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Alhos e bugalhos

Trono pobre e R$ 235 milhões separam A Terra Prometida de Game of Thrones

Montagem/Divulgação/Record/HBO

A atriz Juliana Silveira (à esq.) em A Terra Prometida e Emilia Clarke em GoT; são parecidas?  - Montagem/Divulgação/Record/HBO

A atriz Juliana Silveira (à esq.) em A Terra Prometida e Emilia Clarke em GoT; são parecidas?

JOÃO DA PAZ

Publicado em 13/7/2016 - 6h18

Recebida pelo público como a Game of Thrones brasileira, a nova novela da Record, A Terra Prometida, passa longe da série da HBO. O autor da trama, Renato Modesto, admite que se inspirou na saga dos Sete Reinos e colocou na produção uma sala que lembra a do Trono de Ferro, mas com um assento cenograficamente pobre, e uma rainha chamada de Kalesi, o que remete a Daenerys Targaryen (Emilia Clarke), além de batalhas épicas e um bordel festivo. As comparações, no entanto, param por aí. Há uma distância de R$ 235 milhões entre A Terra Prometida e atual vencedora do Emmy, o Oscar da TV. Confira as semelhanças (e diferenças):

reprodução/divulgação/Record/universal pictures

Juliana Silveira (à esq.) em Terra Prometida e Charlize Theron no filme da Branca de Neve

Kalesi fake

Um dos principais pontos de comparação entre A Terra Prometida e Game of Thrones é a personagem Kalesi (Juliana Silveira). O nome lembra khaleesi, um dos títulos de Daenerys Targaryen (Emilia Clarke). A Kalesi brasileira, assim como Daenerys, é conhecida por outros nomes, como Senhora das Luzes e da Sombra, Senhora das Serpentes e Senhora da Escuridão. Daenerys é chamada de Mãe dos Dragões, Nascida da Tormenta, Rainha da Prata, Filha da Morte, A Não Queimada, entre outros.

Mas as similaridades são só essas. Kalesi é uma vilã caricata e nada carismática, ao contrário de Daenerys. Casada com o rei de Jericó, Marek (Igor Rickli), a rainha usa sua crueldade para ter alguma influência no reinado. Em comparação aos personagens de GoT, ela tem mais semelhanças com Cersei Lannister (Lena Headey): as duas se equivalem na manipulação. Além disso, rainha por rainha, Kalesi lembra mais a madrasta da Branca de Neve, interpretada por Charlize Theron no filme Branca de Neve e o Caçador, de 2012.

reprodução/Record/hbo

Cavaleiros multiplicados na pós-produção de Terra Prometida (à esq.) e em Game of Thrones

Custo incomparável

Chega a ser covardia comparar o custo das atrações, mas essa questão deixa claro o abismo entre as produções. Cada capítulo de A Terra Prometida custa para a Record R$ 700 mil. Como está prevista para ter 150 capítulos, o valor final da produção deve chegar aos R$ 105 milhões. Já em Game of Thrones, cada episódio da sexta temporada, encerrada no mês passado, custou R$ 34 milhões para a HBO. Ou seja: três episódios de Game of Thrones pagariam toda a novela da Record. Uma única temporada de Game of Thrones custa R$ 235 milhões a mais do que a novela de Edir Macedo.

A Terra Prometida exibirá cenas feitas fora do Brasil, o que eleva o custo da obra. Parte do elenco da novela, juntamente com cem profissionais, esteve em Angola para gravar no deserto do Namibe e em Luanda, capital do país. Enquanto isso, Game of Thrones tem locações em várias partes da Europa, como na Irlanda do Norte, Espanha e Croácia, e também no continente africano, em Marrocos.

reprodução/record/hbo

Bordel em A Terra Prometida (à esq.) não tem nudez, bem diferente do apresentado em GoT

Bordel gospel

Em A Terra Prometida, inspirada na história do personagem bíblico Josué (Sidney Sampaio), há uma figura peculiar com papel crucial: a prostituta Raabe (Miriam Freeland). De acordo com a Bíblia, ela ajudou dois espias enviados por Josué a Jericó e os protegeu dos capangas do rei. Josué se lembrou de Raabe quando invadiu a cidade, e poupou sua vida. Na tradição cristã, Raabe é considerada uma heroína da fé.

A novela conta mais detalhes da vida de Raabe. Ela trabalha em um bordel e, muito bem vestida, dança e sensualiza para os clientes. Game of Thrones também tem seu bordel, mas lá a nudez é livre e exibida sem pudor, algo inimaginável para a Record, emissora capitaneada por uma igreja evangélica. O jeito foi fazer um bordel gospel.

reprodução/record/hbo

Palácio da novela (à esq.) se assemelha um pouco ao cenário da série Game of Thrones

Jericó e King’s Landing

Em A Terra Prometida, quando o núcleo de Jericó é apresentado, pode-se observar uma leve semelhança com Game of Thrones. Todo o salão no qual o rei Marek ostenta seu nada suntuoso trono lembra um pouco o Great Hall de Game of Thrones, onde fica o imponente e cobiçado Trono de Ferro. Para quem assistiu a Game of Thrones ao menos uma vez, é praticamente impossível olhar o salão de Jericó e não lembrar da série _desde que desconte a pobreza da cenografia da produção nacional.

Outro detalhe do palácio que se assemelha ao Red Keep, casa da família real de King's Landing, principal cidade de Game of Thrones, são as áreas externas e as bandeiras por lá expostas. Ruas estreitas e vielas estão presentes nos dois locais. Assim como na produção da HBO, o palácio de Jericó tem bandeiras para mostrar quem manda no local. No caso, o pavilhão exibe uma serpente branca estampada em um pano quadriculado com as cores azul e amarelo.

Crédito

O ator Leonardo Franco na novela Terra Prometida (à esq.) e na série Preamar (2012), da HBO

Ex-HBO

Há um fator que, sem dúvida, aproxima a Record da HBO: ter no elenco de A Terra Prometida um ator que já trabalhou no canal pago. Leonardo Franco, que viveu o empresário João Ricardo Velasco na série Preamar (2012), é um dos protagonistas da novela, na pele de Tibar. Ele é o principal vilão de Jericó, chefe do exército da cidade e braço-direito do rei Marek.

O curioso é que, em Preamar, Franco contracenou com uma atriz que teve destaque em Os Dez Mandamentos, antecessora de A Terra Prometida. Jessika Alves viveu Manu, filha de Velasco na produção da HBO. Na Record, a atriz fez a versão mais jovem de Noemi. Envelhecida, a personagem também está em A Terra Prometida, interpretada por Nívea Stelmann.


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