-lo seguidamente a justificar a violência cometida contra pessoas indefesas e de forma desumana e ilegal como sendo para cumprir ordens e levado pelas circunstâncias de um momento.

O episódio desencadeou uma discussão acerca da Lei da Anistia e provocou, ainda, o pedido do afastamento do militar do cargo que desempenhava na embaixada brasileira em Montevidéu, o que não aconteceu. Na ocasião, Bete usou a tribuna da Câmara para reafirmar as denúncias e se defender de acusações de "revanchismo".

Fui sequestrada, presa e torturada nas dependências do DOI-Codi do 2º Exército, onde o major Brilhante Ustra comandava sessões de choque elétrico, pau de arara, afogamento, além do tradicional 'amaciamento' na base dos 'simples' tapas, alternado com tortura psicológica. Tive sorte, reconheço, senhor ministro: depois de tudo, fui julgada e considerada inocente em todas as instâncias da Justiça Militar, que, por isso, me absolveu; e aqueles inocentes, como eu, cujos corpos eu vi, e que estão nas listas de desaparecidos?

Bete foi reeleita deputada em 1987, pelo PMDB, tendo participado da Constituinte daquele ano. Fora da Câmara, ela também atuou como secretária estadual de Cultura de São Paulo, entre 1987 e 1988. A atriz foi também presidente da Funarj (Fundação de Artes do Estado do Rio de Janeiro), em 1999, durante a gestão do ex-governador Anthony Garotinho (à época no PSB).

DIVULGAÇÃO/CÂMARA DOS DEPUTADOS

Bete Mendes nos anos 1980

Bete Mendes foi deputada nos anos 1980


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